Quarenta e um

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Já havia se passado mais de uma semana, e eu não havia mais visto ela, trombava as vezes em João, mas me sentia mal perto dele. Odiava esses bagulhos de mentiras, e só agora percebi que eu tinha sido um canalha com ele. Por isso acabei me afastando um pouco,enquanto eu tomava coragem pra contar tudo pra ele como homem de verdade.

Ele era um cara do bem, eu que não era. Agora que tinha parado com isso precisava voltar as atividades. Eu estava meio desanimado, na verdade estressado. Não tava com paciência para fazer nada. 

— Tu tá estranho mano, aconteceu alguma coisa? — Paulo apareceu do meu lado enquanto eu terminava um cigarro.

Eu realmente não tava legal, uma dor de cabeça que não passava.

— Tô suave Paulo. Qual foi? — não tava muito afim de papo.

— Certeza? Se precisar tamo aí viado.

— Tá tranquilo. — apertei sua mão e sai dali jogando o cigarro em qualquer canto. 

Fui bater a massa, porém reparei que o grupo de marmanjos me olhava e conversava.

— Qual foi caralho? Sou viado não porra! — gritei com eles, e eles me olharam surpresos. — um bando de fofoqueiras, vão arrumar uma coisa pra fazer.

Eu tava sem paciência nenhuma.

— Dormiu de calça Breno? Tava de tanto bom humor, agora tá disparando coice pra todos os lados. — retrucou.

— Isso não é da sua conta, quer tirar meu atraso? Vai pra puta que pariu mano, não gosto dessas paradas não. Nao lembro a hora que eu te perguntei alguma porra. — continuei fazendo o meu, mas senti logo sua sombra perto de mim, e Paulo chegou do meu lado pronto pra me impedir de fazer alguma merda.

— Tu tá muito assanhadinho, alguém tem que te por no seu lugar. — não aguentou calado.

— E quem vai fazer isso? Você ou suas cocotas? — vi o homem ficar vermelho.

— É melhor tu sumir da minha frente Breno, antes que eu te parta no meio. — eu não tinha medo dele, mesmo ele sendo maior que  eu, o cara era gordo e alto.

— Breno, não faz isso cara, sabe que o chefe não gosta de briga ele tá é querendo de provocar. — Paulo resmungou no meu ouvido.

Eu tava me segurando, travando o maxilar com toda minha força, assim como meus punhos que estavam fechados.

— Tem hora que eu mesmo não aguento comigo mesmo. — resmunguei, mas não arredei o pé de onde estava.

Mantive meu olhar fixo no do cara a minha frente, com uma vontade incessante de meter um soco na cara dele.

— Tu fica esperto, se não...

— Se não, tu vai fazer o quê? — dei um passo a frente.

O homem armou um soco para me acertar, mas eu fui mais rápido e meti o pé na sua perna jogando ele alguns poucos metros de distância. Ele voltou, e eu meti um soco na cara dele, enquanto ele me pegou pela cintura me tirando do chão e me jogando no mesmo, em uma velocidade rápida. Assim que ele se preparou para me lançar mais um soco, eu já tinha dado uns três na sua cara. Ele saiu de cima meio desnorteado e eu não parei chutando seu corpo, e metendo socos em tudo que estava na minha frente.

Uma raiva descomunal surgiu em mim, e eu já não enxergava nada de tanta raiva que eu estava sentindo naquele momento. Minha respiração era ofegante, e meus golpes eram incessantes, minhas mãos estavam doendo, mas eu já não conseguia parar, imagens das minhas brigas passadas passavam na minha mente como um turbilhão de coisas.

— Breno, solta ele. — ouvi uma voz longe, mas eu não conseguia entender bem para fazer o que pediam.

Pelo contrário, eu bati ainda mais. Eram chutes, eram socos, joelhadas e tudo que eu conseguia fazer ao mesmo tempo.

— Chega filho da puta. — sentia alguém me puxando pelo quadril e me afastando daquele homem no chão, praticamente desacordado.

— Eu acabo com você seu desgraçado, quer mexer com quem tu não conhece, tu vai se fuder na minha mão, arrombado desgraçado, filho da puta do Caralho. — eu tava era com ódio.

— Chega Breno, chega! Tu tá muito fudido. — Paulo disso me empurrando para o outro lado da rua. — tu disse que era briguento, mas eu não sabia que o bagulho era feio assim. Tu tava cego e surdo Breno, o que foi aquilo, até eu fiquei com medo de você.

— Eu não podia fazer aquilo, eu não posso brigar Paulo. De novo não. Esse caralho de novo não. — passei a mão nos meus cabelos desnorteado.

— Calma, foi só uma briga, se você der sorte nem perde o salário do mês.

— Não foi só uma briga mano, eu não posso brigar Paulo. Eu brigava tanto, mais tanto que minhas mãos ficaram cheias de cicatrizes, aí eu fiz tatuagens pra cobrir. Eu não posso voltar a brigar, porque eu não vou conseguir mais parar. Mas eu estava com tanto ódio, com tanta raiva que eu só queria calar a boca dele com um murro mais forte que eu conseguisse dar.

— Tá tudo bem mano, não vai acontecer de novo. Vou falar com a chefia que foi ele quem estava te provocando, o cara é um pé no saco de todo mundo aqui. E vamo combinar que você rala muito mais do que ele. Se o cara te por pra rua é muita babaquice dele.

— Vou meter o pé. — falei passando a mão no cabelo.

— Melhor mesmo. Qualquer coisa eu passo na sua casa mais tarde.

— Eu agradeço, vou largar minhas coisas tudo aí também. Foda-se. — eu disse e sai dali andando mesmo.

Fui andando até a praça, onde me sentei por alguns minutos descansando a caminhada, para voltar a andar novamente. Mas vi o carro de Daniel, e o parei.

— Iae cara, como tá? — falei com ele e o mesmo sorria pra mim.

— Bem, e você?

— Suave, escuta tu num tem crédito aí no celular não?

— Claro, claro. Ligar pra casa? — perguntou já pegando o celular para me emprestar.

— Não, para meu avô, tive que vir embora mais cedo e acabei perdendo a carona pra casa.

— Entra aí então, tô indo lá ver meus filhos aproveito e te dou uma carona.

— Tá falando sério?

— Claro entra aí. — não neguei, é claro que eu ia aceitar.

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