OITO

86 12 23
                                    


Pela primeira vez em meses, Akemi sentiu-se à vontade enquanto contava o início de sua história com Haroki. Mesmo sabendo que revelar parte de seu passado significaria dar ao rapaz um cartão de confiança, ela quis continuar o assunto.

— Minha relação com meu ex-namorado era extremamente como um machucado bobo, comum em crianças que passam o dia brincando — explicou ela, deixando Baekhyun inicialmente confuso. — Eu sabia que não ia durar muito. A gente se conhecia desde criança e, à medida que fomos crescendo, nos mantivemos perto um do outro, sempre procurando curar algum pedaço dos nossos interiores. Eventualmente, os machucados bobos se cicatrizaram. E não precisaríamos mais de curativos. Acontece que a minha ferida foi muito mais profunda que a dele, e a minha despedida demorou bem mais do que ele imagina. Foi difícil, mas necessário.

Baekhyun respirou fundo. Não sabia como agir diante daquele relato tão forte emocionalmente, e ao mesmo tempo sincero. Pousou a mão direita sobre a mesa, na esperança de, talvez, esbarrar na de Akemi. Mas isso não aconteceu.

— Que situação pesada. A pior parte de se decepcionar é justamente saber que você, um dia, deixou aquela pessoa à vontade o bastante para te magoar — comentou em voz baixa. A verdade é que aquelas palavras da garota foram tão inesperadas quanto a vontade de conhecê-la que crescia dentro dele.

Akemi ajeitou-se na cadeira e deu uma colherada no creme belga que havia pedido. O papo estava tão bom que ela mal lembrava de comer e também não percebeu se Baekhyun estava comendo. Era difícil focar-se em qualquer outra coisa que não seja a voz do garoto, que continuava soando estranhamente familiar.

— Foi a pior época da minha vida. Ele realmente me traumatizou com muitas coisas, inclusive comigo mesma. Pela primeira vez, eu me senti insegura de uma hora para outra. Com tudo ao meu redor — continuou desabafando. — E insegurança é um sentimento que eu não desejo pra ninguém, nem pra ele, que me magoou tanto — completou, enquanto limpava a boca no guardanapo de pano. Ela agradeceu mentalmente pelos batons líquidos e mattes que grudam na boca e só saem com demaquilante.

— Que cara idiota. Sinceramente, não entendo essa necessidade de deixar um relacionamento torna-se destrutivo para só então perceber que algo muito errado está sendo feito. — Baekhyun ajeitou o cabelo e voltou a colocar a mão sobre a mesa.

— Sabe... — começou Akemi, tranquila — num relacionamento, existem dois tipos de espera. O primeiro é impossível, mas inofensivo. É aquela espera sem esperança, baseada em devaneios e ilusões. Você sabe que é inatingível, mas bem no fundo, ela também faz a sua respiração parar, mesmo que por uma fração de segundo. O segundo tipo é destrutivo. E era exatamente esse último que reagia o meu relacionamento. Esperar por uma mudança dele era como ser pega de surpresa, como se eu tivesse sido apunhalada pelas costas ou levado um tapa na cara porque estava cheia de confiança, acreditava em mim. Quando percebi que a pessoa que eu esperava nunca esteve lá de verdade, foi doloroso. Foi como se eu tivesse pulado na água para poder me afogar e, quando entendi que precisava nadar, pedi ajuda. Tentei melhorar aquela situação e fazê-lo perceber que podia mudar, mas acho que já era tarde — a garota finalizou com a voz embargada. Ainda era muito agoniante falar do assunto. Ouviu o rapaz respirar fundo antes de qualquer resposta.

— De nada adianta você ser um museu de arte e relacionar-se apenas com pessoas que não enxergam nada além do óbvio — Baekhyun falou de um jeito tão gentil que Akemi automaticamente colocou a mão esquerda sobre a mesa e encostou de leve no rapaz. Ela teve a impressão que todos os pelos do corpo se arrepiaram com o toque.

— Obrigada. — A garota já havia perdido as contas de quantas vezes tinha ficado sem reação naquela noite.

Contar sobre o ex-namorado e a ex-melhor amiga para um cara que ela conhecia há poucas horas parecia uma loucura sem tamanho. Era um sentimento completamente diferente de tudo que já havia sentido. Por que ela estava tão confortável com a presença dele e como não tinha se esquivado quando contou sobre o seu passado? Ela se sentia estranhamente confortável perto de Baekhyun, como se já se conhecessem e fossem superamigos há muito tenpo.

— Você está olhando pra mim? Porque mesmo sem nunca ter visto o seu olhar, consigo sentir o quão expressivo ele é — confessou Baekhyun.

— Estou. E, ahn, escuto algumas coisas sobre o meu olhar de vez em quando — revelou Akemi, e suas bochechas coraram pela segunda vez naquela noite.

— Que coisas? Não me deixa curioso, não! — Baekhyun brincou, ainda com a mão sobre a mesa na esperança de encostar na dela.

— Nada demais, eu acho. Alguns garotos com quem já fiquei falaram que meu olhar dizia muito mais do que minhas palavras. Nunca soube se isso era um elogio. — Akemi não conseguiu segurar o riso. Baekhyun riu junto.

— Caramba, que horas são? — questionou ele sem saber se realmente queria ver as horas. O único brilho presente no local vinha do relógio digital que ficava perto das escadas. Onze e meia. Eles estavam conversando há mais de três horas!

— Gente do céu! Como assim já é quase meia-noite? Acho que preciso ir embora.

Ao ouvir as palavras de Akemi, Baekhyun finalmente teve coragem e pousou a mão sobre a da garota, entrelaçando seus dedos depois. Foi um gesto tão subitamente impulsivo que ele se sentiu eufórico e nervoso. O receio de ela pensar que ele estava indo "muito rápido" durou dois segundos - o tempo que ela demorou para acariciar a mão dele com o polegar. Aquilo tudo era novo para Akemi. E mesmo lutando para não se envolver, desejou que aquele momento durasse um pouco mais. Nem Akemi nem Baekhyun estavam preparados para se "conhecerem de verdade" fora do pub.

— Acho que você vai me achar estranho... — afirmou ele baixinho, quase inaudível.

— Acho que o que menos importa no momento é a sua aparência, sinceramente — rebateu ela, fazendo com que o rapaz desse um tapinha de leve na sua mão. — Vamos?

Continua...

(Re)começos | BYUN BAEKHYUNOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz