- E besta também. Quando chegar te aviso. 

É muito bom sentir que alguém se importa com você seja lá qual for o motivo dessa preocupação, mas existe um momento em que precisamos abrir mão de certos cuidados e caminhar sozinhos. 

Não é, e nem está sendo fácil enfrentar tudo isso. O meu corpo está disputando uma nova batalha física e emocional a cada minuto que se passa, durante todo o dia eu tenho vontade de lagar tudo e ir atrás de Vitória, quero pedir mais quantas desculpas forem necessárias para tê-la de volta, queria poder explicar melhor tudo o que aconteceu porque talvez eu tenha feito isso de uma maneira totalmente errada e em uma hora mais errada ainda. Mas ao mesmo tempo que quero,  sei que não posso. 

Foi demais pra ela toda essa historia e mesmo não querendo eu à entendo. Eu mais do que qualquer outra pessoa sei o quanto pesa ser enganada e levada a acreditar que algo é real sem realmente ser, e é por isso que me martirizo tanto. Doí em mim saber e sentir a dor que causei nela, ferir intimamente alguém que não merece é muito mais doloroso em quem faz. Mas infelizmente pensar em tudo isso e continuar me culpando não me leva a lugar nenhum, assim como a ação tem uma reação, a culpa possuí uma absolvição. 

Passei esse dois últimos dias refazendo mentalmente toda a nossa conversa e revivendo cada minuto dela, busquei todos os pontos cegos e pensei nas palavras que poderiam terem sido ditas e não foram. E sabe que se essa tal historia de: "Todo mundo merece uma segunda chance." Fosse realmente verdade eu fazia tudo exatamente como fiz! Depois de muito pensar, cheguei a conclusão de que nada mudaria o que estava previsto para acontecer, eu omitir e enganei, fui uma completa idiota e ela não me perdoou a conta é simples, o resultado é um só e ele não vai mudar independente do meu querer. E foi pensando nisso que resolvi sair, preciso respirar o oxigenio que não seja o desse apartamento, olhar o céu de um outro ângulo que não seja o da minha janela e parar de pensar tanto nela, Vitória fez sua escolha, só me resta aceitar e sair um pouco vai me fazer muito bem.  

- Vitoria? -  Eu só posso está tendo alguma alucinação ou algo do tipo, não é possível!

Qual a probabilidade do meu cérebro está me traindo e ter criado a imagem de Vitória bem diante dos meus olhos? É muito pouco provável que ela esteja parada na minha porta depois de 48horas sem nenhum sinal de vida. Nenhum bilhete recebido, nenhuma mensagem enviada, nem mesmo um sinal de fumaça Vitória fez, ela simplesmente me evitou de todas as formas possíveis e agora está aqui, parada na minha porta me intimando com o esse olhar hipnotizante. Droga! Queria tanto sentir raiva dela, seria tudo até mais fácil.

- Posso entrar? - Será? Meu corpo está em zero condições para mais uma discussão. Mesmo querendo e querendo muito, eu não estava preparada nem para vê-la, imagine para sofrer toda aquela dor novamente. Já não aguento mais ter as minhas feridas sendo abertas sem nem ao menos cicatrizarem.

- Eu... - Meu corpo e eu somos inimigos declarados, eu nunca tenho o controle sobre ele quando preciso e nesse exato momento estou no meio de uma batalha entre me manter de pé ou falar. Só existe uma opção e eu preciso decidir rápido então entre as duas eu escolho falar, e por isso me afasto da porta indo em direção ao sofá, deixando a passagem livre pra que ela entre. 

A porta se fechou enquanto eu continuava à olhando, sentir tanta falta dessa paz em meio a turbulência, é incrível como ela consegue deixar tudo mais leve mesmo que nem tenha noção disso, o seu sorriso tímido e meio envergonhado é talvez o mais bonito de todos os outros sorrisos, porque esse é o que vem de dentro pra fora, é aquele que surge quando a casca deixa de existir e por isso mais específico que os outros 

- Precisamos conversar..  - Eu continuo paralisada observando cada movimento que ela faz enquanto se aproxima e senta ao meu lado. - Na verdade temos muito o que conversar. - Foi inevitável não olhar para os seus lábios enquanto falava, e ela percebendo isso, talvez provocativamente  passa a língua lentamente sobre eles.

SensaçõesWhere stories live. Discover now