Capítulo seis - Algumas respostas

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      - Então, eu estava voltando da festa sozinha, quando um cara apareceu e quase pulou em cima de mim para me bater. Até que esse aí apareceu e ... Me ajudou.

      -Não há de que - respondeu Rafael.
Virei os olhos e continuei

      -Em fim, agora ele quer que eu acredite que aquele era o... vocês sabem quem, e ele é o Anjo Rafael.

      -Filha... é verdade.

      -Puff - ri - Está bem, já chega.
Todos estavam sérios, não havia vestígio sequer de brincadeira.

      - Sinto muito, mas é a verdade - concluiu meu pai.
Fiquei quieta, calada. Apenas esperando por palavras mais concretas. Estava me sentindo dentro de uma fantasia, mas fazia ainda menos sentido.

      -Passamos esses anos tentando encontrar uma maneira de te contar... Eu só peço que tente entender. Tudo o que fizemos até hoje foi para o seu bem.

      -Para o meu bem? - questionei - Vão direto ao ponto - pedi.

      -Certa vez, Deus mandou seu filho unigênito para que morresse pelos homens livrando-os de seus pecados - disse o meu pai.

      -Dessa vez ele mandou um anjo - minha mãe começou a falar. - Não para morrer pelos homens, mas para dar a eles uma nova chance, mais uma chance.

      - Chance de que?

      - De rever suas ações, suas atitudes - Completou Rafael - Uma chance de perdão. Um recomeço.

Me levantei, pus as mãos na cintura e fitei o chão
      - Quem é Belinda? - perguntei
  
      - Você é Belinda. Esse é seu verdadeiro nome - revelou meu pai levantando-se  também.

      - Colocamos Alexa para despistar o inimigo pelo menos até você chegar a idade certa.

      - Está bem, está bem - me sentei novamente - Eu tenho três teorias sobre vocês. Bom... 1) Ou vocês são muito bons em inventar histórias, 2) as regras no céu mudaram, ou 3) eu sou adotada e a verdadeira filha de vocês está num cruzeiro no Caribe. - comecei a rir. Eles se entreolharam e meu sorriso desapareceu.

      - Gente... Foi uma piada - continuaram sérios. - Vocês... - por um instante senti meu chão ceder - não são meus pais?

      - Nós amamos você, você sabe que sim - nesse momento tudo desmoronou. - Pode não ser nossa filha biológica, mas nós criamos você.

      -Chega de brincadeira - me levantei mais uma vez. - Agora é sério mesmo. Não tem nenhuma graça.

      - Seria mais fácil se fosse apenas uma brincadeira, mas não é - Rafael olhou para mim. Por alguns segundos, seus olhos azuis se tornaram familiares para mim, mas a sensação logo se dissipou com o impacto da revelação.

      -Não são meus pais! - as lágrimas começaram a surgir. Raiva, tristeza, me sentia traída.

      -Lexi, por favor tente entender...

      -Não! - interrompi o meu pai. - mentiram para mim. Toda a minha vida é uma mentira! Primeiro dizem que sou um anjo, e agora eu descubro que não são meus pais!? Não dá para perdoar...Eu. ..

      - Filha, não importa o sangue, nós somos os seus pais - meu pai, ou... Uziel, justificou.

      - Nós vamos vencer tudo isso, só precisamos nos manter juntos, unidos, como sempre estivemos. - completou ela, seus olhos brilhavam e ela forçou um sorriso segurando firme as lágrimas para que não caíssem.
Balancei a cabeça fitando-os incrédula, chorando - Estão todos loucos!

 
    Saí de casa. Ao bater a porta ouvi chamarem meu nome - Alexa, esse é o meu nome - mas ignorei.

Peguei um táxi na mesma rua do dia da festa. Me sentei próxima a janela fitando a paisagem e poucos minutos depois:

      - A senhorita está se sentindo bem? -perguntou o motorista. Provavelmente ele percebeu as lágrimas que ainda escorriam em meu rosto.

      - Já estive melhor - o fitei pelo retrovisor.

      - Bom, com tantas coisas ruins acontecendo no mundo, me pergunto... será que é tão ruim assim o que está acontecendo com a senhorita? Não que eu esteja te julgando, perdão se soou ofensivo - e não soou, pensei -.

      -É... Acho que tem razão. O que eu tenho não se compara a tudo de ruim que acontece lá fora. Mas dói assim mesmo.

      - Entendo - assentiu. Ele era um homem negro, cabelos curtos e grisalhos. Seu olhos castanhos eram expressivos e brilhavam através do retrovisor.

      - Meus pais não são meu pais. E eles me contaram isso da maneira mais louca e improvável possível - limpei as lágrimas com uma das mãos.

      -Eu sinto muito.

      - Tudo bem.. Mas agora eu não sei o que fazer. Não tínhamos segredos, mas agora...Eu não entendo - logo percebi que acabei falando muito mais do que devia a um desconhecido - Desculpa. Minha cabeça está cheia de mais.

      - Não tem problema -  disse.

O que eu devo fazer? - perguntei para mim mesma em baixo tom de voz, fitando o céu através da janela do carro.

      - Talvez, - ele começou a falar - seja necessária certa paciência para entender. E talvez, dar uma volta ao passado e rever as coisas. O perdão é uma arma poderosa e talvez você devesse dar uma chance a isso tudo.

Suspirei por alguns segundos, absorvi as palavras dele e bom...

      - Talvez.

    Minutos depois chegamos ao apartamento da Mack. O motorista não aceitou o pagamento, disse que era por sua conta - o que foi muito gentil de sua parte - e quando caminhei em direção a portaria me detive, e me dei conta de que não eu havia dito ao mesmo o lugar aonde eu queira ir. Ele simplesmente me deixou no lugar certo. Olhei para trás mas o táxi já não estava lá.
Quem era ele? Porque me aconselhou? E como ele sabia o meu destino se eu não havia dito a ele?
Mais perguntas. Mais dúvidas.
Pelo menos de algumas eu tinha a resposta, mas será que eram suficientes?

Belinda (Reescrevendo)Where stories live. Discover now