C2- Carro Branco.

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Marcar um encontro e faltar só é admissível caso você morra, ou caso alguém que você conheça morra. Foi isso que Loyal pensou, na verdade, ele não pensava assim exatamente, mas passou a crer nessa ideia após Victoria não comparecer aquele lugar. Ele pensou ter atingido toda sua cota de constrangimento desde os acontecimentos no hospital, mas pelo visto, sobrava espaço, as pessoas não economizaram nos olhares tortos imaginando o que um garoto fazia sozinho sentado em frente daquele restaurante. Não que fossem jantar ali, mas era o ponto de partida para uma noite da qual nem Loyal sabia o script.

Foram trinta e dois minutos de espera, quatorze mensagens, nada de Victoria, nenhuma resposta. Certamente ela apenas tentava fazer Loyal de trouxa. E pelo visto estava conseguindo. À noite quente fazia com que a melhor roupa que Loyal tinha grudasse em algumas partes suadas de sua pele.

Noite e calor não combinavam, por outro lado, uma garota rica e precocemente bem sucedida como Victoria também não combinava com Loyal, julgar à noite por seu calor era hipocrisia, pois se o frio não compareceu, Victoria também não.

Enquanto caminhava de volta para seu vazio lar, Loyal enviou uma mensagem para sua mãe, estava começando a ficar preocupado. Não tinha notícias dela há um dia. Além das mensagens compreensíveis a qualquer um que soubesse ler, ele também enviou em um ato de desespero dezenas de pontos, um em seguida do outro, sua intenção era fazer o celular de sua mãe vibrar e tocar continuamente para que talvez ela o desse atenção.

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Mantendo a perfeita instabilidade o tempo reservava pra si o direito de ser exatamente o oposto ao que foi no dia anterior. Agora, frio e úmido.

A única coisa quente era a rarefeita luz que invadia aquele quarto, acordando Loyal antes de seu despertador que ele não costumava usar, mas seu relógio biológico o traia com frequência ultimamente. A ausência do pesadelo estranho o fez acordar mais disposto.

Assim que abriu os olhos não pôde fazer outra coisa se não pegar seu celular e conferir as mensagens que recebeu, nenhuma mensagem de sua mãe, porém vinte e cinco mensagens da Victoria.

Ignorou todas, dane-se Victoria, sua mãe estava desaparecida. Uma feição de raiva ao ver mensagens de Victoria e medo ao não ver mensagens de sua mãe, tomou conta do semblante antes esperançoso de Loyal.

Tremendo em desespero ele saltou as escadas até a sua sala chamando alto por sua mãe.
Para seu alívio, era ela colocando café em sua xícara.

-Mãe.

-Oi Loyal. - Sorrindo ela virou-se, seu semblante parecia confortável.

-Eu não te vi ontem o dia inteiro, e não respondeu nenhuma das minhas mensagens.

-Ontem eu não consegui folga no hospital, precisei dar plantão.

-Você não é a única enfermeira de lá, deveria ter vindo.

-Foi egoísmo meu ter passado um dia tão especial longe de você, meus colegas fizeram uma festa surpresa, de qualquer forma me desculpe, além do mais nem sequer enviei uma mensagem de volta.

-Seu aniversário. - Loyal passou a mão em sua testa, levantando suas sobrancelhas e demonstrando desprezo consigo mesmo.

-Os ninjas foram mais habilidosos do que seus seguranças, não é? - Rindo ela olhou para Loyal.

-Eu apoio a ideia do mordomo parando para pensar. - Mutuamente Loyal riu, abraçando-a. - Feliz aniversário, desculpa eu ter me esquecido.

-Obrigada filho. - Com o queixo no ombro de Loyal ela fecha seus olhos e o aperta como não fazia a meses.

Loyal se afasta, e quebrando o orgulho ele se fez livre de mais um peso em sua consciência:

-Me desculpa pelo que eu falei, sobre você ter culpa, não deve, não é culpada de nada.

-Você também não deve, suas palavras não podem provocar acidentes, essas coisas não acontecem duas vezes na mesma família.

-Que coisas? - Loyal olhava para baixo ao pedir desculpas, mas ao ouvir aquilo dirigiu seu olhar para sua mãe juntamente com o estreitamento de suas sobrancelhas.

-Nada. Vá para a escola.

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Esperavam a chegada do professor de história quando Victoria novamente sentou-se no lugar de Henrrique.

-Loyal, você viu alguma das minhas mensagens pelo menos?

O convite a responder essa e qualquer pergunta feita por Victoria foi negado imediatamente por Loyal, que cruzou os braços e esticou sua perna direita expirando ar.

-Vai me ignorar? Entendi. Mas você não faz ideia das coisas que aconteceram, e está certo, eu também ficaria assim se estivesse no seu lugar.

-Você é... alguém que me decepcionou bastante Victoria.

-Minha mãe sofreu um acidente de carro, e para piorar, fui assaltada na ida do nosso encontro, o homem estava armado, foi muito tenso.

-Foi assaltada? - Olhou descrente para Victoria, sem inclinar-se ela.

-Sim... mas não levaram nada de mim, a polícia passou pela rua na mesma hora que ele iria tomar alguma reação. Foi muita sorte...

-Por que não me avisou?

-Eu não avisei ninguém. Você o primeiro a saber.

Fitando Victoria, Loyal se volta a mesma tentando não se demonstrar preocupado.

-E antes que pergunte. Sim, minha mãe sofreu um acidente como eu disse. - Prosseguiu ela.

-Por que raios não chamou a polícia? Sua mãe está bem? Por que não me contou essas coisas?

-Loyal, tudo aconteceu muito rápido, o dia do alinhamento foi o dia mais conturbado da minha vida, sofrer um assalto me fez perceber tudo que estava errado na minha vida. Deixa o infeliz do assaltante pra lá, minha mãe está se recuperando.

-Como sua mãe sofreu esse acidente exatamente?

-Pelo que ouvi, os freios do carro dela não funcionaram, e aí já sabe...

Loyal levantou suas pálpebras imediatamente, as coincidências ficavam cada vez mais suspeitas.

-Victoria.

-Sim?

-Qual era a cor do carro da sua mãe? - Perguntou depois de alguns segundos olhando em seus olhos.

-Branco. Por que?

-Branco?

-Sim Loyal. Mas e dai?

-Tem algo de errado acontecendo. - Os batimentos aceleraram ao confessar seu medo.

Victoria percebeu o olhar estranho de seu amigo, reagiu da mesma forma.

-Loyal você está bem? O que tem a ver o carro da minha mãe ser branco?

-Você vai achar que sou louco mas eu preciso confessar uma coisa. - Ele gaguejava, descrente do que estava concluindo.

-Achar que você é louco eu já acho. Não tem nada a perder.

Loyal ainda pensava se deveria dizer ou não quando pediu para Victoria encostar mais perto, cochichando devagar em seu ouvido.

-Victoria. As coisas que eu falo, acontecem.

Victoria afastou seu ouvido da boca de Loyal encarando-o de perto, tão perto que era possível sentir sua respiração, estava claramente descrente do que ouvira e talvez preocupada.

-Por que está dizendo isso? - Os cochichos estavam tão suaves que Loyal precisou olhar fixamente para seus lábios, lendo-os para se certificar do que ouvia, mesmo que respondeu ainda mais baixo que ela:

-Este acidente com sua mãe... Eu o causei.

Chuva TorrencialOnde histórias criam vida. Descubra agora