TALVEZ O DIABO SEJA UMA MULHER - CAPÍTULO 02

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Acordei com o barulho irritante de uma música alta vindo da casa vizinha. Tentei cobrir os meus ouvidos para barrar os ruídos gritantes, mas fora em vão. Aquela diaba não tinha outra hora para fazer aquilo?

Levantei-me irritada, bufando e batendo o pé com força contra o piso. Quem ela pensava que era para atrapalhar tão repentinamente o meu sono? Quem ela era para fazer aquilo?

Vadia me encarou de longe. Eu provavelmente estava com a pior cara de todas. Rumei até ela, peguei-a no colo e a levei até a biblioteca, no porão; lá ela estaria protegida daquela barulheira infernal.

- Fique aí, querida. - pedi, mesmo sabendo que ela não entenderia os meus motivos. - Selarei nossa honra diante daquela burguesa safada. - Murmurei brevemente, e o tom dramático de minha voz reverberou pelo cômodo enquanto eu fazia a minha saída triunfal.

Já na sala, busquei o meu celular na prateleira da televisão, pluguei-o na caixa de som e fiz com que ali tocasse a música mais alta que eu conhecia. BYOB. Mas, infelizmente, nem mesmo abrindo todas as minhas janelas e portas eu conseguia superar o som da vizinha.

Do outro lado, percebia que a diaba sorria de mim e de minha tentativa frustrada. Ela tinha os olhos achocolatados mais lindos que ja vi; só que isso não vinha ao caso.

Seus lábios, cobertos por uma bela camada de batom avermelhado, curvaram-se ainda mais para lançar-me um sorriso debochado e suas bochechas saltavam quase forçando os olhos a fecharem-se. Aquilo seria lindo de se observar e eu certamente o faria sem pestanejar, mas estava enfesada demais para tal.

Decidi que ligar para a polícia e registrar uma ocorrência era o melhor que eu poderia fazer ali. E foi o que fiz. Sai da janela, desliguei tudo, liguei para a central de atendimentos, fiz minha queixa e, logo em seguida, voltei para a janela, sorrindo tão abertamente quando a mulher do outro lado me sorria.

Acenei em sua direção. E sete minutos depois, quando as sirenes soaram e ela percebeu o que eu havia feito, suspirei.

"Vou matar você" - ela ameaçou em um mover de lábios mudo e a música finalmente parou.

Eu estaria mentindo se dissesse que aquilo não me amedrontava. Afinal, ela era o diabo e eu certamente iria de tobogã para o inferno.

Convenhamos, nunca fui nenhuma santa.

Mas, tirando esse pequeno fato, eu estava feliz em ter o meu doce silêncio de volta. Mesmo com os ouvidos ainda zumbindo e a cabeça latejando.

Todavia, a diaba tinha mais cartas na manga do que eu imaginava e não demorou muito para que a barulheira voltasse ainda mais alta e imponente que antes. E dessa vez, com a polícia ainda no pé da porta dela.

- Atrevida! - resmunguei, assistindo-a despedir-se dos oficiais com acenos e sorrisos.

Ela me encarou mais uma vez. Eu sentia seus olhos queimando sob mim, como as brasas do próprio inferno, e me benzia em resposta.

Nunca fui lá a mais cristã das mulheres, nem tampouco a mais devota de seja lá quem comandava o universo. Mas se tinha uma coisa que não custava nada na vida... essa coisa era tentar. E eu tentei. Tentei com todas as minhas forças me apegar a qualquer Deus naquela hora, porque arrumei confusão com quem não deveria e estava arrependida.

Minha coragem foi por terra. E enquanto a mulher de longos cabelos pretos caminhava em minha direção, eu me perguntava por qual motivo tinha dado início àquela pequena briga.

O pior e mais vergonhoso de tudo era que, enquanto ela estava vestida com as melhores roupas possíveis, com direito salto alto e tudo mais, e estava coberta apenas pelo meu roupão da Minie, rosado e surrado. Okay, era verdade que eu tinha outras várias roupas melhores que aquela para dormir, mas aquele roupão... Bom, o valor sentimental dele era imenso. Inegável!

❝O diabo mora ao lado ➳ Semi❞Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt