Quebrando as tradições

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                                                                 Milena

Yoko ergueu o queixo, em uma atitude desafiadora:

— Se eu roubei a primeira pedra, então quem roubou a outra pedra e o dragão?

Marco olhou bem para cada um dos presentes.

— Houve um detalhe na festa da casa de Issey que eu não contei para ninguém, porque julguei que não tivesse nenhuma importância. Mas essa tarde, depois de raciocinar como a Catarina, de me lembrar de uma brincadeira da Maria Luíza, e filtrar os fatos como a Milena, eu examinei cuidadosamente uma possibilidade que parecia absurda. Foi como achar a peça perdida de um quebra-cabeça.

Maria Luíza perdeu a paciência.

— Chega de suspense, diacho! Que detalhe foi esse?

— Na hora do roubo da segunda pedra, a velha Sra. Hideaki esbarrou em mim. Ela estava indo em direção à casa de Issey.

— E daí?

— E daí que foi ela que pegou a pedra. E foi ela que pegou o dragão verdadeiro da casa de Saburo.

Issey, Saburo e Akira levantaram ao mesmo tempo. Akira agarrou Marco pela gola:

— Como se atreve a acusar minha avó?

A voz da velha Sra. Hideaki se fez ouvir:

— Largue o garoto, Akira. Ele disse a verdade. Eu e a Yoko arquitetamos o roubo do dragão.

Todos olharam estarrecidos para a senhora, que ocupava placidamente a sua poltrona no centro da sala, como uma estátua.

— M-mas por quê?

— Talvez o nosso detetive tenha uma boa explicação.

Marco não se fez de rogado.

— Confesso que comecei a desconfiar da senhora por causa do encontrão que demos na casa de Issey. No princípio, achei essa possibilidade absurda, mas depois vi que seria perfeitamente possível que a senhora fosse a autora do roubo, junto com a Yoko.

— Por quê?

— Primeiro, porque a senhora não foi sequer consultada sobre a partilha do dragão. Seus filhos distribuíram a herança como bem entenderam, achando que a senhora aceitaria qualquer decisão. Todos veem a senhora como uma mulher que aceita, conformada, as tradições. Só que esse perfil não combinava com a ideia que eu formei da senhora.

A velha sorriu:

— Que ideia você tem de mim?

— Bem, para mim a senhora é uma pessoa avançada e liberal.

— Por quê?

— Porque a senhora era a única pessoa que apoiava o namoro proibido de Akira e Yoko. Pelo menos, foi o que eles disseram na conversa que as meninas ouviram. Nenhuma mulher que aceita as tradições, sem questionamento, apoiaria um namoro que não era bem visto pelos pais.

— Você está certo, rapaz. Embora eu pareça conformada, sempre odiei as tradições sem sentido! Eu ia vender este dragão para ajudar a Yoko e o Akira. Queria muito que eles realizassem o desejo de ficarem juntos. Eu me casei contra a vontade. Sempre fui obrigada a andar um passo atrás de meu marido. Não desejava que a minha única neta fosse obrigada a andar um passo atrás da família inteira. Esse dragão simbolizava para mim todas as tradições que eu sempre tive que seguir. Vendê-lo seria como quebrar todas elas. Seria um alívio.

O Mistério dos Três DragõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora