— Há! E quem disse que eu quero uma vida normal? — ela sorriu para ele, lhe segurando o rosto com ambas as mãos. — E como eu disse: quem tem que decidir o que é ou não bom para mim, sou eu mesma... Certo? Agora pare com essas bobagens...

— Eu sinto como se estivesse atrapalhando você. Isso... — ele apontou para os dois, dando um sorriso triste. — Não é normal. Não devíamos ser tão próximos. É erra-

Ele não pode terminar a frase. Perséfone o acertara com um soco na lateral da costela, lhe tirando o ar e o fazendo parar de falar por um momento.

— Se você tentar terminar essa frase, eu nunca mais falo com você! — ele levantou os olhos para a albina, que tinha uma expressão ameaçadora no rosto, os olhos brilhando perigosamente. — Eu não sou inferior a você apenas por ser uma mulher... Eu não tenho uma mente mais fraca ou não devo falar o que penso apenas por ser mulher... E não vou deixar de ser sua amiga só porque um bando de gente babaca e de pensamento arcaico acha que isso é errado.

Shay manteve os olhos na mulher a sua frente por mais um instante, pensando por um momento nas palavras dela.

— Shay...? — ela o encarou, temendo ter acertado um ponto mais fraco do que imaginara.

— Eu estou bem. — ele se ergueu, arrumando a postura e dando um sorriso para a albina. — Me perdoe pela bobagens que eu falei...

— Está perdoado... — ela sorriu, pegando uma das mãos dele e o puxando de volta para a cabine. — Vem, vamos entrar, por que eu ainda estou com sono... Além do mais, logo vai amanhecer e você vai ter que voltar para cá.

— Não se preocupe... Logo vamos estar de volta a fazenda e vou ter bastante tempo para passar com você. — ele sorriu quando Perséfone se jogou pesadamente sobre a cama, puxando as cobertas sobre si, enquanto ele se sentava em sua poltrona.

O Assassino ficou até o amanhecer observando a mulher que dormia tranquilamente em sua cama. Desde o início ela havia demonstrado certa confiança cega nele, apesar dos avisos de Leiza e de ele próprio já ter dado mostras de seu temperamento um tanto impulsivo e questionador. Ainda assim, ela havia confiado sua segurança a ele mais de uma vez.

Shay não se incomodava em dividir suas experiências com Perséfone, era como se algo o dissesse que ele sempre poderia confiar nela para o escutar, sem o julgar por suas ações. E isso era uma das coisas que ele tanto adorava nela.

***

— O que aconteceu? — Shay passou os dedos novamente pela marca arroxeada em sua costela, sentindo um certo orgulho, sob o olhar curioso de Liam.

— Eu e a Perséfone brigamos ontem a noite e ela me acertou um soco. Conseguiu me deixar sem ar. — ele exibiu a marca para Liam, sorrindo orgulhoso.

— Por que vocês brigaram? — ele pegou o leme do marinheiro, que se retirou para os dormitórios recém instalados do navio. — Parece ter sido algo bem feio...

— Um pouco. — o moreno vestiu novamente seu manto, o arrumando com certo cuidado. — Mas agora está tudo bem...

Liam viu o amigo se apoiar de forma um tanto relaxada e cansada ao seu lado, olhando para um ponto qualquer à sua frente.

— Tem algo te incomodando... — ele olhou de canto de olho para Shay, que deu um pesado suspiro. — Você vai me contar ou prefere resolver sozinho?

— Nós estávamos conversando ontem. Fiz uma pergunta a ela e depois acabei dizendo algo estúpido. — Shay passou a mão pelas mechas castanhas, as bagunçando.

— E isso a deixou com raiva, a ponto dela não estar mais falando com você? — o Assassino virou um pouco o rosto para o amigo, que negou com um aceno. — Então o que está tirando o seu sono?

— Perguntei a ela se iria deixar a fazenda algum dia... E uma pequena, mas muito pequena, parte de mim queria que ela dissesse que sim. Que um dia iria embora e encontraria alguém, uma vida fora daqui... — ele suspirou pesadamente, voltando os olhos para o mar e deixando um pequeno sorriso escapar. — Porém a maior parte de mim queria que ela dissesse que não, que ficaria lá para sempre ao nosso lado. Ao meu lado.

Liam encarou o amigo, que parecia preocupado, como se pensasse se deveria mesmo dizer aquilo.

— E eu sei que é egoísmo, que ela merece algo melhor do que um ex-marinheiro brigão, sem nenhum um mísero pedaço de terra em seu nome e que caça templários para viver. — Shay se virou para Liam ao ouvir o amigo rir. — O que é tão engraçado?

— Que você seja tão próximo a ela e não tenha notado isso... — Liam virou o rosto para o amigo. — Shay, a Perséfone adora você, e a todos nós, por isso... Ela adora essa vida. Veja a missão que fizemos com ela. Para ela tudo aquilo é uma grande aventura e ela estava simplesmente adorando fazer parte dela, mesmo não estando diretamente na ação. Nós sabemos o quanto isso é perigoso, ainda mais para ela, mesmo assim você a vê sorrindo, sempre animada e ansiosa para o que vier.

Shay encarou o amigo por alguns instantes, dando um pequeno sorriso, antes de esconder o rosto entre as mãos e dar uma gargalhada alta.

— Droga... — Liam encarou o amigo, sorrindo. Ele já sabia o que o moreno ia dizer. — Não... Eu não vou admitir isso... Ainda mais para você...

Perséfone permitiu seu corpo afundar na água quente, deixando um baixo suspiro de satisfação escapar

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Perséfone permitiu seu corpo afundar na água quente, deixando um baixo suspiro de satisfação escapar. Por mais que adorasse estar a bordo da Morrigan, alguns momentos em terra firme não fariam mal.

River Valley era um lugar bonito. Uma pequena vila litorânea, cercada por uma mata recheada de trilhas e sobre a proteção da Irmandade dos Assassinos. Pelo que Shay a contara, era comum que membros da Irmandade viessem até ali para discutir missões ou outras situações críticas. Aquele era o ponto de encontro mais comum deles.

Snow? — a batida em sua porta seguida pela voz familiar a fez murmurar um 'hmm' audível, o que fez com que o Assassino abrisse a porta.

— SHAY! — a albina gritou, cobrindo os seios e se encolhendo sob a água, enquanto o Assassino ruborizava, dando um passo para trás e fechando a porta rapidamente.

— Desculpe... Você fez 'hm', pensei que eu pudesse entrar... — ele abriu uma pequena fresta na porta, olhando para a parede e fazendo com que sua voz pudesse ser ouvida dentro do pequeno quarto. — Você está demorando muito... Vamos logo... O Achilles quer falar conosco e eu ainda te devo um passeio.

— Eu estou tomando banho... Vai embora. — ela encarou a porta com certa irritação, mesmo sabendo que ele não podia ver. — Onde está a sua noção de privacidade?

— Sinceramente, creio que ela tenha ficado dentro de algum navio mercante sujo por aí, junto com a de outros marinheiros. — Shay sorriu ao ouvi-la rir, antes de abrir um pouco mais a porta. — Anda logo ou não vou poder te levar para um passeio pelas trilhas...

— 'Tá. Agora vai embora e me deixa tomar banho em paz. — ela jogou um trapo úmido em direção ao moreno, que se esquivou por pouco, rindo. — Implicante!

— Teimosa. — ela pode ouvir a voz dele ao longe, enquanto ele se afastava. 

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