Capítulo XXXI

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Karen serviu o café para Daniel, que havia se sentado à cabeceira da mesa da cozinha. Ele olhou para ela, franzindo a testa em interrogação.
_ Não vai tomar café, Karen?
_ Não. Café não faz muito bem para ela. - disse apontando a barriga. _ A deixa agitada, por isso evito. Recomendações do médico.
_ Karen... - Daniel parecia sem coragem para iniciar a conversa.
_ Daniel, se veio aqui para conversar é melhor dizer logo qual o assunto.
_ É... queria em primeiro lugar, te pedir desculpas pelo que  disse naquela noite.
_ Ah, sim, a noite que meu colega me trouxe em casa e você me ofendeu, dizendo que estava fazendo programa... Bem se vê que você não me conhece! Achou mesmo que depois de tudo que já passei na vida, agora, grávida, eu iria fazer esse tipo de coisa?
_ Desculpa, Karen ... é que fiquei transtornado quando vi aquele homem te deixando em casa.
_ Não sei porque, Daniel! O que tínhamos acabou! Você mesmo disse que a culpada de tudo fui eu, que não queria mais me ver...Lembra? Hello!! Você acha que dormi com Pedro! Então, esse transtorno não faz sentido algum!
Ele apertou a xícara com as duas mãos, tomando coragem para falar.
_ Karen, o que você quis dizer quando mencionou minha mãe e a Stella? O que foi que você acha que elas fizeram?
_ Não seja inocente! Você sabe muito bem! Esperaram a primeira oportunidade para se livrarem de mim! Eu sei que o que fiz foi errado. Não deveria ter saído com Pedro. Eu tentei te falar...Não aconteceu nada entre mim e ele!
_ Mas você passou uma tarde inteira com ele sozinha no apartamento! Depois tem as fotos do beijo! Como você quer que eu acredite nisso!
_ Tá, Daniel, chega! Você não acredita em mim e eu também não estou fazendo mais questão que você acredite. Se veio aqui, me pedir para participar do resto da gravidez e da vida da sua filha, minha resposta é sim; você poderá vê-la quando quiser. Não precisará entrar na justiça para isso. Terá livre acesso para visitá-la quando bem entender. Não irei por nenhum empecilho e te avisarei, se quiser ir no próxima  ultassonografia.
Daniel levou a xícara de café aos lábios e Karen o observava de braços cruzados, encostada no balcão. Seus cabelos negros caíam na testa. Num gesto bem familiar, ele passou a mão neles os puxando para trás. Aquele gesto Karen conhecia bem, sempre que ele fazia tirava os seus sentidos. Era algo extremamente, charmoso. Ele a olhou e indagou :
_ Já pensou em um nome para ela, digo, nossa filha?
_ Andei pensando...Talvez ponha o nome de minha mãe. Ela se chamava Elise. Gostaria de dar esse nome a minha filha. 
_ Nome lindo, eu sei o quanto sua mãe faz falta à você, Karen...nem pensaria em dizer não.
Ela riu sarcástica.
_ Na verdade, nem pensei se você gostaria ou não do nome. A sua opinião é irrelevante.
Karen não se conteve e perguntou baixando um pouco a voz:
_ Há quanto tempo está namorando aquela moça?
_ Faz pouco tempo que a conheço e... não estamos namorando! Eu a convidei para me acompanhar, só isso! Ela é filha de um amigo dos meus pais. Porque o interesse?
Karen se surpreendeu com a pergunta. Ficou um pouco sem jeito.
_ Nenhum, só curiosidade mesmo. Achei que talvez...Ela é muito bonita. - afirmou.
_ É linda! Entretanto,  no momento,  não tenho cabeça pra pensar em namorar...Não quero cometer erros novamente.
Karen o olhou surpresa com a resposta. Não acreditava que estava ouvindo essas palavras de Daniel. Sabia que essa conversa a magoaria! Então ele acha que tudo que vivemos foi um erro. - pensou.
_Sinto muito se você acha assim. Pra mim não foi um  erro... - disse abaixando cabeça.
As lágrimas enchiam seus olhos, não tinha coragem de encará-lo e dar o gostinho de vê-la chorar. Não depois de tudo que ouvira dele.
_ Digo isso porque você me deu o meu bem maior, minha filha. Não posso considerar isso um erro.
_Karen... não foi nesse sentido que quis dizer... É claro que te conhecer não foi um erro! Você está entendendo errado! Eu não posso ter ninguém agora, por mim! Seria injusto eu brincar com os sentimentos de alguém agora. Tenho que resolver as coisas entre nós primeiro.
Ela o encarou, secando os cantos dos olhos com a ponta dos dedos.
_ Desculpe, são os hormônios.
Daniel levantou e levou a xícara vazia até a pia .
_Eu sei como é, Karen. Já morei com uma grávida, lembra? Sei que os hormônios de uma mulher grávida estão sempre em ebulição. Também por isso, que vim te pedir desculpas... Errei. Ponto. Vamos dar uma trégua, pelo bem da nossa filha . Quero te fazer uma proposta .
_ E qual é, Daniel? - indagou.
_ Trabalhar deve ser muito cansativo pra você, principalmente, porque são dois turnos. Quero que deixe seu orgulho de lado. Eu posso te ajudar até nossa filha nascer e depois, com o tempo, quando ela estiver maior, você poderá voltar a trabalhar com  sempre fez. Uma criança precisa de cuidados, principalmente de bons médicos, caso fique doente. E você também precisa se cuidar melhor, fazer o resto do pré-natal.... Alugo um apartamento maior, onde poderá morar com ela. Você não tem condições de cuidar dela sem minha ajuda. Isso é fato!
_ Sempre cuidei de mim. Pela minha filha aguento o que vier. A vida me preparou até aqui para enfrentar todos os obstáculos. Não me sentiria bem dependendo de você. Não sou o tipo de mulher que se deixa bancar por homem.  Poderá visitar sua filha a hora que quiser, mas não quero seu dinheiro, Daniel! E o que você pode achar que é orgulho, eu chamo de amor próprio. Depois de tudo o que aconteceu? De todas as ofensas que ouvi? Depois de ter sido julgada, sem ao menos poder me defender?! Acho que uma trégua seria pedir demais.
Uma boa convivência, mesmo que seja por nossa filha, acho que será impossível pra nós, porque cada vez que te vejo, tudo vem a minha mente. A mágoa invade meu coração...Eu não fiz o que você pensa!
_Você é muito teimosa, Karen! Como vai criar uma criança morando aqui? Esse apartamento mal dá para se mexer dentro.  Aposto que o quarto não cabe um berço!
_ Qual o problema, Daniel? Esse apartamento não está aos pés da dignidade da sua família? Imagina só, sua mãe ter que apresentar a neta que mora num bairro de classe C. Seria muito humilhante pra vocês, não é mesmo?
_ Porque está agindo assim? Você fala da minha família como se eles tivessem culpa de tudo o que aconteceu!
_ E têm, Daniel!  A sua mãe não foi com minha cara desde o primeiro dia em que me conheceu! Eu achei que com o tempo ela iria se acostumar e a implicância iria acabar, mas o que aconteceu? Ela e Stella armaram, puseram aquele detetive atrás de mim. Foi tudo armado!
_ Ah,sim, inclusive o beijo que você deu nele no carro! Karen, você agiu errado! Se elas armaram algo, você colaborou pra isso! Nessa história você não é inocente!
_ Ok, Daniel! Já falou tudo o que tinha pra falar? Se sim, por favor, vá embora! Estou começando a ficar estressada com isso. Você acha que fiz de caso pensado, que te traí... Não foi nada disso... Você nunca vai entender, nunca vai confiar em mim novamente ...então, o melhor que temos a fazer é mantermos distância e conversarmos só o necessário.
_Tudo bem, mas ao menos, pense na minha proposta .
_ Não. Isto há muito tempo está decidido. Vou ficar aqui. Está é minha casa.Não quero depender de ninguém, não preciso de você! E agora se me der licença preciso ir me encontrar com a Mari. Vamos ao cinema. Combinei de encontrá-la no shopping.
_ Posso te dar uma carona. Está garoando.
Karen olhou pela janela, uma garoa fina caía naquele fim de tarde de domingo. Resolveu aceitar. A última coisa que precisava era arranjar um resfriado.
_Tudo bem. Preciso me arrumar. Você  não se importa de esperar?
_ Eu espero.
Karen seguiu até o quarto para escolher uma roupa. Optou por usar um vestido soltinho na cor nude  e uma jaqueta jeans . Prendeu seus cabelos num rabo de cavalo, sua franja caiu sobre a testa, lhe deixando com um ar quase infantil. Passou um gloss, pegou sua bolsa e saiu.
Daniel a esperava de costas, olhando pela janela. Sentindo sua presença, se virou , a mirando de alto a baixo. Seus olhos deixavam transparecer sua admiração e Karen não pode deixar de sentir um certo prazer em provocar essa reação nele. Daniel passou a mão pelos cabelos, ela desviou o olhar. Era bom saber que ele ainda sentia alguma atração por ela.
_ Estou pronta. Podemos ir.

SEGUNDA INTENÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora