Impressões digitais

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— Cat! Onde está você?

— Aqui embaixo! — respondeu ela. — Estou no porão!

Milena abriu a porta, que revelou uma pequena escada de madeira escura. Nós descemos e encontramos, no meio de móveis antigos, caixas e roupas, um laboratório completo. Máquinas, tubos de vidro, uma mesa grande, um tanque. Parada em frente à mesa, estava Catarina.

Tirando o uniforme do colégio, quando vestia blusa verde-escura e calça jeans, como todos nós, Cat tinha o hábito estranhíssimo de praticamente só usar roupas pretas. Nós já estávamos acostumados com aquela esquisitice, mas era engraçado ver a Catarina de jaleco branco por cima da roupa, como os que são usados em laboratório. Aliás, de luvas de borracha, cabelos presos em um rabo-de-cavalo, e diante de um microscópio, Cat parecia uma verdadeira cientista.

Sem tirar os olhos do que examinava, ela nos cumprimentou. Marco perguntou:

— Que lugar é esse?

— A bat-caverna! — respondeu Cat, sorrindo. — Estou brincando. Aqui é o meu laboratório particular de investigações criminais.

— E o que você está fazendo aqui no seu "laboratório"? — quis saber Marco.

— Estou testando um método de tirar impressões digitais. Podemos precisar disso para resolver esse caso.

— Como funciona esse método? — perguntou a Milena.

Catarina resolveu explicar demonstrando.

— Vou colocar a minha mão naquele espelho. Para tirar as minhas impressões digitais dali, primeiro jogamos um pó fino, que pode ser pó-de-arroz, na superfície que queremos examinar. Isso serve para destacar as impressões. Espanamos o excesso de pó. Depois, colamos por cima uma fita ou papel adesivo transparente, e voilá! Aqui estão as digitais!

Todos nós quisemos olhar e repetir a façanha com as próprias impressões digitais. Fizemos várias experiências e, no final, já sabíamos distinguir as marcas pessoais de cada um.

— Que legal! — exclamei. — Estou me sentindo em um seriado de TV!

Catarina limitou-se a me dar um breve sorriso e arquivou nossas digitais em lâminas de plástico.

— Para que isso? — perguntou Marco.

— Nunca se sabe. Não custa nada ter o nosso arquivo de digitais.

Milena, sempre querendo organizar o trabalho, perguntou:

— E agora, por onde começamos? Cat, alguma teoria?

Catarina guardou o material de tirar impressões digitais em um estojo de madeira enquanto respondia:

— Eu andei pensando naquela história do autor do roubo ser um parente de Mestre Shiro. Cada vez mais eu me convenço de que se nós formos por aí, estaremos no caminho certo.

— Só porque não havia sinais de arrombamento?

— Pensem comigo. Quem roubou esse rubi não foi um ladrão qualquer. Não levaram mais nada da casa. Somente a pedra. Quem fez isso, sabia que só uma pedra era verdadeira, e qual era. O que nos traz novamente à família de Mestre Shiro.

— Certo. — concordou Marco. — Não é preciso ser nenhum gênio para concluir isso, dona Catarina.

Cat não se incomodou com a alfinetada do Marco. Continuou raciocinando:

— Marco, os Hideaki tem filhos?

— Não, eles não têm filhos.

— Nem empregados?

— Não. Na casa de Mestre Shiro, só vivem a mulher e ele.

— Isso realmente limita o número de suspeitos para os integrantes da família que estavam na festa.

— Não pode ser, Catarina — protestou Marco. — Por mais que eu veja lógica no seu raciocínio, os suspeitos de quem você está falando são a mãe, os irmãos e os sobrinhos de Mestre Shiro! Não pode ter sido nenhum deles.

Catarina balançou a cabeça.

— Como você é precipitado, Marco! Esqueceu-se de dois suspeitos importantíssimos.

— Ah, então você admite que o autor do roubo possa não ser nenhum deles?

— Claro que não. Eu quis dizer que você se esqueceu de incluir na sua lista de suspeitos o próprio Mestre Shiro e a mulher!

Marco quase engasgou:

— Ficou maluca?! Por que eles roubariam seu próprio rubi?

Cat deu de ombros, friamente:

— Sua ingenuidade, às vezes, é tocante, Marco. Algumas pessoas roubam seus próprios objetos de valor para receberem o dinheiro do seguro. Mas não se preocupe com o seu professor. Se esse fosse o caso, ele deveria ter dado queixa à polícia, e ele fez justamente o contrário.

— Então ficamos com o resto?

— Por enquanto, sim. Mas se descobrirmos que mais alguém sabe da história do dragão, uma pessoa de fora pode entrar na lista dos suspeitos, embora, digo e repito as suas palavras, não houvesse sinais de arrombamento.

Eu interrompi:

— Chega de blá-blá-blá, Catarina! Qual é o próximo passo?

— Os Hideaki não têm filhos ou empregados. Poucas pessoas devem mexer nesse dragão. Talvez só mesmo Mestre Shiro e a mulher... E o ladrão do rubi. Suponho que o próximo passo seja tirarmos impressões digitais do dragão e compará-las com as digitais da família Hideaki.

— Epa! — exclamou Marco. — Como vamos fazer isso?

— Você pode conseguir as impressões de Mestre Shiro na sala de judô. Se conseguirmos entrar na casa de Mestre Shiro para pegar as impressões do dragão, tenho certeza que haverá algum jeito de também conseguir as impressões da Sra. Hideaki em algum objeto. Já é um começo.

— E como vamos entrar na casa de Mestre Shiro e ainda por cima conseguir todas essas digitais?

— Não sei. — confessou o gênio da turma. — Precisamos de um plano.

Essa era a hora da Milena aparecer com a solução. E foi o que ela fez:

— Acho que eu já sei o que podemos fazer para entrar na casa dos Hideaki! Maria Luíza, você uma vez disse que suas irmãs mais velhas foram bandeirantes...

— Escoteiras? Foram... Mas não percebo o que isso tem a ver com o caso. Eu não sei fazer fogo com gravetos ou me orientar sem bússola...

— Nem com ela — completou Catarina, com o sorriso do gato da Alice no rosto.

— Não precisamos de nada disso — assegurou Milena. — Eu só estou tomando emprestada a credibilidade que as escoteiras têm...

O Mistério dos Três DragõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora