- E porque eles sofreriam por mim? Por você eu até entendo, afinal são seus pais, mas o que eu tenho a ver com isso? 

- Como o que você tem a ver com isso, Ana? Eles te amam e não iam querer pra você um relacionamento desses. 

O seu tom de voz baixo, suas mãos gesticulando de uma maneira claramente apreensiva, seus olhos que desviam dos meus e fitam o chão, o pé direito balançando em um ritmo acelerado, o corpo demonstrando um possível nervosismo, no arfar rápido do peito. Tudo, completamente tudo nessa sala e nessa conversa mansa está onde está, para que mais uma vez eu me sinta culpada e ceda as intenções dele.

Culpada pelas lembranças, pela ausência, pela dor, pelo choque de uma realidade diferente da que eles queriam para minha vida. Culpada pela desculpas, pelas crises, pelos medos, culpada em potencial pela separação, porque claro que Maicon Dantas não seria capaz de fazer nada de ruim para que isso acontecesse. Culpada por ser quem eu sou e por não aceitar o que me foi imposto. Culpada por amar quem não deveria e por não amar quem tinha tudo pra me proporcionar uma vida com dinheiro e regalias.

Por tudo e em tudo, falando ou permanecendo calada, lutando ou cedendo, sendo ou fingindo ser, como em um grande tribunal todos os dedos dentro desse apertado estão apontados para mim e com uma única sentença sem nenhum direito a revogação no caso. Maicon usa todas as suas armas para se negar e me culpar, porque a dor de amar é grande, mas a ferida aberta de amar e não poder, machuca além da carne e ele não está preparado pra passar por isso.

- Será um grande choque pra eles saberem da minha relação com uma mulher, mas não será nenhuma surpresa saber que o filho tão amado e livre de qualquer acusação tem uma grande parcela de culpa em tudo o que está acontecendo aqui?

- Ana não vamos entrar nesse mérito, até porque foi você que decidiu sair de casa.

- E porque eu decidi isso Maicon? Porque será que eu desisti de um casamento tão perfeito? Não queira mascarar o seu próprio preconceito e se negar mais uma vez!

- Não é preconceito.

- Ah, não? Tem outro nome agora, então? Você é um preconceituoso de merda Maicon, daquele tipinho que não aceita uma verdade diferente da sua. Tu não consegue lidar com o fim desse casamento só porque sua ex agora está com uma mulher e isso é o cúmulo da vergonha pra você, né? Como fica a sua impecável reputação diante da sociedade paulista? "Esposa do Dr. Maicon Dantas da fim no casamento pra ficar com mulher."  Inadmissível isso! É muito mais fácil se esconder, negar a verdade e jogar toda a responsabilidade nas minhas costas! E pra falar a verdade, não me importo mais com o que você pensa ou fala ao meu respeito, só não seja tão hipócrita ao ponto de usar os seus pais como escudo para esconder sua própria incapacidade! Não quebre o resto da afeição que ainda existia em mim por você e por sua família. Se você não quer entender apenas respeite as minhas decisões e escolhas, até porque você também tem as suas. Não vou esconder o meu relacionamento com Vitória, não vou negar os meus desejos e nem privar as minhas vontades, eu não tenho mais tempo pra isso Maicon, apenas sou quem eu quero ser e amo quem eu quero amar e isso não depende da sua vontade, e quer saber? Cansei de toda essa palhaçada. Se vire você e seus pais!

- Ana, não! - Toda a minha paciência e vontade de acabar de vez com essa situação evaporou mais rápido que a acetona, mas antes mesmo que eu pudesse alcançar a porta ela se abriu diante de mim e Elisa e Luiz surgiram com seus melhores sorrisos estampado no rosto..

- Aninha, que saudades. - Os braços brancos e de aparência frágeis se envolveram em torno do meu corpo e enquanto era tomada pelo abraço de Elisa pensei no meu querido gênio da lâmpada e em seus desejos. Certamente agora usaria o meu segundo e desejaria me salvar das teias, armações e abraços que ainda surgirão essa noite.

SensaçõesWhere stories live. Discover now