#4 Reason

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Nada dura para sempre, incluindo os momentos ruins. Eles vão passar e os momentos bons também virão, até melhores do que se pode imaginar. -L.

- E aonde você vai? - Alex perguntou enquanto ajudava a enxugar os pratos.
- Na casa de uma garota. - o irmão respondeu com o olhar fixo nos talheres que lavava.
- Bleeeh! - o mais novo torceu o nariz fazendo careta. - Você arrumou namorada.
Arthur arregalou os olhos encarando o pequeno e soltou uma risada fraca negando com a cabeça.
- Nenhuma garota é louca de querer algo comigo. Nós somos... ahm... colegas, eu acho. - o mesmo deu de ombros.
- Ah para, você é gatão, puxou a mim! - Alex afirmou com um sorrisinho convencido.
O mais velho acabou por rir olhando para o irmão, assentiu de forma debochada e virou a torneira na direção do mesmo fazendo os dois gargalharem se molhando.

Assim que a campainha tocou Charlotte desceu as escadas correndo, estranhamente mais animada do que o normal. Abriu a porta com um sorriso e encontrou o garoto de capuz selecionando alguma música no player do celular.
- Aposto um sorvete que não tem One Direction na sua playlist. - a menina disse em tom alto chamando a atenção do rapaz.
- Como é? - ele tirou um dos fones a encarando.
- Tenho certeza que você não ouve One Direction. - ela reafirmou.
Arthur soltou uma risadinha negando com a cabeça, e entrou assim que a garota lhe deu espaço na porta.
- Está me devendo um sorvete. - ele deu de ombros sorrindo divertido com a expressão surpresa da garota. - Little Things é incrível. - confessou, fazendo a mesma rir incrédula.
Charlie subiu na frente as escadas chamando o outro com a mão que foi logo atrás. Os dois entraram no quarto e Arthur ficou em pé na porta enquanto a ruiva se sentava na cadeira giratória em frente sua escrivaninha, da qual ela tinha se certificado de tirar todos os post its para não levantar suspeitas.
- Vai ficar aí em pé? - ela arqueou a sobrancelha o encarando.
O mesmo contraiu os lábios olhando sem jeito por toda a extensão do quarto, acabou por se sentar na cama colocando sua mochila no chão.
- Estamos sozinhos? - Arthur perguntou curioso.
Charlie assentiu levando a cadeira até a beira da cama, com alguns livros de matemática na mão.
- Meu pai chega tarde hoje. - ela respondeu olhando sem graça para os livros.
Notando o silêncio que se instalou, a garota levantou o olhar novamente vendo que Arthur encarava fixamente o corredor.
- Que foi? - perguntou assustada.
No mesmo momento o garoto saiu de um transe sacudindo a cabeça algumas vezes e a encarando sério.
- Aqui parece ser um ambiente feliz. - soltou um longo suspiro.
Charlie engoliu em seco, o observando com um olhar triste, tentando imaginar como seria a vida dele em casa, por mais que ela não fizesse ideia.
- Não há nada que te deixe feliz? - ela acabou deixando a pergunta escapar de repente.
O garoto a encarou, sério e em silêncio por alguns segundos, como se pensasse em algo e em seguida sorriu fraco.
- Não exatamente, mas tem uma coisa que... tem me ajudado nos últimos dias. - ele acabou por admitir, fazendo a ruiva sorrir curiosa.
- Pode dizer o que é? - perguntou relutante.
Novamente Arthur parou por uns instantes pensando. Refletia sobre os bilhetes e se deveria contar aquilo à ela, não podia dizer que confiava na garota e também não queria cometer algum erro que fizesse os recados pararem de ser entregues.
Mas Charlie era legal, e ele acabou por ceder soltando um longo suspiro, não estava acostumado em poder dividir acontecimentos de sua vida com alguém.
- Acha estranho um anônimo enviar recados diários com motivos para me manter vivo? - perguntou receoso.
A ruiva resistiu em abrir um enorme sorriso de orgulho naquele momento e apenas pigarreou.
- Como assim? - questionou como se não fizesse ideia daquilo.
Arthur suspirou novamente, e em seguida abriu sua mochila pegando os três bilhetes que já havia recebido. Charlie teve que tapar o rosto para esconder o sorriso que teimava em querer aparecer.
- Faz três dias que acho um bilhete no meu armário com alguma razão pra eu continuar vivo, mas eles vem assinados apenas com um L. - o garoto explicou entregando os papéis para a outra. - E eu não faço ideia de quem seja L! - ele exclamou parecendo aflito, fazendo a garota quase rir.
- Uau! - a mesma arregalou os olhos em falsa surpresa, fingindo ler os mesmos. - Não tem ninguém que você conheça que o nome comece com L?
Arthur negou com a cabeça.
- Talvez a pessoa seja tímida e não queira se revelar... - a ruiva deu de ombros.
- Isso só me faz ficar ainda mais curioso e ansioso pra achar quem seja! - ele voltou a exclamar.
Dessa vez a garota não conteve um sorriso discreto.
- Talvez... não seja a inicial de um nome e sim um sobrenome. - ela acabou sugerindo.
-Talvez... seja só alguém me zoando. - o outro negou com a cabeça voltando a pegar os bilhetes da mão dela.
Charlotte arqueou a sobrancelha, se sentindo ofendida internamente.
- Por que não pode aceitar que alguém se preocupe com você?? - ela questionou indignada, fazendo Arthur a encarar surpreso.
- Porque ninguém se importa! - o mesmo retrucou sério.
- Eu me importo! - a garota alterou o tom de voz.
- Você só me conhece há dois dias! - ele respondeu perplexo.
E passaram longos segundos em completo silêncio, numa troca fixa de olhares que parecia eterna.
- Não importa o tempo, eu me importo. - Charlie afirmou num tom de voz mais baixo, desviando o olhar para um dos livros de matemática o folheando.
Arthur continuou a encarando por um bom tempo, seus pensamentos estavam confusos. Charlie era amável e gentil, não conseguia passar por sua cabeça porque ela iria se importar justo com ele.

Depois de voltar pra casa após fazer metade do trabalho - num clima mais sério -, a solidão veio a tona em sua mente como sempre. Alex jogava videogame no quarto ao lado e Elise lia um livro na sala. Sua casa parecia ter cores escuras demais, ou talvez fosse o clima pesado que ele carregava até a mesma.
Jogado na cama de seu quarto, os pensamentos ruins e macabros rondavam sua mente de forma perturbadora, Arthur tentava respirar fundo e pensar em outras coisas, mas sabia que aquilo não adiantava.

Só uma coisa o ajudaria, e teve que esperar até o dia seguinte quando abriu seu armário na escola e se permitiu acalmar ao ler as palavras do bilhete. Parecia que todos os dias seu querido L invadia seus sentimentos e escrevia exatamente o que ele precisava ler.
Era reconfortante, por mais que não fizesse ideia de quem fosse.

10 Reasons to Live (2017)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora