No dia seguinte, ele já estava lá quando cheguei. Cumprimentou-me com um enorme sorriso e deu instruções a Lúcia com bom humor. Trabalhamos assim o dia todo, e percebi que ele não largava uns papéis específicos que Lúcia havia entregado a ele. De tarde, fui pegar um café na copa e acabei levando um chá para ele, nunca o tinha visto beber café e presumi que ele não gostava. Ao aproximar-me de sua mesa, percebi que os papéis que ele tanto folheava eram sobre mim. Meu currículo quase vazio, minha ficha médica e mais algumas informações. Me perdi olhando para as informações contidas ali e ele pigarreou, trazendo-me de volta ao mundo real.
— Desculpe. Por que vocês sabem quando minha mãe morreu? Quando a Liz veio morar comigo e quando morei em outras cidades? Quero dizer, isso não deve ser informação de interesse de todas as empresas onde se trabalha.
— Alec é muito empenhando no que faz. Não deixa nada pela metade. Esse chá é para mim?
Assenti entregando-o a ele. Ainda confusa sobre a quantidade de informações sobre mim contidas ali. Temi olhar um pouco mais e ter descrita a maneira como perdi minha virgindade, ou o fora que tomei do meu crush no jardim de infância, porque eu tinha sardas vermelhas no rosto.
— Estou com esses papéis porque buscava uma informação sobre você.
— Você poderia ter me perguntado.
— Poderia, mas estragaria a surpresa. Espere eu tomar este chá e venha comigo.
Esperei receosa e o segui pelo elevador, muito ciente dos olhares curiosos sobre nós. Estava próximo ao fim do expediente, mas ainda não era o fim. Presumi que uma secretária tomando o elevador com o chefe fora de hora não era visto como uma coisa boa. Ele me levou até o estacionamento do prédio e me guiou até um carro prata, muito bonito e aparentemente novo e estendeu uma chave em minha direção.
— Vi no seu material que você dirige. Este caro é um empréstimo da empresa a você, para que não tenha que vir e voltar de ônibus todos os dias.
Olhei para o carro e de volta para ele, sentindo-me confusa.
— A empresa dá carros para todos os funcionários?
— Veja bem, não o estou dando a você. É apenas um empréstimo. Não oferecemos para todos, mas quero oferecer a você, vê algum problema nisso? — perguntou-me realmente preocupado.
Eu via algum problema? Bem, não ter que pegar ônibus na ida e na volta me daria mais tempo para passar com o André, me cansaria bem menos também. Eu não via problema nenhum.
— Isso é muito legal! — falei empolgada tirando as chaves de sua mão e entrando no carro. — Isso é demais! Mal posso esperar para contar ao André. Ele vai surtar! Obrigada, Christopher.
Quando olhei para ele, seus olhos estavam tristes novamente e ele parecia chateado. Voltamos ao escritório e foi a primeira vez que fui embora de carro novo.
— Você não vai acreditar! — disse amimada assim que André aproximou-se. — A empresa me forneceu um carro! Por isso cheguei tão rápido aqui hoje.
— Um carro? Por quê?
— Não sei, acho que é algo que fazem pelos funcionários. O importante é que terei mais tempo para passar com você!
— Ellen, quem deu o carro a você foi a empresa ou foi o seu chefe?
— A empresa é dele! E não ganhei o carro, é apenas um empréstimo. Se eu sair da empresa, tenho de devolvê-lo. Será que você não pode ficar animado pelo tempo que vamos ganhar com isso? — pedi.
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SACRIFÍCIO - DEGUSTAÇÃO
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