Chapter Two: The Main Star

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Capítulo Dois: A Estrela Principal

- Você está tão bonito hoje, Luke.
- Eu sei... - respondeu ele encarando o reflexo no espelho.
- Seu cabelo está perfeito... - disse a garota ajustando alguns fios rebeldes que insistiam em sair da posição. -... Quem sabe não é hoje o seu dia de sorte.
- Sorte eu tenho todos os dias Liz, preciso de um pouco mais que isso. Espero que ele venha com a filha mais velha hoje, ela é a mais fácil.
- É... E a menos exigente também. - disse soltando um risinho tímido.
Luke morava há três, talvez quatro anos no St. Ann Hope, mas parecia fazer tanto tempo que sentia como se tivesse nascido lá. Conhecia praticamente todos os cantos do hospital psiquiátrico, e sabia seus segredos, mas fingia que não, e só por isso conseguira sobreviver tanto tempo ali dentro.
Por mais que manter uma aparência incrível e ter um tratamento invejado pelos outros pacientes fosse uma coisa ótima, claro que ele queria mais. Sua meta era não ser mais o "paciente". Assim como todo mundo ele queria sair, ser livre, e era o que tinha mais chances de conseguir. Ainda assim, depois de todos esses anos só conseguiu ver a rua uma vez, e nem sequer tocou o asfalto, ou sequer falou com as pessoas. Ninguém o notou, como sempre, ninguém soube da sua existência. Essa era uma das coisas que mais o irritava: era popular, mas só entre um bando de doentes mentais que dividiam o mesmo hospício com ele:
- Vai conseguir dessa vez Lu. - disse Liz beijando sua bochecha esquerda.
Liz era a única que valia a pena. Ele não a considerava louca ou algo do tipo, pelo contrário, era muito bem ajustada. Infelizmente naquela época depressão não era uma doença normal, e quando Akemi Elizabeth Nagara passou cinco dias inteiros enfiada num quarto chorando, seus pais pensaram que estava enlouquecendo, ou que maus espíritos estavam a atormentando, então a internaram imediatamente, sem nenhuma chance de se explicar, sem sequer tentar entender. Desde então ela ajudava na cozinha, já que era umas das únicas "confiáveis" para se deixar uma faca. Diziam que a única pessoa que ela podia realmente machucar era ela mesma, ou seja, um paciente a menos não seria problema.
Eles se conheceram quando foram pegar batatas na dispensa um dia, e Luke conseguiu convencê-la à lhe dar uma das facas para que ele tivesse a chance de fugir. No final, ele sequer chegou ao corredor de entrada e os dois ficaram sem comer por uma semana.
Foi um bom motivo para Liz o odiar, mas ela concordou que eram os únicos mais lúcidos de todo o hospital, e que seria saudável para os dois terem um ao outro sempre por perto.
Akemi era de uma família rica de imigrantes japoneses que se mudaram durante a guerra para a Inglaterra, e com dificuldade conseguiram, aos poucos, se estabilizar no novo país graças ao comércio de papel e seda. Após ser internada lá, nunca mais soube do paradeiro deles.
Por mais que passassem a maior parte do tempo juntos, e fizessem tudo juntos, Luke a enxergava como uma "irmã de outro país", como ele mesmo dizia, e eram realmente muito amigos para tentar algo mais. Não que Liz (que era como gostava de ser chamada, pois era a única japonesa, e ser chamada pelo nome inglês a fazia sentir menos estranha) não fosse bonita, até era bom ver um tipo de beleza diferente, "exótica", mas ele estava muito ocupado planejando sua fuga pra reparar em alguma garota.
Liz sentia o mesmo, ou quase o mesmo. Tinha um apreço e um cuidado enorme com ele, era sua única família ali dentro, mas às vezes, quando o nome de uma garota ou outra era citado, ela sentia um incômodo forte puxando o estômago, quase como um soco, e algo querendo sair. Mas ela continha, como sempre.
Era impressionante, como uma pessoa tão equilibrada podia estar presa ali dentro? Sendo impedida de viver... Pensava Luke sempre que olhava dentro dos olhos calmos de Elizabeth.

A porta pesada de composto de carbono se abriu num clique, e os dois olharam para trás sem muita surpresa: era só mais um paciente chegando.
Passou então Billy Joe, o enfermeiro barra segurança que sempre trazia os novatos, sempre com uma maca cirúrgica ou numa cadeira de rodas, às vezes arrastando o coitado por uma camisa de força.
Lembrava mais um esqueleto, e não uma pessoa. Era uma menina muito magra, loira, estática, com o olhar fixo no teto, sequer a agitação das pessoas ao redor dela conseguiram chamar sua atenção.
Os dois se levantaram e foram até a porta olhar mais de perto:
- Parece até que já foi operada... - disse Liz se apoiando na parede e cruzando os braços. -... Coitada.
- Deve ter vindo de alguma das bases de que eles tanto falam.
- Talvez... - ela franziu as sobrancelhas - ... Mas tem algo de estranho nela Luke.
- Todos temos algo de estranho aqui, amor. - disse ele rindo.
Mas talvez realmente houvesse alguma coisa, Liz só o chama de "Luke" quando é assunto sério. Porém ele preferiu ignorar, já tinha problemas demais pra se importar, e precisava se arrumar para a noite de hoje.

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⏰ Last updated: Apr 23, 2018 ⏰

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