08. Dancing in the dark, with you between my arms

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A peça correu melhor do que Millie imaginou que seria. Por sorte todos eram ótimos atores - que porém estavam lá provavelmente com o mesmo intuito que ela - então ninguém errou nenhuma fala nem nada do tipo. Carl, o garoto que ela beijaria no final da peça, contou a ela na coxia que um dos garotos perdidos tinha fugido do roteiro um pouco demais, mas outro no grupo improvisou uma resposta e com isso ainda arrancou risadas da plateia.

Millie deu sorte por aquele tal Carl acabar sendo na verdade bem simpático. Ela confidenciou sua ansiedade a ele e ele admitiu que também estava um pouco nervoso com ter que beijá-la. No fim eles combinaram de fazer bem rápido para acabar logo e assim pareceria propositalmente rápido. Millie tinha que admitir que não achou isso um acordo muito profissional, mas a tranquilizava o fato de que ele provavelmente mudaria até a próxima exibição da peça, na noite seguinte.

Com o bom desenrolar da apresentação, depois de uma hora e meia a cena do beijo chegou. Millie estaria apoiada na janela, e Carl estaria para fora.

Seria algo bem Romeu e Julieta, na verdade. Exceto que muitos não interpretavam Wendy e Peter como um casal, e outros interpretavam como crianças demais para isso, e achavam que isso acabava estragando toda a essência da infância e de não precisar se preocupar com problemas adultos contida na peça.

Millie não tinha certeza de como interpretava isso, mas não estava ali para julgar, afinal. Estava ali para atuar. Assim como estava para 90% das coisas.

Dali, seu olhar percorreu a plateia em busca de Finn, mas é claro que havia muita gente ali. Ela demorou para achá-lo, mas por fim encontrou seus cachos inconfundíveis no canto esquerdo do salão. Ela não conseguia vê-lo muito bem, mas conseguiu distinguir um sorriso encorajador. Ela sorriu de volta, o mais discretamente que conseguiu.

O garoto Carl ficou na ponta dos pés para alcançar a janela. Ela se inclinou e o beijou, e logo eles se afastaram. Ela se lembrava que, se seguisse o roteiro à risca, deveria ter tocado o rosto do garoto, mas não fez isso. Ele partiu, acenando, e Millie ficou o olhando indo embora com a maior cara de apaixonada que conseguiu.

Depois disso eles foram para a coxia, esperando o narrador finalizar a peça. As cortinas se fecharam uma última vez, e houve uma onda de aplausos e assobios. Todos os atores que estavam lá atrás comemoraram o sucesso da peça. Muitos abraçaram Millie. O Menino Perdido número 4 a lascou um beijo bem molhado na bochecha, e ela apenas riu diante disso. Estava animada demais para ficar irritada com qualquer coisa.

Ela tinha conseguido. Tinha passado pela grande estreia, e pelo beijo pela primeira vez. Ela ainda teria que passar por isso mais três vezes até o final das exibições, mas não se importava mais tanto assim. Uma a uma, uma hora aquilo teria fim.

Já fora uma. Faltavam três.

...

A festa de estreia não era um evento tão grande quanto o esperado. Cada ator poderia levar no máximo dois convidados.

Millie levou cinco.

Ela odiava quebrar as regras desse jeito - odiava quando atores famosos achavam que poderiam sair fazendo qualquer coisa que quisessem só porque ocupavam uma posição de status -, mas ela havia conversado com a direção da peça e com os organizadores da festa, e assim eles permitiram, afinal quem diria não para as crianças de Stranger Things?

Ela também não queria ter que excluir uma parte do elenco - grande parte, na verdade. Sempre fora daquelas que partiam do princípio; ou você convida todos, ou não convida ninguém. Além do mais, ela não se achava capaz de escolher apenas dois entre seu elenco.

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