Konke Kufa Café

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O único aeroporto da região ficava há quatro horas de carro da capital. Os viajantes vislumbravam a nada sutil mudança de cenários: arranha-céus, área com casas simples, fazendas e depois duas horas de uma região completamente árida. Num país rico aquelas terras abandonas já teriam se tornando a Nova Las Vegas, mas aqui, só tem o Konke Kufa Café, que não passava de um pequeno restaurante com quatro mesas para seis pessoas com lanches e bebidas baratas.

Zoe e Hellen, as duas atendentes, donas, cozinheiras e faxineiras do café, compraram o lugar com todo o seu dinheiro há dois anos, o lucro era pequeno e demorou para aparecer, mas era um lugar tranquilo e elas tinham uma vida calma. Pelo menos até aquela quarta-feira.

Às onze horas da manhã um carro estacionou na frente do restaurante. Zoe estava recolhendo os pratos de uma mesa e viu, pela janela de vidro, um homem descendo do veiculo. "Merda", ela sussurrou.

– Hellen, ele está aqui! – ela disse para amiga que estava organizando o balcão de salgados.

– Como ele nos encontrou?

– Não sei, mas não vai dar para fugir.

– Atende ele que eu já volto.

– O que você vai fazer?

– Só confia em mim, tá bom?

– Só confio no que eu vejo. E eu estou vendo o cara de quem roubamos a grana para comprar esse lugar entrando pela porta a qualquer momento.

Helen sorriu.

– Não acredite em tudo que você vê. Distrai ele.

Helen saiu pela porta dos fundos, deixando Zoe sozinha no café quando o homem entrou.

– Finalmente encontrei vocês duas, suas vagabundas. Quem diria que vocês viriam se esconder nesse fim de mundo?

– Vai embora, por favor – falou a mulher – Nós duas não queremos confusão. Começamos uma vida nova aqui, nos deixe em paz.

– Só quando devolverem todo o meu dinheiro, e com os juros que eu mereço – ele saca um canivete do bolso – como destruir a cara das duas piranhas que...

Ele não conseguiu terminar a frase já que uma bala de revolver atravessou suas costelas. Zoe ficou em choque e só começou a gritar e chorar quando percebeu que sua roupa estava com respingos de sangue. Hellen estava tremula e ainda na mesma posição de quando apertou o gatilho. As duas mulheres se abraçaram e finalmente choraram. 

Zoe foi a primeira conseguir falar:

– Precisamos nos livrar do corpo.

– É quase meio-dia, os passageiros dos voos da manhã devem começar a chegar a qualquer momento para almoçar. – Hellen se sentou numa cadeira para pensar, e só então percebeu que ainda estava com a arma na mão.

– A gente pode dizer que foi legitima defesa.

– Se a policia investigar vai acabar descobrindo os negócios que estávamos envolvidas.

– O que a gente faz, então? – Perguntou, Zoe.

– Me ajuda a colocar o corpo atrás do balcão. Enquanto você se limpa, eu dou um jeito no chão.

– E se perguntarem para você sobre o sangue?

– Digo que compramos um porco para preparar um jantar que foi encomendado e o fazendeiro trouxe o animal sangrando.

As duas colocaram o plano em pratica.  Encheram o chão de palha para absorver o sangue ao redor do cadáver. Aquele dia estava mais quente que os anteriores, o que fez os clientes reclamarem do cheiro desagradável e das moscas que começaram a circular no local. Isso deixou as duas atendentes tensas e a beira de um ataque de nervos. 

Enquanto Hellen servia o almoço numa das mesas, uma criança brincava com um celular e perguntou:

– Moça, o que é "konke kufa"?

– Não sei, docinho, quando vim para cá já se chamava assim. Os antigos donos eram descendentes de escravos, então deve ser em alguma língua africana.

O menino abriu um dicionário online e escreveu o nome. Zoe, vendo a movimentação também se aproximou para ver o que a criança tinha descoberto. Qualquer coisa que distraísse a atenção das duas por alguns instantes já era um momento de alívio.

– Achei! – disse ele – É em zulu, significa "tudo está morto".

***

Desafio #27 (10/03/2018)

Desafio #27 (10/03/2018)

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