Cinco

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"Você escolheu dançar com o diabo e você o ama agora." — Swim, Chase Atlantic

Estaciono o ferrugem em frente a casa de Aiken e faço uma pequena lista mental das coisas que eu devo falar.

Ferrugem é o apelido carinhoso que Katherine deu para o meu carro. Não é como se ele realmente estivesse enferrujado, mas ele é um clássico antigo, portanto Katherine o associou a algo cheio de ferrugens. Meu pai havia me dado ele quando eu recebi minha carteira de motorista. Tem um valor emocional forte demais para ser vendido ou trocado.

Desço do carro e começo a andar em direção a grande casa de dois andares à minha frente. Logan escolheu morar afastado do campus, e eu lhe entendo perfeitamente. Deve ser bom não ouvir as músicas das festas de fraternidades que duram a madrugada inteira ou não precisar se preocupar com os adolescentes barulhentos de um prédio.

Bato na porta.

Cada célula do meu corpo cai em arrependimento. O que diabos eu tenho na cabeça? De repente o ar ficou pesado demais e o nervosismo começando a me dar frio na barriga.

Começo a revisar minha atitude de vir até aqui apenas para dar um final digno ao nosso relacionamento. Não faz o menor sentido.

Afinal, ambos já havíamos entendido que nossa última briga foi um término.

Mas de algum modo eu ainda me sinto terrivelmente presa a ele. Como se tudo e todos fossem um lembrete de que ele existe. Eu não gosto da sensação, mas ainda me pego abraçando o travesseiro e imaginando que ele está ali.

Giro sobre meus calcanhares e volto a andar em direção ao carro. Ainda dá tempo de desfazer o erro que foi vir até aqui. A lua ilumina a grama verdinha do jardim de Aiken, e por alguns segundos desejei que ele cuidasse de mim como cuida de seu jardim.

— Hildegard, sempre fugindo... — Paralisei. Sua voz era grave e terrivelmente bonita.

Suas palavras me causam um pequeno arrepio. A única coisa que rompe o silêncio da noite é o som de nossas respirações e alguns insetos escondidos pelos arbustos.

Viro.

Lá está Aiken. Vestido apenas em uma jeans escura, exibindo seu peitoral bem definido e suas tatuagens cheias de significados. Incrivelmente bonito. Seu cabelo estava escondidos por um boné surrado com uma mancha de tinta na ponta da aba. Seu corpo alto e magro escorado no batente da porta.

— Eu não estava fugindo. — disse, soando irritada e acima de tudo mentirosa.

Minha fuga estava muito obvia naquela situação.

— Não? — Ele ficou mais próximo, muito próximo. Pude sentir o cheiro característico de seu perfume misturado ao cigarro e menta. Ele sempre cheirava assim.

E aquele era meu cheiro preferido no mundo.

— Não. — afirmei. A verdade é que eu sou uma idiota sem controle das próprias ações ou palavras.

Uma fracassada em todas as possíveis maneiras.

— O que você quer, Kiara? — Ele mudou o assunto e seu tom de voz abruptamente.

Você.

Nosso relacionamento foi desastroso, mas cada parte do meu corpo amava nosso desastre. Acho que tinha um ímã para confusão grudado no âmago do meu ser.

— Eu só...— Minha voz falhou umas três vezes antes de eu ter fôlego o suficiente e soltar as palavras presas em minha garganta. — Eu sinto que nós nunca tivemos um fim, Logan. Eu realmente achei que vir aqui, olhar para você, te enfrentar... Iria ser um novo recomeço para mim.

Logan faz um pequeno gesto com a cabeça e eu coro diante a sua beleza.

Ele não era o tipo de garoto que se esforçava para ser bonito. Tudo nele era naturalmente chamativo. Violentamente atraente.

Mas quando olha-se para alguém como ele, deve-se ler as entrelinhas.

E as de Logan gritavam: cuidado.

— E está dando certo? — ele pergunta. A voz malditamente lenta e rouca era como uma tortura.

— Na verdade não. — confesso.

O plano era vir aqui, falar as coisas que deveria falar, e depois me sentir livre o suficiente para voltar para casa pensando em qualquer coisa que não seja Aiken.

Mas não está funcionando.

— E o que quer que eu faça? — ele pergunta, sínico. Ele chega mais perto e instintivamente recuo.

— Quero que me liberte.

A verdade é que desde o dia em que eu conheci Logan, eu não sei mais o que liberdade significa.

— O que? — Ele solta uma risada e olha para os lados, como se eu tivesse contado a melhor piada que ele já ouvira antes. — Eu não estou prendendo você, Kiara.

— Sim, você está.

— Não, não estou. E se eu estivesse eu não ia querer libertar você. — Sua expressão é séria, agora.

— Aiken, eu amo você e isso está me matando. — Eu luto fortemente contra onda de emoção que está avançando sobre nós.

— As vezes vale a pena morrer por algo que amamos, bebê. — Ele dá mais alguns passos, dessa vez não recuo.

Eu quero recuar, mas eu sou fraca demais pra isso.

Eu sou fraca.

Inutilmente fraca.

Então ele me beija.

E maldito seja Logan Aiken por beijar tão bem.

Eu senti falta dessa sensação, mas aos poucos recobro consciência e o empurro.

Corro até meu carro e o ligo o mais rápido possível.

Eu não posso continuar sofrendo por um filho da puta como Logan.

Eu estou sã, e devo  correr dele.

— Hildegard, sempre fugindo...— o ouvi gritar, antes de pisar no acelerador e ir embora.

Como se o tempo compartilhasse do mesmo humor que eu, pequenas gotas de chuva começaram a se formar e molhar os vidros de meu carro.

Sorrio irônica.

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