— Muito.

— Devo pedir desculpas, não devo?

— Sim.

Respiro fundo, deixo o corretivo de lado, pego o meu celular e coloco no bolso da minha calça. Vou até minha mala e pego o notebook, ligando-o em seguida. Thomas me observa em silêncio, provavelmente deve estar se perguntando o que eu estou fazendo. Sento ao seu lado na cama, ele se aproxima para ver a tela. Fecho os olhos e tomo coragem para pesquisar sobre o Matthew. Tenho medo do que eu possa encontrar.

"Final da competição de skiing mundial, o caso de Matthew Sink"

Clico no vídeo em destaque. Thomas está ao meu lado, tão nervoso quanto eu para saber o que aconteceu.

O vídeo começa mostrando todas as pessoas presentes na competição. Me surpreendo quando vejo milhares de pessoas. Todos os competidores, sem nenhuma exceção, estavam em uma espécie de balcão, se preparando psicologicamente e fisicamente para competir. Em seguida apareceu o ranking na tela. Matthew e um outro homem, da Coréia do Sul, estavam empatados em primeiro lugar, e logo atrás estava o Ethan.

— Meu Deus! Matthew era um dos melhores do mundo. — Thomas se assusta, arregalando os olhos, mas ele não parece feliz, nem um pouco para falar à verdade. Porque ele sabe que se o Matthew desistiu do skiing, sendo o melhor do mundo, deve ter sido por um motivo muito sério.

Eu e Thomas nos entreolhamos.

— Quer continuar assistindo? — ele pergunta com o nervosismo evidente em sua voz rouca.

Fico dividida, mas por fim, respondo.

— Sim.

Assistimos a apresentação de todos os esquiadores de elite, até finalmente chegarmos aos melhores. Cho-Hee, o que estava empatado com o Matthew Sink em primeiro lugar, fez uma performance espetacular.

Até que chegou a hora do Matthew.

Quando o seu nome foi chamado, ele desceu do balcão sorrindo. O público entrou à loucura, parecia que todos gostavam muito dele. Tinham muitos cartazes, blusas personalizadas e fãs chorosas.

Matthew parecia estar tão radiante e feliz por estar fazendo o que gosta.

Antes de entrar na pista de skiing, ele andou até uma morena em meio ao público e à beijou. Todos vibraram.

Desviei o olhar da tela.

— Está com ciúmes? — Thomas me perguntou, rindo como um idiota.

— Claro que não né?!

— Parece que está.

— Cala a boca! Vamos ver o vídeo.

Ele se prepara, e começa a sua bela performance. Matthew esquia como um profissional, consigo ver muito amor no que faz. Ele me surpreende cada vez mais quando faz manobras sensacionais que deixam qualquer pessoa de queixo caído. É algo mais que incrível de se ver. Sorrio.

O narrador da competição narra a última manobra da performance do Matthew, a mais esperada de todas. Onde apenas três pessoas em toda a história do skiing fizeram.

Ele se preparou, o público vibrou, e quando estava no ápice, algo ruim acontece.

Os meus olhos se arregalam.

Ele cai de uma forma avassaladora.

É nítido que ele se machucou.

Mas, o que realmente me preocupa no vídeo, é ver que ele não se movimenta depois do tombo, como se estivesse morto ou desmaiado.

— Merda. — Thomas murmura.

A câmera foca em seu rosto todo machucado e ensanguentado. Sua perna está machucada também, e ele está desacordado. Fecho os olhos, me controlando para não chorar. Odeio mais do que tudo ver sangue, eu fico extremamente nervosa.

Depois de segundos a ambulância e vários enfermeiros vão até o local.

O vídeo acaba.

— E-eu não imaginava. — gaguejo tentando não chorar com toda essa situação, mas é impossível.

Thomas toma o notebook da minha mão e lê algumas notícias. Fecha os olhos e respira fundo, tentando se controlar assim como eu.

— O que você leu?

— Matthew ficou em coma por dois anos, Julieta.

Arregalo os olhos e levo às mãos até a boca, tampando-a. Os meus olhos se enchem de lágrimas.

Thomas me abraça, está tão chocado quanto eu.

Estou me sentindo a pior pessoa do mundo agora.

(...)

Fazem exatos quatro minutos que eu estou batendo na porta do quarto do Matthew, sem obter respostas, mas tenho certeza que ele está ali dentro.

Comprei alguns cupcakes na lojinha aqui ao lado para ser o meu plano B. Afinal, quem não aceitaria deliciosos cupcakes não é mesmo?

Bato mais três vezes.

Desvio os meus olhos da porta e olho para o corredor. Talvez, o certo seja eu ir embora.

Mas, como todos sabem, eu nunca tomo decisões certas.

Eu sento em frente à porta do quarto e como um dos cupcakes de chocolate que comprei, com a grande esperança de que, em algum momento, ele abra a porta e me perdoe.

Fico sentada sozinha por mais três minutos, até a porta ser aberta e eu levar um grande susto.

Matthew está em minha frente, com uma calça moletom e um casaco. Seu cabelo está bagunçado e o seu rosto inchado, como quem acabou de acordar.

— Oi. — é a única coisa que consigo dizer.

Olhando para ele agora, tenho vontade de chorar.

As cenas do vídeo invadem a minha mente.

— O que você quer? — ele cruza os braços e apoia o peso do seu corpo no batente da porta.

— Eu...só...quero pedir desculpas. — digo meio hesitante.

Ele arqueia a sobrancelha e ri, como se estivesse surpreso.

— Trouxe cupcakes para você. — eu ofereço e ele aceita de bom grado.

— Obrigado.

— Você me perdoa?

Ele bufa e desvia o olhar.

— Eu...não estou bem, ok? E o que você disse me fez lembrar de coisas que eu não gostaria de lembrar nunca mais. Eu preciso de tempo, Julieta.

Ele não me chama pelo apelido, me chama pelo nome, e isso me deixa cabisbaixa. Ele está triste comigo.

— Então eu... — Aponto para o corredor. — vou embora.

— Tchau. — ele diz por fim, entrando no seu quarto e batendo a porta.

Paro no meio do caminho e olho mais uma vez para a sua porta antes de bufar e entrar no elevador.

Eu queria voltar no tempo, e não ter machucado o Matthew, porque de alguma forma, machucar ele me machucou também.

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