Dia Cinzento

11 1 2
                                    

Estava um dia nublado e sem cor, as pessoas estavam com um semblante baixo, não estava chovendo, mas tinha começado a esfriar, pois um vento gelado batia em meu rosto. Eu estava em uma das mesas da cantina do colégio, havia procurado por Estevam em todo lugar daquela escola, mas nada, era seu terceiro dia de falta, e isso já estava me preocupando, eu sempre o considerei um irmão para mim, não podia ir a sua casa por causa da distância e por causa também das lições que eu tinha de terminar em casa, pois na escola minha mente estava sempre ocupada, ocupada por Hanna. Eu gostava dela, isso já tinha percebido, mas era uma coisa inaceitável. Com tantos problemas para resolver, como meu amigo, e ainda sim não conseguia tirar essa garota da cabeça, idiota, sou um completa idiota.
Estava começando a me sentir estupido, devia estar preocupado com meu amigo, e não com uma garota que conheci há apenas três dias, muitos ririam de mim se eu dissesse estar apaixonado por uma garota que conheço há tão pouco tempo, e isso realmente era tolice, por mais que doía falar isso, mas era verdade. Hanna nunca gostaria de alguém como eu, e esse relacionamento que criei com ela estava me fazendo mal antes de mesmo de se tornar algo mais sério. Ela não é para mim, ela é linda e com certeza deve ter algo a desejar muito melhor que eu, e ficar comigo estaria fora de cogitação, deveria me afastar, ou melhor, vou me afastar, antes que isso acabe ficando ainda mais embaraçoso e difícil de se deixar. Por mais que eu tenho certeza que vou me arrepender depois essa era a melhor decisão a se tomar.
Ao findar da aula, me proponho a ir andando para casa, meus pais iriam trabalhar ate mais tarde na floricultura da familia e eu não tinha incentivos para ir mais sedo embora. Coloco uma blusa de moletom com uma touca, a mochila nas costas e saio sem olhar no rosto de ninguém. Era difícil saber para onde ir, minha mente estava turbada com vários pensamentos que me abalavam, e sem perceber passo na frente de um carro, o motorista fala palavras de insulto a minha pessoa, sei, pois ouvi os gritos, mas ainda sim estava desacordado, pois não entendi nada do que ele havia me xingado. Percebo olhares me fitando como que pensassem: "quem é esse doido que nem olha por onde anda?". Mas eu não ligava, na verdade nunca me importei para o que as pessoas pensavam de mim, sempre pensei que pessoas são diferentes e cada uma tem sua maneira de agir, pensar e falar e por isso não se tem motivos para caçoar, porque você também pode ser julgado por seus erros, só que infelizmente não são todos os humanos com o mesmo pensamento que o meu. Somos diferentes.
Trombo sem querer em outro desajeitado, assim como eu, que estava andando sem rumo. Recupero-me do impacto que causei e a olhar para frente tenho uma, não tão boa, surpresa. Era ótimo ver Estevam, mas não em tais situações, ele estava com seus cabelos desgrenhados, uma blusa de moletom verde e uma calça também de moletom marrom, com meias e chinelo, seu rosto estava marcado pelas lagrimas que ali correram, seus lábios brancos, sem cor alguma na verdade, e seus olhos estavam fundos e escuros em volta como se tivesse levado um soco na cara. Ao ver meu amigo nessa situação sou obrigado a ajudá-lo, eu estava com problemas, mas sempre disse que estaria com ele em tudo, ate mesmo em horas difíceis, e essa era a oportunidade perfeita para demonstrar isso.
-Estevam? O que houve?- pergunto com um olhar intrigado e a voz tremula, pois o frio aumentava.
-Nada, estou apenas andando pera esfriar a cabeça.- ele diz encolhendo os ombros e pondo as mãos nos bolsos.
-Bom eu também, o que acha de fazermos isso juntos?- coloco minha mão em seu ombro e procuro o olhar nos olhos, sem sucesso.
-Acho que não, cada um com seus problemas, desde quando você é psicólogo?-ele retira minha mão de seu ombro e se afasta, ameaçando se virar.
-Desde que meu único e melhor amigo falta no colégio três dias seguidos sem nem ao menos me dizer o que ouve.-seguro seu braço o impedindo de ir embora, com meu tom de voz o obrigo a me encarar e percebo como seu olhar estava frio, não era o mesmo Estevam que eu conhecia.
-Ok, se você quer tanto saber... - ele deixa cair um lagrima, daqueles olhos negros que eu pensava estar esgotados- Minha mãe morreu.
****

A Garota do Ônibus Where stories live. Discover now