Dia de colocar Juízo na cabeça

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Por mais incrível que parecesse ser eu queria que o ônibus nem ao menos vinheçe em vez de se atrasar, não tinha palavras para dizer a Hanna, ainda que tivesse desde a hora que acordei pronunciando o mesmo texto elaborado, ainda sim tinha o pressentimento de que algo ruim ia acontecer, pois sempre fui péssimo em falar o que sinto, e isso não seria uma exceção, na verdade seria pior, afinal nem a conheço direito e poderia dizer estar gostando dela.
Olho em minha volta, e por cima de uma casinha azul consigo ver o sol nascer, por causa da lonjura de minha escola eu era obrigado a sair antes mesmo do sol raiar. Era lindo, o céu estava repleto de nuvens, com aves voando e pousando nos galhos. Minha dispersão acaba sendo tão grande que nem percebo o ônibus, mas sim o vejo apenas quando esta indo embora, corro atrás dele gritando por uns dusentos metros, dando tempo do motorista e de todos abordo caçoarem de mim. Quando entro, procuro um lugar para me sentar ao lado de outra pessoa, e por sorte encontro uma vaga no quarto par de bancos. Não olho em volta, com medo de ver aqueles olhos azuis me fitando e acabar cedendo a tentação de se sentar ao seu lado, imagino apenas o que Hanna estaria pensando, talvez o porquê de eu ter sentado longe dela, ou se eu estava bem, ou se ela nem ligava para esse fato. Acho que a terceira opção era mais obvia, tinha certeza, e colocaria ate minha cabeça em uma forca, mas negaria ate a morte que o que ela sente por mim não passa de amizade e nada mais que isso.
Desço do ônibus ainda lembrando de meu vexame e nem se quer olho no rosto do motorista. Quando passo pelo portão, vejo Estevam encostado em uma das colunas, com seus fones de ouvido, desligado do mundo.
-Oi- Digo ao me aproximar.
-Oi. -Ele tira os fones deixando os mesmos caídos por seus ombro, e me encara.
-E ai, melhor? Pergunto dando um soquinho amigável em seu ombro.
-Superando, mas melhor ainda não.- ele se retrai e encolhe os ombros colocando a mão nos bolsos.
Ele estava vestido com calça dins escura, uma camisa branca e a blusa da mesma cor só que com algumas palavras escritas em inglês, e seus cabelos de carvão estavam penteados dessa vez. Ele podia estar apenas “superando”, mas se vestir descentemente já era um bom começo.
-O que acha de irmos a cidade hoje depois da aula? Podemos ir ao parque de diversão, é melhor do que ficar amuado em casa. - Minhas chances de animá-lo ainda estavam de pé, e não cairiam tão fácil.
-Não sei não, não estou com clima para essas coisas. –Ele se encolhe na coluna como se estivesse com frio, mas ainda sim não desisto.
-Bobagem, é bom você ir, para distrair a cabeça.- ponho as mãos nos bolsos e o olho com um olhar esperançoso.
-Tudo bem, só vou ter que passar em casa primeiro para avisar meu irmão.- ele parecia ver o brilho em meu olhar por aceitar o convite e acaba dando um pequeno sorriso.
Eu concordo mexendo a cabeça. O sinal toca logo depois e entramos para a sala, mas como sempre, não presto atenção na aula, em vez disso imagino qual a reação de Hanna no ônibus, embora eu quisesse falar para mim mesmo que não valia a pena pensar nela, ainda sim me alto repreendi, “pensar não faz mal”, me corrigi.

A Garota do Ônibus Where stories live. Discover now