#7 Reason

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Mentalize todas as suas comidas favoritas. Mentalizou? O cheirinho, o gostinho... imagina não poder mais comê-las. -L.

- Quando você vai me apresentá-lo? - o senhor Luther perguntou, com a atenção voltada para os cereais que comia.
Estavam sentados na bancada da cozinha, um ao lado do outro, ambos comendo cereais com leite em suas tigelas preta e azul.
Charlotte acabou engasgando com o pouco que estava engolindo, encarando seu pai.
- Apresentar quem?
- O rapaz que estava aqui ontem. - a olhou com uma expressão calma, mas a mesma começou a rir de nervoso completamente sem graça.
- Ah, não, ele não...
- Tudo bem namorar, filha. Seria legal marcarmos um jantar só pra eu saber as intenções do rapaz, vocês ficam muito tempo sozinhos e precisam entender formas de se prevenir. Eu sou muito novo pra ser avô! - começou a explicar tentando se manter sério, mas lutava para não rir da expressão pasma e assustada da filha.
- O que? Nós não namoramos, somos amigos! - a mesma ficou na defensiva.
- Amigos também podem acabar tendo outros interesses... - o mais velho deu de ombros provocando.
- Ele gosta de outra pessoa! - Charlie soltou as palavras mais rápido do que pudesse pensar.
- Humm, e você gosta dele então? - o sorrisinho malicioso no rosto de seu pai fez com que a garota arregalasse os olhos corando completamente.
- Não... - negou engolindo em seco e se encolheu ainda mais constrangida com as gargalhadas ao seu lado.
- Sem pressão. - ele sorriu colocando a mão no ombro da filha, a fim de acalmá-la.
Voltou a comer outra colherada de seu cereal e a ruiva pôde suspirar aliviada.
- Mas só tomem cuidado com o que forem fazer sozinhos num quarto. - senhor Luther tentou prender o riso ao ver a garota novamente o encarar indignada e um tanto irritada.
- Pai!
Por fim os dois se entreolharam soltando gargalhadas juntos.

[...]

- E então, como foi? - Charlotte andava na frente até a cozinha de sua casa indo para trás da bancada.
Arthur veio logo atrás sentando num banco e colocando a mochila em cima do outro.
- Mais um F em biologia. - bufou. - Não é possível alguém ser ruim em todas as matérias.
- Você estudou? - a garota arqueou a sobrancelha.
- Tento, mas não adianta. - ele deu de ombros.
- Por que não? - insistiu curiosa.
- Distração com outros pensamentos ruins, quando tento me concentrar os pensamentos vem e eu perco o foco, o que é ruim ocupa tudo e não sobra espaço pra matéria. - explicou passando a mão por seu rosto e cabelo, negando com uma expressão de indignação.
Charlie ouviu atentamente pensando sobre a situação e se debruçou na bancada com um pequeno sorriso o olhando.
- Então quando os pensamentos vem você foca neles e desiste de estudar por se achar incapaz. Por que não fazer o contrário? - ela sugeriu fazendo o garoto a encarar confuso. - Se focar nos estudos talvez não sobre espaço para o que vem de ruim na sua mente.
A garota explicou na maior boa vontade sorrindo, mas logo notou que a expressão de Arthur continuava em negação. Soltou um longo suspiro olhando para os lados pensativa.
- Olha... você compõe músicas muito bem com facilidade, certo? - o garoto assentiu, finalmente mostrando algum interesse. - Poderia fazer composições sobre a matéria, seria mais fácil de gravar e te distrair. - concluiu dando de ombros e no mesmo momento ficou satisfeita ao ver um sorriso esperançoso no rosto de Arthur.
- Isso realmente pode funcionar! - ele afirmou fazendo a garota rir animada.
- Ta, agora me explica porque estamos na cozinha. - a mesma se afastou da bancada o encarando com curiosidade.
- L me deixou com fome hoje.
Charlie acabou rindo assim como o garoto e foi até a geladeira a abrindo.
- E o que quer comer?
- Bom... estava pensando nas minhas comidas favoritas. Lasanha, batata frita, bolo de cenoura e...
- Torta de limão.
Arthur olhou para a garota abaixada com a cabeça pra dentro da geladeira, ficando pasmo.
- Como sabe?
- O que? - ela perguntou confusa, levantando com uma tigela de torta de limão.
Dessa vez o garoto arregalou os olhos saltando do banco, incrédulo.
- Meu Deus, você só pode ser o meu anjo ou coisa assim! - exclamou inocentemente indo direto até a tigela.
Ele podia não ter se ligado muito bem ao que havia falado, mas Charlie o olhou surpresa abrindo um sorriso discreto, tentando disfarçar sua empolgação com aquela frase.
Assim que lhe entregou uma colher de cima da pia, Arthur já foi logo devorando um pedaço da torta e enquanto mastigava abriu um sorrisinho a olhando, a mesma soltou uma risada tentando ignorar de alguma forma a sensação estranha em seu estômago quando fixava em seus olhos castanhos.

Depois de comerem toda a torta estavam sentados no sofá, um ao lado do outro, gargalhando de coisas aleatórias que falavam enquanto um filme passava na TV, o qual os dois ainda não sabiam o nome e nem ao menos se era algum de romance ou ação.
- Não entendi, tava acontecendo maior tiroteio agora o casal ta deitado na praia? - Arthur se indignou fazendo Charlie voltar a rir.
Os dois continuaram rindo sem motivo algum até o casal do filme se beijar, e durante o beijo deles a risada dos dois foi cessando até um completo silêncio se instalar na sala.
A ruiva respirava um pouco mais acelerado evitando olhar para o lado, mas acabou mirando no pequeno espaço que ainda separava os dois no sofá, onde suas mãos estavam apoiadas distantes. Engoliu em seco aproximando lentamente sua mão até encostar na dele de leve.
Ao sentir o toque em sua mão, Arthur voltou seu olhar para as mãos próximas, sem saber o que fazer direito por conta do nervosismo que havia tomado conta do mesmo, o garoto apenas levantou o dedo mindinho colocando por cima do dela.
Charlie sentiu um leve disparar no coração e com a respiração ainda acelerada foi com calma movendo sua mão para debaixo da dele. Encarando a TV, dessa vez foi Arthur que engoliu em seco, começou a acariciar levemente a mão da garota até a mesma a virá-la com a palma para cima deixando com que os dois entrelaçassem seus dedos.
Arthur continuou acariciando a parte de cima da mão da garota com seu polegar e a mesma sorriu em aprovação. Deitou a cabeça no ombro dele e dessa vez foi ele quem deixou um sorriso escapar, deitando a cabeça com cuidado por cima da dela.
Enquanto o filme passava, os dois já não mais prestavam atenção. Permaneciam em absoluto silêncio aproveitando o momento com sorrisos bobos no rosto.
Também não estavam pensando sobre o que aquilo representava ou o que sentiam em relação ao outro, apenas se deixando levar.

Poderiam ficar daquele jeito a noite inteira, sabiam disso, e por mais que começassem a achar estranho, não iriam reclamar. Isso se não fosse o barulho alto da campainha que tocou, assustando os dois que se distanciaram rápido no mesmo momento, se olharam com certo desespero e levantaram juntos do sofá indo na direção da porta.
Charlie correu na frente e abriu a mesma um pouco apavorada, mas o nervosismo dos dois cessou no mesmo momento em que viram Stella parada ali abraçando os próprios braços.
Sua blusa e parte da calça jeans estavam manchados de algo escuro e seu rosto, assim como seus olhos, estavam vermelhos e um pouco inchados pelo choro.
- Você estava certa... - a morena falou com dificuldade com a voz embargada.
Avistou Arthur assustado logo atrás de Charlie na porta e continuou o encarando com certo medo. A ruiva alternou seu olhar entre os dois em meio a sua completa preocupação.
- Relaxa, pode entrar. - pediu calma abrindo espaço na porta.
Stella entrou receosa sem desgrudar dos próprios braços e Arthur esperou Charlie fechar a porta para ir com ela até o sofá acompanhando a amiga.
Os três sentaram, com Stella no meio, e ficaram em silêncio por alguns segundos se entreolhando sérios.
- Vou te buscar uma água. - Charlie se levantou rápido indo na direção da cozinha.
A morena assentiu respirando fundo e olhou para Arthur que apenas abriu um pequeno sorriso fraco de apoio, sem saber o que fazer ou dizer.
- E-eu estava com Matthew numa cafeteria, entregaram os pedidos errados e ele m-me deixou segurando os copos de capuccino enquanto discutia com a atendente... - ela começou a contar, notando Charlie voltar correndo.
A mesma lhe entregou o copo de água antes de se sentar ao seu lado. Novamente manteram sua atenção fixa em Stella que bebia um gole da água tentando se acalmar.
- Matt estava cheio de ódio nas palavras, o comportamento dele me assustou mais do que o normal. - voltou a falar mais firme, fitando o copo em suas mãos. - Foi quando eu tentei puxá-lo para sair dali, ele me xingou entornando todo o líquido quente em cima de mim, a atendente ficou assustada e correu para chamar o gerente, o deixando mais puto. Aí ele me puxou o mais forte que podia pra fora dali enquanto eu chorava desesperada. - completou, levantando a manga da blusa para mostrar seu pulso com marcas roxas.
Charlie arregalou os olhos segurando com cuidado o braço da amiga, seu sangue fervia de raiva por aquilo enquanto imaginava todos os xingamentos possíveis em sua mente.
Arthur observava a morena pensativo, estava claro em sua mente que ele não era o único que passava por péssimos problemas, ainda mais com Matthew. E naquele momento realmente não lhe importava seus problemas de forma alguma, eram insignificantes, tudo que pensava era no que fazer por Stella.
Pensava se ela era mesmo a autora de seus bilhetes anônimos, e que se fosse a garota já fazia tão bem para ele com os incentivos e aquilo precisava ser retribuído!
- Você não vai mais se aproximar do Matthew, aliás precisa contar aos seus pais sobre isso. Qualquer coisa eu vou estar aqui... - olhou para Charlie e sorriu fraco. - Nós vamos estar aqui.
A ruiva devolveu o sorriso e envolveu a amiga em um abraço, logo puxando Arthur pela manga da blusa para que o mesmo se juntasse ao abraço, de sua forma desajeitada pego de surpresa, Stella rapidamente retribuiu deixando lágrimas caírem, com um sorriso agradecido em seu rosto.

10 Reasons to Live (2017)Where stories live. Discover now