CAPÍTULO 12 - MEIA DÚZIA DE PROMOTORES DO CAOS

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O resto do dia correu de acordo com o decreto de Elinor: mais técnicas básicas de desarme e luta corporal, mais informações sobre o planejamento da viagem. Elinor explicou a Kristina que Briel nunca quisera forjar aquela armadilha para Ronan, mas que ela tinha conversado com ele e dito que sabia o que estava fazendo, pois já tinha uma experiência de quase dez anos na militância e sabia que Ronan, naquelas circunstâncias, não seria morto. Kristina teve que acreditar.

Mais tarde, Esteban lhe pediu uma foto para fazer uma identidade falsa, como todos no grupo tinham, para garantir mais segurança na viagem. Ao início da noite, Kristina tomou um banho quente e, na medida do possível, revigorante. Após o jantar todos foram dormir.

A casa tinha quatro quartos, todos suítes. Esteban ocupou o seu, Franke e Tone dividiram outro, Marko e Elinor pegaram o terceiro e Kristina ficou na suíte ao lado, a de Adriana. Adriana deixou a cama para Kristina e arrumou um colchão para si. As duas se deitaram e apagaram a luz. Depois de se revirar na cama por uns quinze minutos, Kristina pediu para ir à cozinha buscar um copo de água.

— Eu já disse: fica à vontade.

Com cuidado para não fazer barulho, ela foi até o corredor. A casa já estava toda apagada, exceto pelo quarto de Elinor e Marko. Lá de dentro saíam vozes baixas.

— Ele vai, sim — disse a voz feminina. — Claro que ele tá com medo, mas a gente tem que fazer ele voltar a achar que a luta é mais importante. Se a gente não acabar com a ditadura, toda a nossa vida vai ser medo, e no fundo ele sabe disso. Nem precisa ir tão no fundo assim, na verdade. Essa sensação de precisar lutar pra melhorar, isso é forte no Briel, a gente só precisa despertar isso nele de novo.

— Pode ser — disse a voz masculina. — É, acho que você tá certa.

— Já a Kristina é mais difícil. Mesmo ela não agindo no plano, é quase nossa confidente agora. O ideal seria que ela tivesse o mesmo pensamento que a gente. Mas ela não é de luta.

— Da vez que eu falei com ela na casa dela até aqui, já dá pra ver que ela tem uma vontade de mudar, pelo menos. A gente tem que fazer essa vontade crescer, mostrar pra ela a importância do que a gente tá fazendo. Importante até pra fazer o pai dela não ter sido em vão. Mostrar que esse é o único jeito real de mudar o país.

Um dos dois respirou fundo e as vozes pausaram. Kristina passou logo pelo corredor em direção à cozinha. Demorou para descobrir onde ficavam os copos. Na volta, a porta do quarto de casal estava semiaberta e a luz ainda acesa, mas os ocupantes apenas deitados, em silêncio, prontos para dormir. A garota ia continuar seu caminho, mas no meio de um passo ficou em dúvida e congelou com um dos pés ainda no ar. Por fim decidiu bater à porta, e foi chamada a entrar.

— Tá tudo bem? — perguntou Elinor. Ela e Marko se sentaram na cama enquanto Kristina hesitava entre fechar a porta ou mantê-la semiaberta. Optou pela segunda.

— Tá. Eu só... — Não queria gaguejar, então escolheu dizer a verdade. — Eu ouvi vocês, agora há pouco. Falando do Briel e de mim.

— Quer conversar? Pode sentar se quiser. — Elinor apontou o sofá que havia no quarto e Kristina o ocupou.

— Vocês disseram que eu não tenho o mesmo pensamento que vocês. O que isso quer dizer?

— O pensamento de necessidade — disse Marko. — É uma coisa que a gente acredita muito. É a essência da política.

Kristina passara muito tempo da vida acreditando que "política" era sinônimo de "voz do governo Sarto", e essa voz sempre falava em necessidade. Era necessário prender os rebeldes, era necessário reestruturar Kailan. Briel, o primeiro contato de Kristina com um pensamento político alternativo, dizia que era necessário lutar por mudança, pelo fim da ditadura. E agora Marko, Elinor e o resto do grupo afirmavam a necessidade de matar o presidente. Todas essas necessidades eram sempre caminhos a se percorrer, mas qual seria o destino, o objetivo final da política? Paz? Felicidade? Liberdade?

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOWhere stories live. Discover now