Capítulo 13

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Algum tempo depois, após iniciarem a arrumação das malas, Clarissa percebeu, através dos vidros da janela do quarto, que outra nuvem negra começava a cobrir o céu, tornando tudo escuro e frio. Aquela chuva outra vez não, pensou ela, com esperança. Contudo, o pedido dela não se concretizou. Pelo contrário, a força dos pingos que caíam contra a janela chamou a atenção de Trevor, que virou a cabeça para verificar.

- Isso só pode ser uma brincadeira! De novo essa chuva? – Reclamou ele, indignado.

- E parece que está longe de terminar. Olhe as nuvens escurecendo o céu. – Pediu Clarissa, apontando para o lado externo da janela.

- Mais quanto tempo teremos de ficar presos aqui? – Trevor suspirou longa e sofregamente. – Além disso, agora lembrei que não temos gasolina, nem para sair daqui.

- Parece que tudo está ao nosso desfavor. Teremos de ficar aqui mais uma noite, pelo jeito.

- Eu até poderia pedir para o meu piloto nos buscar de jato, mas não o recomendaria pousar nessas condições, além de não haver lugar para pousar aqui.

- Tem razão. Poderia haver um acidente muito sério.

- Já que não temos o que fazer, poderíamos conversar, não? – Convidou Trevor.

- Claro! – Ela sorriu e fixou o olhar nos olhos azuis dela, os mesmos que um dia ela se apaixonou, quando ele foi a Volterra, pela primeira vez, naquele orfanato.

- Por que gosta tanto de cozinhar? Acredito que nunca a questionei antes acerca disso.

Ela se sentou na cama de solteiro, ao lado dele.

- Eu não sei, talvez esteja no meu sangue. Eu não dizer se minha mãe gostava de cozinhar, mas talvez meu pai, que é desconhecido, gostasse, ou gosta, se ele estiver vivo.

- Você cozinha por paixão desde criança? – Quis saber Trevor.

- Sim. Sempre ajudava as cozinheiras do orfanato e queria saber os temperos, condimentos e ingredientes que elas usavam nas receitas.

- Muito legal. Eu nunca experimentei uma comida sua, mas você deve ter talento. Qualquer hora dessas, poderia cozinhar para mim. – Brincou ele, dando uma piscadela a ela.

Um simples ato dele e o coração dela saltou no peito. Ele jamais poderia saber que ela o amava, do contrário, a desprezaria e nunca mais gostaria de saber dela. As mãos de Clarissa começaram a tremer e ele não poderia perceber, devido à intensidade dos seus sentimentos por ele. Os dois permaneceram se encarando, com o ambiente ficando tenso e com a energia sexual crepitando entre eles, fazendo com que a pele de Clarissa se arrepiasse.

De repente, ela apenas percebeu a boca máscula de Trevor sobre a sua, que a subjugava e a sua língua habilidosa, que a forçou a abrir os lábios para ele. Uma das mãos grandes dele alcançou seu pescoço e acariciaram a base dele, espalhando desejo pelo corpo dela. Ele avançou mais o beijo e Clarissa percebeu a paixão que há tempos eles queriam libertar. No entanto, ali não era o momento, nem a hora.

Ela o afastou e ao desejo não satisfeito estava visível nos olhos de ambos. Trevor a fitou sem entender.

- Não podemos, Trevor. Aqui não. – Alertou ela.

- Mas... – Protestou ele.

- Estamos presos aqui. Aqui não é a minha, nem a sua casa.

Trevor correu a mão pelos cabelos desalinhados, sem jeito.

- Tem razão, Clarissa. Desculpe-me.

Ela sorriu e assentiu com a cabeça.

A chuva continuava batendo contra a janela. O dia estava passando rápido e ela parecia aumentar cada vez mais, para a agonia de Trevor e Clarissa. Eles passaram o dia conversando e à noite, Consuelo bateu na porta e pediu para que eles descessem para o jantar. Os dois desceram as escadas e foram até a sala de jantar, e Clarissa se prontificou a ajudar Consuelo com a comida.

A dona da casa abriu os armários e Clarissa percebeu que estavam cheios de comida. Ela ajudou nos toques finais da comida, colocando temperos nas panelas e lavando a louça quando Consuelo precisava. Quando tudo estava pronto, os quatro se sentaram à mesa e se deliciaram da comida de dona Consuela, uma exímia cozinheira e da ajudante, Clarissa.

Entre as conversas, o casal de idosos comentou acerca das tradições da região espanhola de Toledo, onde estavam e sobre o orgulho que tinham da filha, que estava estudando Arquitetura e Urbanismo na Universidad Castilla-La Mancha. Ainda, Clarissa, questionou a Consuelo se ela poderia lhe passar a receita daquela refeição deliciosa.

Consuelo sorriu e anotou em uma folha de papel os ingredientes e o modo de preparo. Ela agradeceu e ela pediu se poderia usar na inscrição do concurso de gastronomia. Consuelo a autorizou e ficou feliz em poder ajudá-la. Mais tarde, Clarissa e Trevor tiveram de dividir novamente a mesma cama de solteiro, enquanto resistiam ao desejo de se entregarem um ao outro.

NO OUTRO DIA, como um passe de mágica, a chuva desapareceu e o céu se tornou limpo. Trevor levantou e cutucou Clarissa, para que ela acordasse também. Os seus belos olhos azuis se abriram e ela se levantou ficando sentada, apoiada na cabeceira.

- Bom dia, Trevor.

- Bom dia. O tempo melhorou e podemos seguir viagem.

- Que ótimo. – Ela sorriu. – Vou tomar um banho e me aprontar. Poderia buscar algumas roupas para mim no carro? Já que não está chovendo.

- Claro. Deixe comigo. Também vou pegar uma calça e camisa limpas para irmos a Consuegra. Estou cheio de coisas para fazer, principalmente em relação à investigação de Arturo. A minha principal preocupação nesse momento é isso, na verdade.

- Fique tranquilo. Resolveremos tudo, inclusive o caso de Arturo. Eu esperarei que pegue minhas roupas e enquanto isso, vou tomando banho.

- Estou indo.

Trevor saiu do quarto e fechou a porta, e ao mesmo tempo, Clarissa foi ao banheiro e se jogou embaixo do jato de água morna, para despertar. Ela lavou o corpo e tirou a sujeira, enrolando uma toalha em seguida. Alguém bateu na porta e ela pediu quem era, e Trevor gritou anunciando seu nome. Ela destrancou a porta do banheiro e Trevor a alcançou as roupas que estavam na mala do carro.

- Obrigada, Trevor.

Em seguida, trancou a porta novamente e se vestiu. Ela secou os cabelos com a toalha e colocou uma bota quente, para aquecer os pés e um casaco grosso. Estava muito frio, inclusive dentro da casa. Após Trevor tomar banho e se trocar também, eles desceram para se despedir de Consuelo e Germán.

- Agora que a chuva passou, nós temos que ir embora. – Falou Trevor ao casal. – Nós somos imensamente gratos pela hospitalidade de vocês. Nós não sabemos o que seria de nós sem vocês.

- Obrigada, dona Consuelo, pela receita da comida deliciosa que você fez no outro dia. – Ela sorriu. – Eu sou muito grata.

- Vocês serão sempre bem-vindos. São pessoas de bem. Por isso os acolhemos aqui. – Respondeu Germán.

Eles apertaram as mãos e antes de irem até o carro, Germán chamou Trevor para conversar em particular. Depois, ele retornou ao carro e ligou a chave, seguindo caminho em seguida.

- O que Germán falou a você? – Inquiriu ela, com curiosidade.

Ela permaneceu em silêncio e virou-se para ela, um momento, e disse:

- Para que fizéssemos uma boa viagem.

- Eles são pessoas maravilhosas. Um dia quero visitá-los aqui.

- Tem razão. Não consigo imaginar o que poderia ter acontecido conosco se eles não tivessem nos ajudado.

- O carro tem gasolina para chegarmos até a estrada mais próxima?

- Sim. Temos mais ou menos um quarto de tanque de gasolina. É suficiente para chegarmos até o posto mais próximo.

- Que bom. Senão, passaríamos pelo mesmo problema.

- Eu vou encher o tanque, comprar comida, água e biscoitos para comermos até Consuegra. Seu celular está funcionando, Clarissa?

Ela pegou o celular na bolsa e verificou a bateria, que estava cheia.

- Sim. A bateria está com 100% de capacidade. Só que ainda estou sem internet.

- Ótimo. Quando chegarmos ao posto, eu vou verificar onde estamos e quantos quilômetros ainda faltam.

Encontro com o Passado - Série Apaixonados e Poderosos - Livro 4 (COMPLETO)Where stories live. Discover now