Pouco depois, seus braços passaram por baixo das minhas pernas e ele me levantou, levando-me até minha cama. Me acomodei nas cobertas lamentando ter que enfrentar o mundo real de novo, sentindo falta de me esconder em seus braços e me senti errada por pensar assim.

Ele diminuiu a luz do quarto e deitou-se na cama comigo, assustando-me.

— Você precisa de um banho quente também, tomou chuva, está todo molhado. Você não devia deitar-se aqui comigo.

— Por que você não fica quietinha e dorme? Você me disse que água quente é milagrosa, que ela te dá a sensação de pendência resolvida e tranquilidade, lembra-se? Eu te digo que o sono faz isso. Você acorda revigorada, com a mente descansada e pode não parecer mais tão difícil.

Toquei seu peito através da camisa e ela estava gelada.

— Você está gelado.

Ele sorriu, sentou-se na cama e tirou a camisa. Eu me sentia tão cansada que não liguei para o alerta de que não deveria permitir que ele voltasse a se deitar comigo seminu. Não me importei em avaliar seu corpo bonito, nem em prestar atenção aos detalhes daquele homem tão lindo. Apenas fechei os olhos e esperei que ele deitasse ali comigo, naquele momento ele era apenas o meu anjo, não o homem mais lindo que eu já tinha visto na vida.

Ele acariciou o meu cabelo num gesto carinhoso, acalmando-me imediatamente. A presença dele, os gestos, a maneira doce como falava comigo, até o calor que vinha de seu corpo, mesmo que não estivesse tocando-o, tudo nele me acalmava. Sentindo-me sem graça, mas precisando tanto desse conforto, me aproximei dele e deitei a cabeça em seu braço. Ele passou o outro braço em volta do meu corpo e continuou acariciando meu cabelo enquanto enterrei o rosto em seu ombro apenas para me esconder mais um pouco.

Não entendia quando havia me tornado uma menina insegura e fraca, que precisava do abraço de um homem para sentir-se melhor. Talvez fosse apenas aquele momento em particular, apenas por um dia, entre tantos tão difíceis que estava enfrentando. E na manhã seguinte eu voltaria a ser forte, a não chorar, não questionar, não lamentar e conseguiria me erguer sozinha de novo. Mas naquele momento, aceitei ser essa menina fraca e deixei que ele cuidasse de mim.

— Você iria para o céu ou para o inferno? — perguntei depois de um tempo, em seu ouvido. — Se tivéssemos nos conhecido de maneira diferente, se eu o atropelasse e você tivesse morrido.

— Meu Deus! Você já está me assassinando em pensamento? Isso não é nada bom. Onde foi que eu errei com você?

Sorri. Sentindo-me mais leve.

— Não estou fazendo isso. Só estou tentando descobrir se você é bom ou mau. Você iria para o céu ou o inferno?

— Você achou que estava no céu — ele lembrou.

— Porque você estava lá. Parecia um anjo.

— Talvez eu seja o seu anjo, já que não posso ser seu amigo.

— Você está fugindo da minha pergunta. Tem medo que eu saiba a resposta? Eu já sei qual é a melhor e a pior hipótese disso, não vou me assustar.

Ele ficou calado mais alguns minutos e depois respondeu, a voz mais baixa e um sorriso triste:

— Purgatório, eu acho. Dizem que o purgatório é pior do que o inferno.

— É um meio termo, não é? Não saber se você é bom ou mau, é pior do que saber.

Ele assentiu apertando os braços à minha volta.

— E eu realmente não sei. Escolho não acreditar no que acho que seria a resposta certa. Mas não sou tão bobo para acreditar na resposta que deveria dar. Então fico com este meio termo maldito.

SACRIFÍCIO - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now