— Você já viu um assassinato, Srtª. Any? — perguntei, jogando o documentário, que eu acabara de analisar, em sua direção, justamente na página onde se encontravam as fotos mais detalhadas da vítima.

— Já ouvi falar desse caso, Sr. Andrew — ela disse olhando os papéis e parecendo fazer uma leitura rápida em minhas observações.

Esses assassinatos eram a melhor parte do meu trabalho, eu poderia sentar e analisar cada caso, calmamente. Analisar seus erros, para nunca cometê-los.

— Entendo, Srtª. Any. Mas essa não foi minha pergunta, eu perguntei se você já viu um de perto, ao vivo! — ela olhou para mim assustada, estava pálida e eu sabia que ela queria vomitar só de ver aquelas imagens.

— N-Não, senhor — gaguejou, eu estava me segurando para não gargalhar dessa cena patética de uma incapaz.

— Pois bem, Srtª. Any. Eu quero que vá até o local do crime e que me traga um relatório sobre o corpo. Mas não é qualquer relatório, eu quero com fotos detalhadas, entendido? — eu perguntei com uma animação contida. — Como você pode bem notar, essas fotos são de má qualidade. Mal consigo diferenciar os hematomas.

Se alguém me perguntasse o porquê disso tudo eu poderia dar a singela desculpa do seu atraso, eu era conhecido por ser muito rígido em relação a tudo, as pessoas aceitariam sem pestanejar. Mas eu sabia que era por satisfação própria ao causar o sofrimento daquela mulher.

Além do mais, ela precisava do dinheiro que eu lhe dava no final do mês. Any se submeteria a tudo que eu lhe pedisse, algumas vezes com relutância, porém, no final, aceitaria.

— Mas isso não faz parte do meu trabalho, senhor — argumentou Any baixinho com medo que eu a escutasse, arqueei minha sobrancelha esquerda e me ajeitei melhor na cadeira.

Claro que ela resistiria um pouquinho, que tipo de pessoa ela seria se não lutasse pelos seus escrúpulos? Todavia, ela sabia que a luta seria pequena, porque eu ganharia.

— Claro que é, Srtª. Any — eu disse dando um sorriso nasal, ela levantou a cabeça e me olhou rapidamente, submissa como um cachorrinho. — Quem paga seu salário sou eu, quem escolhe sua função sou eu. Acredito que para tirar foto de um morto qualquer você não precisa fazer faculdade ou ser especialista, milhares de pessoas por dia fazem isso. Mas, caso não queira, os portões da minha empresa estão abertos para que você saia e se demita no momento que achar adequado, já que não está disposta a fazer os serviços proposto pelo seu patrão — citei minha exigência calmamente analisando sua inquietação com as mãos.

— Se decida o quanto antes — continuei —, preciso disso para liberar o caso para o jornal. Definitivamente, eu não tenho o dia todo para esperar você pensar, eu tenho mais o que fazer, senhorita. Posso lhe substituir por uma outra assistente em segundos, então peço que me diga de uma vez — voltei minha atenção aos papéis sobre minha mesa, excluindo-a totalmente.

Peguei o copinho de café e cheirei analisando a composição. Café preto, forte, sem açúcar, amargo como eu. Revirei os olhos ainda esperando a resposta da mulher a minha frente.

— Claro, Sr. Andrew. Irei fazer o que pediu, me desculpe pela demora em responder é que eu não consigo lidar muito bem com sangue e é meio difícil esse serviço que o senhor me propôs.

— Não me interessa seus problemas — ralhei dando um sopro longo, ela estava me irritando, soquei a mesa com força e Any deu um grito contido se sobressaindo. — Você vai fazer a droga desse serviço ou não vai? — sua vadia imprestável.

— C-claro, senhor — gaguejou em um sussurro —, não me demita, já vou fazer o que me pediu. Devo me retirar agora, Sr. Parker?

— Não ainda, Srtª. Any — voltei minha atenção para ela e disse: — Peço que entre em contato com o Sr. Scott, o novo delegado. Diga que quero ter uma reunião com ele o mais rápido possível — ela anotou tudo e eu prossegui: — Quero as fotos sobre minha mesa em menos de duas horas, é o tempo que o corpo ainda vai estar em exposição. Fez sua escolha a tempo e cuidado com seu desaforo, da próxima vez eu não vou ter tanta paciência. É só isso, pode ir fazer seu serviço — falei dando um gole no meu café preto e com minha atenção total no amontoado de papel.

Cocei a garganta ao pensar no pai de Ayla, eu precisava ganhar sua confiança e sabia exatamente o que fazer.

Fingir ser humano nunca foi um trabalho tão difícil para mim.

As pessoas só precisam de um ombro amigo bajulador e eu era a opção perfeita.

Há meses várias crianças viam morrendo, sem nenhum motivo aparente, as vítimas eram incrivelmente parecidas e o assassino era bom no que fazia, esse sim era um verdadeiro exemplo e um excelente professor.

O caso estava sendo investigado em sigilo, mas eu nunca fui bom com regras. Quando soube das crianças desaparecidas a curiosidade me invadiu, eu comecei a tentar descobrir mais sobre o assunto.

Estudei por meses cada detalhe, por mero prazer e passatempo.

Mas eu acabara de perceber que tamanho crime poderia ter uma utilidade maior. Eu poderia tirar mais proveito da situação, poderia finalmente me aliar com a polícia, iria ganhar a confiança do delegado, ele — mesmo que ficasse receoso no início — me veria como um filho que nunca teve.

Iria fazê-lo pensar que eu era uma pessoa boa, um ótimo pretendente para se casar com sua filha depois da morte do noivo mauricinho.

Eu seria a segunda opção da filha em luto.

Faria de tudo para massacrar Ayla bem devagar e depois a matar bem lentamente. Tomaria cuidado para que ela definhasse gradativamente em minhas mãos.

Batuquei meu dedo sobre a mesa, tentando acabar com minha ansiedade.

Eu sabia que meu plano poderia dar errado. Na verdade, a probabilidade era enorme.

Eu havia hackeado o banco de dados da polícia e falaria isso justamente para o delegado.

Ou eu ganharia sua total confiança, ou amanhã mesmo eu estaria atrás das grades.

No entanto, eu sabia que correria todos os riscos para ter o pescoço delgado daquela linda mulher em minhas mãos.

Eu estava de peito aberto, pronto para o que pudesse vir.

Eu estava de peito aberto, pronto para o que pudesse vir

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NOTA DA AUTORA

Capítulo que vem é um flashback da infância de Andrew, neste capítulo vai falar mais um pouco sobre como sua infância foi conturbada e porque ele é tão cruel, se é que um psicopata precisa de motivos para ser um, mas é apenas uma forma de mostrar o quanto ele sofreu e tirar uma parcela de sua culpa.

MÚSICA: "Riders On The Storm", Creed.

Link da playlist de Ônix e do grupo no WhatsApp disponível na minha descrição!

Ps.: Não esqueça da estrelinha e do comentário, assim eu me sinto mais motivada!

Ps*.: Atualização toda quinta-feira, podendo ter bônus ao longo da semana, dependendo dos comentários e votos...

Ps#.: Esse capítulo vai ser dedicado a Portuguesa que eu mais amo nesse mundo. A pessoa mais educada e gentil que eu poderia conhecer. Que me ajudou de tantas formas que eu nem consigo falar, ela me motivou, me deu ideias, me apoiou e fez tudo que uma escritora iniciante precisava. Escritora esta que tinha nas mãos um livro com poucas vizualizações, uma conta no wattapd com pouquíssimos seguidores, que não sabia para onde ir e nem por onde começar. Raquel me ajudou TANTO! Se Em Um Cativeiro é o que é hoje eu devo a ela. Devo mesmo, porque foi ela quem me deu todo o apoio que eu não imaginava poder existir! Te amo, OneDand5soslover !

AMO VOCÊS... ❤️

Ass.: Mari Edeline.

Ônix ®Where stories live. Discover now