Um

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— Você vai e pronto, eu já estou cansada disso não mereço isso.

— Eu já tenho idade suficiente para tomar minhas próprias decisões, não vou pra porra de lugar algum. — cuspi as palavras enquanto ela me olhava decidida.

— Breno pelo amor de Deus, você consegue se escutar? Eu não reconheço meu próprio filho mais. — cansada, ela estava exausta.

— Tu quer me ver longe né? Assim você fica mais a vontade com seu macho. — foi um lance rápido, e antes que eu conseguisse piscar duas vezes ela já tinha batido com toda sua força em meu rosto. Um simples tapa, mas que doeu muito além da pele.

— Não vou falar mais nada, seu voo sai amanhã pela manhã. Seu pai vem te buscar. — ela saiu do meu quarto me deixando sozinho com toda a confusão que estava minha cabeça.

Era quase três da manhã, e eu tinha chegado a mais o menos uma hora. Depois de ficar quase um dia inteiro na delegacia tentando explicar que eu sou usuário e não vendedor de drogas.

Minha cabeça parecia querer explodir a cada suspiro, mas eu seguia de olhos abertos. Me joguei de baixo do chuveiro na água gelada, e ali fiquei por quase uma hora.

Tava tudo uma merda, e parecia ficar pior a cada suspiro, eu não podia dizer que minha mãe estava errada por que eu sabia que quem era eu o errado ali. Não deveria estar fazendo ela passar por essas coisas, mas parecia mais forte que eu. Preferi não bater o pé, não criar mais problemas.

Peguei minha mochila e uma mala debaixo da cama, comecei a arrumar minhas coisas, e por ultimo me arrumar. Coloquei uma calça preta meu tênis surrado, um moletom preto também e por ultimo o boné. Não estava com sono, era mais uma noite que eu virava, tudo certo.

Pontualmente as seis meu pai estacionou em frente a minha casa, minha mãe chorava abraçada ao seu namorado da vez. Meu irmão mais novo olhava sem entender bem o que estava acontecendo.

— Por que você tem que ir Breno? — ele perguntou com o olhar caído.

— Eu fiz umas paradas ai, e preciso ficar longe até resolver entende? — ele assentiu.

— Por isso que a mãe tava chorando? — cocei a cabeça.

— É mais o menos por isso sim.

— Entendi, vê então manda noticias sempre, já é? — eu assenti e bati em sua mão.

— Tamo junto moleque.

Minha mãe me olhava, e eu sabia que ela queria me abraçar, mas eu não sabia bem se queria isso. Dei as costas e fui para o carro deixar a mochila.

— Breno... — ela disse baixinho. Suspirei.

Virei para ver ela, e percebi que estava muito diferente agora, seu rosto vermelho, seus cabelos presos no alto e uma roupa totalmente casual.

Ela veio andando devagar, e eu diminui o espaço. Ela pé bem baixinha e batia em baixo do meu peito. Ela ficou como estatua na minha frente olhando nos meus olhos que eram extremamente iguais ao dela.

Com um passo cheguei ao seu alcance, e fechei os olhos, toquei seus ombros e beijei sua testa levemente. Não abracei, apenas demonstrei o que eu precisava.

— Eu te amo. — ela disse.

— Eu... to ligado. — disse e ela sorriu de lado. — Bora pai. — eu entrei no carro e ignorei totalmente o otário vulgo namorado da minha mãe, que estava em frente à porta de casa observando a cena.

No carro procurei não conversar muito com meu pai, por que de todos, ele era o que eu mais sentiria falta apesar de tudo.

— Seu avô vai te buscar no aeroporto às oito e meia. Breno, por favor, vê se não faz nada que ponha a saúde dos seus avós em perigo, ok?

— Pai?

— Eu to falando serio Breno.

— Nossa, parece que eu vou dividir cigarro com minha vó. Eu sei o que eu faço.

— Aah sim, percebi. — ele disse debochado e eu revirei os olhos.

Chegando no aeroporto e suspirei, meus olhos marejaram, e antes que meu pai conseguisse notar alguma coisa eu coloquei meus óculos escuros.

— Bom, é aqui que a gente se separa moleque. — ele disse e sorriu de lado.

Apesar de os olhos da minha mãe, eu era totalmente parecido com meu pai, e qualquer um se assustava quando percebia a semelhança. Não era só fisicamente, mas em tudo, jeito de falar, andar, pensar.

— Vou sentir tua falta. — ele me abraçou.

— Vou sentir a sua também. Vou ver se naquele buraco tem algum tipo de rede, e ligo pra dar noticias qualquer hora.

— Não fala assim, aquela roça tem muito estilo.

— Tá certo. Cuida do Luan. — eu disse falando do meu irmão.

— Pode deixar. — apertei sua mão, e dei o ultimo abraço. — Vai com Deus. — ele disse e eu assenti pegando minhas coisas.

Fiz minhas coisas e fiquei no chão esperando a hora do meu voo chegar. O que não demorou muito. Cheguei lá no horário marcado, mas meu avô fez questão de me ligar antes para saber onde exatamente me buscaria.

Estava me sentindo estranho, algo parecia me deixar nervoso, talvez por saber que agora toda a minha família saber que eu usava drogas. Ou talvez por ter ouvido a voz do meu avô no telefone e imaginado o quão mal minha vó deveria estar.

— Oi vô, como o senhor esta? — abracei ele assim que o vi encostado no carro.

— To bem garoto e você? — conversamos durante todo o caminho, e ele foi contando as coisas boas que tinha pra fazer lá.

A lista era um pouco diferente do meu padrão de gostos. Ele falou sobre uma lagoa, sobre trilhas, um grupo de garotos que joga, entre outras coisas que envolvia algum tipo de exercício físico.

— Sua vó só chega à noite, ela foi a um passeio com as amigas, mas fica a vontade. Quer ir dar uma volta para conhecer a cidade?

— Não vô, ta tranquilo. Eu não dormi a noite, acho que vou tirar um sono rapidinho.

— É verdade seu pai falou que você deveria chegar cansado. Tudo bem, a gente vai amanhã então.

— Pode ser, teremos bastante tempo. Onde eu fico?

— Vou te deixar no seu quarto.

Subi as escadas e no ultimo quarto do corredor era o meu quarto. Não era tão grande quanto o meu ultimo, mas era ótimo. Tinha uma pequena sacada que dava vista para tal lagoa que meu Vô tinha comentado, uma cama de casal, ar condicionado e um armário espaçoso. Joguei minha mochila para um lado, e minha mala para outro.

Do jeito que eu cai na cama, eu apaguei, com tênis com moletom e com o boné no rosto.

Acordei com meu celular tocando, era a terceira chamada perdida de um dos meus amigos, ou melhor, do cara que eu pensei que fosse. Sentei na cama e dei uma olhada em volta, já estava escurecendo, perdi o almoço.

Sai na sacada e percebi que a casa ao lado estava toda apagada, as casas eram bem perto talvez uns quinze metros de distância. Não dei muita atenção voltando a minha ao que realmente interessava.

Aproveitei pra tomar um banho no banheiro do corredor, levei minha bermuda. Estava pouco calor, apesar do tempo estar nublado. Desci as escadas depois do banho e ouvi a voz dos meus avós vindo da cozinha.

— Oi vó. — abracei ela, que retribuiu na mesma força.

— É tão bom ver você meu menino. — ela disse beijando minha bochecha.

Ela está triste e não era pra menos, e depois de tudo o que eu fiz até eu tava engasgado.


Curiosos para saber como ele chegou aqui? Acompanhe essa história excitante.

Uma nova obra, saindo da mina zona de conforto, espero que gostem e se identifiquem com os personagens. 

02/01/2018 - estreia.

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