Aviso: capítulo com palavras chulas (de baixo calão) e violência.
— Como assim você não é homem Harry? — Louis gritou — Como assim? Você mutilou seu pênis, foi isso? Quer ter uma buceta!?!
Ele gritava, gritava e gritava. E aqueles gritos ecoavam na minha mente como uma tortura. Seria mesmo errado eu não me reconhecer como homem e como mulher? Seria eu um pecado ambulante? Um pré-destinado ao inferno? Peguei meu casaco, a chave do meu carro, minha carteira e meu celular, guardando-os no bolso e tentando ignorar os gritos de Louis.
— Já chega — sussurei, inaudível, afinal Louis berrava como se fosse o fim do mundo — Não me espere pra jantar.
Fui caminhando até a porta e saí de casa, não aguentava mais pedir pras amigas da minha filha deixarem-na posar na casa delas, só para ela não ter que ouvir os gritos de Louis.
Segui até um hotel barato que havia ali perto, pedi um quarto, e rapidamente eles me deram a chave e o número do quarto. Não era um hotel cinco estrelas, nem meu (ex) lar, mas está ótimo. Não conseguia dormir, pelo menos até meia noite e pouco, quando, acordei subitamente (ou nem tanto). Eu queria saber como Louis não entendia, já que superamos juntos o preconceito da família dele.
— Meu filho nunca foi gay! Afinal, não tenho filhos — a mãe de Louis falou, assim que ele falou a frase "eu sou gay" — e não conte à seu pai, não quero que o único "filho" dele o dê esse desgosto.
— Louis, vamos, amor. Você só vai sofrer se ficar aqui — falei em seu ouvido enquanto ele me abraçava forte, chorando baixinho.
— MEU FILHO É O AMOR DA VIDA DE UMA MULHER, NÃO DE UM HOMEM, ISSO É PECADO! — a dona berrou quando eu falei "amor".
— Se for pecado amar, vamos para o inferno, aposto que o tio Lu ama o amor. — disse, já não aguentava os insultos da mais velha.
Peguei Louis no colo e o coloquei dentro do carro, com ele ainda chorando de angústia e medo. Passei a mão pelos cabelos dele, e ele foi cessando o choro. Vez ou outra tremia e soluçava, mas tinha o olhar tristonho e perdido demais, tanto que nem notou quando chegamos em seu apartamento.
— Desculpa Harry. — ele disse baixinho, minutos depois de termos chegado.
— Desculpa pelo que amor? — indaguei, desentendido
— Fazer você passar por isso, com minha mãe. Eu devia ter ido sozinho, ter te poupado do trabalho de me carregar e me trazer até aqui — disse choroso.
Abraço ele, sem muito aviso. Ele se assusta um pouco, mas vai se aconchegando em meus braços de pouco em pouco — Não precisa pedir desculpas, bebê. Você não tem culpa de ser do jeitinho que é, meu jeitinho favorito. Se sua mãe não gosta, você não pode fazer nada, mas hora ou outra ela vai ter que respeitar.
E ele chorou. Chorou e chorou a noite inteira, em meus braços. Não dormi daquelas 3 da tarde até, pelo menos, umas 2 da madrugada. Dizia que não queria dar desgosto à sua família, mas ele não tinha como mudar esse erro.
— Bebê — o chamei, com carinho — não há erro nenhum em ser desse jeito. Nunca vai ser motivo de desgosto pra ninguém.
—Para minha mãe, pelo jeito sim.
Em meio a essas lembranças adormeci, no aconchegante quarto de hotel, tentando não lembrar da discussão de mais cedo.
