Capítulo 7 - Parte 2

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Em Córdoba, o roteiro se repetiu mais uma vez: montaram o acampamento e no dia seguinte, foram à cidade para vender suas mercadorias, fazer apresentações de canto e dança e ler a sorte dos mais curiosos. Embora não estivesse com ânimo para aquilo, Luna se apresentou com outras moças do acampamento, notando o quanto Samara se exibia ao seu lado para Hiago, que, pela primeira vez, realmente parecia prestar atenção na moça. Sentiu uma pontada de inveja e desejou que Rodrigo também estivesse ali para vê-la tocar a castanhola e bailar. Para impedir que seu coração sangrasse ainda mais, ela simplesmente fechou os olhos e deixou-se envolver pelo ritmo cadenciado dos violões ciganos e o barulho dos saltos de seus sapatos batendo contra o tablado.

Quando a apresentação acabou, desceu pela lateral do local onde haviam dançado enquanto a plateia os aplaudia com entusiasmo. Estava esgotada, não tanto pela dança, mas pelo peso de seus próprios pensamentos, pela culpa, pela raiva e assim, saiu do meio da multidão que circulava pelo mercado em busca de um local mais tranquilo onde pudesse tomar um ar. Caminhou apressadamente pelas ruas de pedra, deixando para trás o barulho de pessoas e instrumentos musicais a cada passo até que eles se tornaram não mais que um suave murmúrio no fundo de sua mente.

Chegou a uma praça com um enorme chafariz onde também ficava a Igreja de São Miguel e não pode evitar lembrar-se de seus encontros com Rodrigo no Pátio de los Naranjos, em Sevilha. Aquela lembrança fez com sentisse o peito se apertasse ainda mais e lágrimas queimarem em seus olhos. Onde ele estaria? Era a pergunta que se repetia incessantemente em sua mente enquanto ela caminhava até a borda do chafariz onde se sentou, banhando a face com a água fria. Levantou os olhos para a igreja deparando-se com uma carruagem que aguardava na porta por seu passageiro e mais uma vez, suspirou desesperançada. Viu quando o cocheiro rapidamente apeou e deu a volta no veículo o que a fez imaginar que seu senhor ou senhora já estaria regressando e foi então que sentiu o coração quase a sair-lhe pela boca: ali, a poucos metros, na entrada da igreja, divisou a figura elegante de Rodrigo que caminhava rapidamente até a carruagem. Luna levantou-se e correu até o local o mais rápido que pôde, mas no trajeto, acabou trombando com um homem que vinha em sentido contrário, jogando-a ao chão.

— Está machucada? – o homem perguntou, pousando a mão em seu ombro e entrando na linha de visão entre ela e Rodrigo que agora, subia na carruagem.

— Não. Estou ótima! – respondeu de forma ríspida, tentando se levantar.

— Tem certeza? Não me parece bem. – continuou o homem, analisando-a por baixo da sombra de seu chapéu, ainda com a mão em seu ombro.

Luna fez menção de se levantar e rapidamente o homem a tomou pelo braço.

— Venha. Vamos até a fonte onde a senhorita pode se refrescar. – continuou ele, puxando-a pelo braço, mais uma vez, interrompendo sua linha de visão.

Ele a levava até a fonte enquanto Luna observava, em desespero, o cocheiro subir de volta em seu lugar, pronto para partir. Com um safanão, ela se livrou do homem, mas a carruagem fora mais rápida que ela, deixando a praça no momento em que ela chegou à porta da igreja. Sem pensar duas vezes, seguiu o veículo o mais rápido que pode, ziguezagueando pelas ruas estreitas da cidade e quase perdendo-o de vista algumas vezes durante o trajeto. Para sua sorte, a carruagem seguia em um passo tranquilo, diminuindo em alguns pontos onde havia mais gente nas ruas.

Luna continuou a segui-la, sentindo a garganta arder pelo esforço que fizera (sem sequer saber como) até que viu o veículo subir por uma única colina em direção a um palácio em seu topo. Ali, finalmente vencida pelo cansaço, Luna se encostou em uma das árvores com a mão sobre o peito, arfando pela corrida. Apenas observou a carruagem prosseguir em seu caminho até parar na frente da construção onde uma silhueta apeou e adentrou o prédio enquanto sentia o sorriso passar-lhe pelos lábios: não havia mais necessidade de correr até lá pois, naquele momento, sabia onde encontrar Rodrigo.

De Luz e De Sombras - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now