Capítulo 1 - Lego House

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Caroline's POV

  Vermelho.

  Era quase como se estivessem pintados, mas de dentro pra fora. Como se a cor preenchesse cada célula, desde o interior, até a superfície macia daqueles lábios deliciosos. Muitas vezes me pergunto como alguém tão cruel pode ter uma boca tão delicada. Provavelmente vou conseguir responder a essa e a várias outras perguntas, quando o demônio que possuiu minha mente abandonar esse corpo e me permitir ser novamente Caroline. Caroline, a chata, a loira, a irritante, a hipócrita, a... eu. Uma última olhada para aqueles lábios e vou embora. Juro que vou! A quem estou enganando? Já estou com Klaus há mais de três meses e todas as vezes que nos encontramos, eu prometo a mim mesma que será a última vez. E nunca é. Minha alma está podre de promessas por cumprir. Minha alma está podre porque estou com ele. Vampiros têm alma? Se tiverem, eu tinha, até encontrar Klaus.

  Ele está acordado. Seus olhos ainda estão fechados, naquele leve abraço que os cílios proporcionam, mas meu corpo está em alerta. Eu sempre sei quando ele está acordado, meu corpo sempre sabe. Talvez seja exagero, mas eu sinto que eu sei que ele acordou, segundos antes dele realmente acordar. Essa sintonia me encanta, me petrifica, me assusta e me destrói. É como se nós fôssemos feitos um para o outro, como dizem nos contos de amor. Mas como você pode ser feita para alguém que não respeita a vida? Que não respeita a morte? Como você pode estar destinada a alguém, cujas memórias são banhadas de sangue, enganos e desenganos? Como você pode ser a metade de algo que nunca será inteiro? Desde a primeira vez que olhei para ele, eu soube que o sentimento que me transmite através de tudo que faz e de tudo que me diz, não tem precedentes. E que eu nunca poderia, simplesmente, explicar a alguém como me sinto relação a isso. É como se o mundo girando lá fora, a milhares de quilômetros por hora, fosse pouco para me fazer parar. É como se o sol gritante não me iluminasse o suficiente. É como se esse anjo, com alma de demônio, fosse a minha gravidade. Aquilo que me mantém no eixo, que me permite estar em equilíbrio com todo o resto a minha volta. É como se eu nunca tivesse o suficiente e, ao mesmo tempo, estivesse sempre cheia, transbordando.

  Eu tenho que ir embora enquanto ainda é tempo. Enquanto minha mente não está totalmente tomada, como o meu corpo ou como a minha alma, da qual duvido da existência. Eu tenho que parar antes de me perder totalmente e nunca mais achar o caminho de volta.

 Klaus significa problemas.

 E eu nunca serei solução.

 Não o suficiente.


Klaus's POV

  Eu sabia que ela já tinha acordado e estava me observando. Não que ela tivesse se mexido, mas era como se a mente dela estivesse em movimentos tão intensos, que tivessem me despertado. Eu podia sentir os olhos dela em mim e isso me assustava às vezes. Eu sempre sabia quando Caroline me olhava, mesmo que ninguém mais visse, não importa onde ou em que posição eu estivesse. Sim, eu disse que isso me assusta. Meu irmão riria se me ouvisse falar que algo me assustava. Mas eu acho que tudo na minha conexão com ela me assusta. Sim, eu prefiro chamar isso de conexão. Meu irmão nunca vai saber dessa minha fraqueza, de me assustar com algo, porque esse é o nosso segredo sujo. Não que eu tenha medo do que os outros dirão, mas porque essas são as regras dela: exibir a imagem de uma garota politicamente correta, que não dorme com híbridos homicidas de famílias desajustadas. Sim, essa é Caroline, para Elena, Bonnie, Liz, para Mystic Falls. Mas a que está aqui, deitada na cama, fazendo meu corpo responder a sua análise detalhada da minha anatomia, sem que nem mesmo eu esteja vendo o seu olhar, essa é simplesmente "a minha garota". Mas qual das duas é a verdadeira? Eu não quero pensar nisso agora, eu tenho coisas mais interessantes para pensar sobre ela no momento.


Caroline's POV

– Você parece tão distante, mesmo estando aqui do meu lado - ele disse isso sem se mexer e ainda sem abrir os olhos.

Eu tinha quase a certeza de que ele conseguia ler meus pensamentos ou algo assim e isso me deixava terrivelmente tensa. Principalmente quando ele falava assim, baixinho, rouco, e com aquele sotaque que me fazia esquecer da morte.

Ele abriu os olhos - lindos, diga-se de passagem - e ficou me encarando, esperando que eu dissesse alguma coisa. Eu ri quando a sobrancelha esquerda dele se elevou, demonstrando o primeiro sinal de impaciência. Ele é assim. Quer tudo, de todas as formas, e pra ontem.

– O que foi? Eu não vou te dizer no que estou pensando. É pessoal! – eu disse na defensiva e mudei de posição na cama.

– Eu poderia te obrigar.

– Poderia, mas não fará – ele deslizou o corpo rapidamente, ficando em cima de mim.

– Eu sou excluído da sua vida social, do seu mundo cor-de rosa e agora também dos seus pensamentos enquanto está comigo, me olhando desse jeito?

– Eu também não faço parte da sua vida social e do seu mundo escarlate.

Ele pareceu enrijecer em cima de mim, mas não da maneira que eu queria. Eu queria poder desviar os olhos e não perceber aquele olhar frio que veio junto com as palavras dele.

– Isso é uma opção sua, love.

Ele levantou, ignorando a minha cara de emburrada e começou a se vestir.

– Aonde você vai tão cedo? – perguntei, num tom mais alto do que seria de se esperar de alguém que não se importa.

– Eu tenho um império para governar – ele disse, quase fazendo pouco caso da minha presença.

Senti o ódio preencher cada célula do meu corpo. Quem devia estar indo embora e nunca mais colocar meus pés ali era eu.

– Eu não quero saber do seu império, do seu poder, das pessoas que lambem o chão que você pisa – eu disse já irritada, me levantando de supetão e caminhando em direção ao banheiro.

– Deveria, eles serão seus também se você ficar.

Com a proposta implícita naquela frase quase cruel, ele me deixou ali sozinha. Meus pés pareciam extensões das pedras antigas que revestiam o piso onde eu estava fixa, como uma árvore anciã. O chão frio combinando com meu cérebro gelado. Algo dentro de mim deixou de funcionar.


Klaus's POV

  Eu odiava quando isso acontecia. Quando tinha algo para fazer com ela que não era brigar e ela acabava levando as coisas para esse nível, para os nossos "assuntos que não devem ser abordados". Quem começou dessa vez com isso? Eu não sabia se tinha sido eu ou ela. Mas a verdade é que eu deixei o quarto rapidamente antes que eu falasse: "Ok, vamos resolver isso de uma vez por todas. Largamos tudo que temos e vamos viver nossas vidas". Mas eu sabia que as coisas não eram tão simples. Nada era simples para mim. Nada era simples com Caroline. Nós somos uma combinação letal. Eu sabia que ela não ia ficar, sabia que ela não estaria lá me esperando quando eu voltasse. Mas algo dentro de mim também sabia que mais cedo ou mais tarde - e ultimamente vinha sendo cada vez mais cedo - nós estaríamos juntos de novo para seguir com o nosso segredo sujo. O que eu precisava fazer agora era ocupar o meu tempo com algo que não fosse pensar nela. 



Revisão : Thais Pereira. 

Red Ice - fanfic KlarolineWhere stories live. Discover now