Dormindo fora

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É estranho dormir fora de casa depois de tanto tempo. Quando adoeci, minhas amigas deixaram de visitar, e, desde que me curei, só a Maya quem dormiu na minha casa. Se bem que, honestamente, eu preferia que aquela noite não tivesse existido. Ou melhor, só a parte ruim dela.

O quarto da menina dos olhos verdes é enorme, cheio de coisas interessantes e a televisão é pelo menos três vezes maior que a minha. Empolgada, a amiga se atira na cama espaçosa e abre os braços. A adrenalina energizante do show de Shawn ainda circula as nossas veias. Tímida, continuo em pé no tapete felpudo. Os pés de Maya batucam no colchão e, de repente, ela se senta.

— Caralho! A gente foi a um show de Shawn Mendes juntas! Nem acredito que vivi para isso... — morde os próprios dedos, contendo um possível grito — aliás, você beijou o Shawn Mendes! Caralho!

Minhas bochechas fervem de vergonha. Nem eu acredito nisso, é surreal demais para crer que de todas as garotas esquisitas do mundo ele escolheu a mim.

— Maya, sem querer ser indelicada, você não me deu um colchonete. — mudo o assunto, em forma de defesa.

— Colchonete? — ergue uma das sobrancelhas. — Você não vai dormir na cama comigo?

Engulo em seco.

— Não sei... vou? — solto uma risada nervosa. Nunca dormi com ninguém. — Será que a senhorita terá coragem de dividir o cobertor do Homem de Ferro com esta mera mortal aqui?

— Terei, mas só porque é você. Venha, tire os sapatos. — ela bate com a mão na cama, a me convocar.

— Você falou do Shawn... — suspiro, ao retirar os calçados — mas não me contou do Brian. Sei que transaram porque você estava sem calcinha.

— A festa inteira viu a minha boceta? — os olhos verdes se arregalam.

— Acho que não. — junta as mãos, como se fizesse preces. — Tia Karen, Tio Manny, Shawn e eu com certeza vimos.

— Ai, meu Deus! Que vergonha! Câncer, por favor, me mate esta noite.

A gargalhada que me escapa é alta. Com a própria roupa que fui ao show, sento-me na cama ao lado da amiga e abraço-a. Suas bochechas estão quentes de tamanho constrangimento. Não posso evitar de rir. Tento amenizar a situação e penso em estratégias para confortá-la.

— Pelo menos, Shawn se lembrou de você hoje no Meet&Greet. — digo, mas ela se joga para trás, na montanha de travesseiros e cobre o rosto.

— Como se esquecer da garota que quase morreu na festa de aniversário dele? — ri de si mesma, usando meus argumentos de mais cedo. — Ainda por cima depois de ver a boceta dela... ah, que horror.

— Se lhe conforta, achei bonita.

A testa de Maya se enruga sob as mãos.

— Que nojo! — ela se vira pra mim. — Acho horrível... o Brian gostou. Quero dizer, não reclamou, pelo menos.

— Ah, mas ele não tinha nem do que reclamar... — de fato, não tinha. O corpo da Maya é todo muito bonito.

— Foi muito estranho, porque eu não fiquei nervosa.

Deito-me ao lado dela, pondo ambas as mãos entre meu rosto e um dos inúmeros travesseiros fofos. Nossos olhos se alinham. Os lábios trêmulos me sorriem. Ela está feliz, completa.

— Se você se sentir à vontade de contar, eu gostaria de saber como foi. — revelo, constrangida. — Tenho muita insegurança. Dói muito?

— Para caralho, do início ao fim. — nossas risadas se misturam. — É uma dor boa, não sei explicar. — os olhos verdes se remexem, como se estivessem pensando. — Sabe quando você espreme uma espinha? Dói, arde, mas é uma dor que, no fundo, você gosta. Pelo menos, eu gostei.

Por Um FioWhere stories live. Discover now