Impressões digitais

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                                                                      Maria Luíza

As reuniões noturnas do Primeira Página costumavam ser na casa, ou melhor, no casarão da Catarina, no Jardim América. Ela era criada pelo avô, dono de um dos mais tradicionais antiquários de São Paulo. Como ele estava sempre às voltas com viagens e jantares de negócios, não se incomodava que fizéssemos da sua casa o ponto de encontro noturno do nosso jornal.

Mas, aquela noite, mal fomos recebidos pela governanta, ouvimos uma voz perguntar lá de dentro:

— Quem está aí?

— São os amigos da Catarina, seu Paulo.

O dono da voz que veio lá de dentro era o avô da Cat, que apareceu na sala em um terno impecável.

Seu Paulo era o tipo de homem que só não era mais elegante por falta de espaço. Era alto e magro, mas forte, com jeito de quem já havia praticado esportes na juventude. O rosto era quadrado, os olhos, azuis, e os cabelos, brancos, com jeito de terem sido, um dia, tão louros quanto os meus. No geral, não tinha muito a ver com a neta. Cat tinha a pele clara como a dele, mas olhos e cabelos escuros, como uma descendente de árabes ou portugueses, o que me fazia suspeitar que o pai que ela não conhecia era descendente de um desses povos.

Ao dar de cara com a gente em seu hall de entrada, seu Paulo abriu um sorriso simpático.

— Ora, é a turminha do jornal! Como vão vocês?

— Muito bem — respondeu Milena, educadamente. — E o senhor?

— Também muito bem, minha menina.

— Nós viemos estudar com a Catarina. Ela já chegou da aula de violino?

— Já. Ela me disse que estava esperando por vocês. O que vão estudar hoje?

Respondemos ao mesmo tempo:

— Matemática!

— Ciências!

— Geometria!

— Afinal, vocês vão estudar o quê? — estranhou o avô da Catarina.

— Um pouco de cada! — consertou Milena.

— Boa sorte! — e ele sorriu, orgulhoso da inteligência da neta. — Vocês sabem que acompanhar a Catarina não é mole...

— Faremos o possível. — assegurou Milena.

— Bem, tenham uma boa noite, então. Tenho que ir a um jantar de negócios. Mas fiquem à vontade para procurar a Cat — e dirigiu-se à governanta. — Providencie um lanche para os meninos. E peça para o motorista preparar o carro para mim, por favor.

Nós nos despedimos do avô da Cat e saímos em busca dela.

* * *

A porta do quarto da Cat estava entreaberta, mas não havia ninguém lá. Estávamos tentando adivinhar onde ela poderia estar, quando Einstein, o amistoso beagle do gênio do nosso jornal apareceu.

— Olá, Einstein! — cumprimentou Milena, acariciando o focinho dele. — Onde está sua dona?

Como se tivesse entendido a pergunta, Einstein guiou a gente escada abaixo, até uma porta misteriosa que ficava na copa, um pouco antes da entrada da cozinha.

Marco bateu na porta e chamou:

— Cat! Catarina!

Nenhuma resposta. Eu repeti:

O Mistério dos Três DragõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora