Capítulo 6 - Parte 2

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No dia seguinte, Luna levantou-se antes do amanhecer assim como os demais, e colocando o vestido azul da véspera, saiu da tenda para ajudar a arrumar os carroções para mais um dia de festival. Havia costurado até muito tarde naquela noite, mas pelo menos não havia mais peças pendentes e a mãe já lhe parecia bem mais disposta naquela manhã, o que a fez reviver todas as emoções do dia anterior uma vez mais. Por mais que tentasse disfarçar, era impossível abandonar o sorriso que lhe vinha aos lábios sempre que pensava em Rodrigo.

— Por que está com essa roupa de gajô? – ouviu a pergunta irritada atrás de si, enquanto entregava uma das arcas para Juan.

Com as mãos na cintura, Luna virou-se na direção da voz apenas para encontrar o cenho franzido de Hiago. Não o havia visto no dia anterior, mas não pode deixar de notar o quão furioso ele parecia estar ao vê-la vestida daquela forma. Quando se olhou no espelho do depósito da loja um dia antes, por uma fração de segundo, imaginou o que ele acharia se a visse com aqueles trajes elegantes. Acharia que ela estava bonita? Mas, parada ali, observando seu semblante tempestuoso, a resposta era mais do que clara.

— Tire isso agora mesmo e coloque suas roupas de cigana! – ordenou o rapaz com voz firme e braços cruzados na frente do peito, procurando claramente intimidá-la.

Luna apenas ergueu o queixo altivamente em uma clara atitude de desafio. Afinal, quem ele achava que era para falar daquela forma?

— Não. – respondeu prontamente, também cruzando os braços na altura do peito e encarando-o de volta.

Percebeu quando o semblante do primo tornou-se lívido e seus olhos escuros, revoltos. Ele estava muito além de irritado, estava realmente zangado...e por causa de um simples vestido?

— Ah, mas você vai tirar esse negócio ou eu mesmo vou tirá-lo de você! – vociferou Hiago, avançando em direção à Luna e agarrando seu braço.

— Eu não vou tirar e você não vai me obrigar! – gritou a jovem em resposta, lutando para desprender-se daquele aperto de ferro.

— Eu já até imagino o jeito que aqueles gajôs vão olhar para você! – balbuciou Hiago entredentes em seu ouvido para que apenas ela pudesse ouvir.

— Vocês dois! Parem agora mesmo com essa briga! – ordenou Ramirez, o chefe, caminhando em passos largos e decididos até os dois.

— Ele que começou, meu tio! – defendeu-se Luna tão logo Hiago soltou seu braço, massageando o local onde ele a prendera.

— Olhe só esses trajes de gajô, meu pai!

— Ahhhhh...basta! Eu já disse que chega! – A voz de Ramirez trovejou por todo o acampamento, fazendo com que todos parassem seus afazeres e voltassem a atenção para o casal. — Parece que estou vendo duas crianças brigando ao invés de um rapaz de vinte e cinco anos que já devia ter encontrado uma esposa!

Aquele comentário fez com que Hiago se encolhesse um pouco ante à ira do pai. Luna também encolheu-se como sempre fazia quando seu tio ralhava com eles quando pequenos, apenas esperando o momento em que ele também chamaria sua atenção.

— Juan já me contou tudo. – continuou Ramirez com seu tom firme, dirigindo sua atenção à sobrinha. — E disse que foi o melhor dia de vendas de que ele se lembra. – Naquele momento, o tio sorria satisfeito. —Se usar esse traje nos ajudar a vender tantas outras mercadorias quanto as joias de ontem, não vejo problema algum.

Com um tapinha no ombro de Luna, Ramirez ordenou que todos voltassem ao seus trabalhos, ele mesmo, voltando ao seu carroção. Por alguns instantes, Luna sentiu pena por Hiago ter sido repreendido tão duramente na frente de todo o clã por seu pai, mas por outro lado...O rapaz olhava fixamente para o chão e quando seus olhares finalmente se cruzaram, Luna não pensou duas vezes antes de lhe mostrar uma língua de menina desaforada acompanhada de uma careta e lhe dar as costas, voltando aos seus afazeres.

De Luz e De Sombras - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now