Capítulo 4 - A donzela de armadura

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Ainda assim, depois, de acomodá-la, o jovem eorlinga improvisou uma fogueira, utilizando restos de madeira velha e seca que estava armazenada a um canto, restos de algum acampamento feito ali não havia muito tempo. Era uma fogueira um pouco pequena, mas era suficiente para aquecê-los até que pudessem continuar sua viagem.

Já era madrugada quando Ellanor deu sinais de vida. Primeiramente, abriu os olhos bem de leve enquanto dava um profundo suspiro. sentia o cheiro da chuva e um ventinho suave que não chegava a causar frio. Notou que estava envolta em uma grossa manta de lã e franzindo a testa sentou-se na cama, percebendo que não estava em casa.

- Finalmente! - A voz grave de Alec chamou sua atenção. Ele estava sentado próximo a uma fogueira, não muito longe da cama onde ela repousava.

Estava vestido com uma armadura feita de couro, mais leve e usada no dia a dia das tarefas de cavaleiro. Um belo mearas branco estampado no peito contrastando com o fundo marrom avermelhado. Os cabelos longos e claros presos apenas pela metade, deixando o rosto livre dos fios, mas ainda assim, com longas madeixas cor de palha caídos pelos ombros. A barba de cor clara e o olhar severo conferiam a ele um ar austero e enigmático, até mesmo intimidador. Por isso, a moça gaguejou um pouco antes de falar:

- O- onde estou? - sua voz saiu mais fraca e fina do que ela pretendia, dando a ela um ar indefeso muito inconveniente.

- Estamos em uma fazenda abandonada a algumas léguas de Edoras. Não se lembra de nada do que aconteceu?

Ellanor evitou o olhar de Alec, apesar do tom de voz deste ser tranquila. Aos poucos as imagens de sua aventura noturna retornava à sua mente e ela fez uma leve careta ao perceber que fora pega. Talvez devesse fingir que não se lembrava de nada. Quem sabe poderia se passar por uma daquelas pessoas que caminhavam durante o sono e não se lembravam de nada depois. Certamente achariam que ela estava endemoniada, mas isso era melhor do que ser pega fazendo algo como aquilo. Seria duramente castigada quando seu pai soubesse que havia desobedecido suas ordens e, pior ainda, que saía sozinha durante a noite para cavalgar.

- É claro que você se lembra, não é mesmo? - O Rohirrim não se movia, mas sua presença tinha algo de esmagador para ela e sua voz trovejava através do silêncio apesar de que ele falava calmamente e em tom baixo.

Ela engoliu em seco cerrando os olhos suspirando. Poderia se valer de sua condição feminina e simplesmente bancar a perdida e indefesa. Apenas negar que se lembrava de tudo e se safar de punições. Mas era óbvio que,mesmo que Alec acreditasse em sua encenação, não teria a mesma sorte em enganar o próprio pai.

Olhou novamente para o capitão e lembrou-se que sua condição era mais uma desvantagem do que uma vantagem nesses casos. Estavam sozinhos em um lugar ermo. Se ela se fizesse de frágil, ele poderia realmente tentar subjugá-la. Era melhor mostrar-se forte, capaz de se defender do que fosse. Assim, ele não ousaria... Pensando melhor, ele não ousaria de forma alguma, sendo ela filha de quem era... Mas...Num lugar como aquele... ela havia saído de casa sozinha para uma aventura noturna... quem iria dizer que não fora por vontade própria? A dúvida pairava em seu coração mas ela preferiu não se arriscar.

Entendeu o quão vulnerável estava e, de repente, o ventinho frio a fez se arrepiar e tremer. Temeu pelo que poderia acontecer dali em diante. Instintivamente, cruzou os braços ao redor do próprio corpo sentindo-se desprotegida com aquelas roupas folgadas de homem e assentiu com um movimento de cabeça sem ainda olhar para ele.

- Então, era você, o fantasma de Mathur. - ele afirmou enquanto atiçava o fogo da fogueira com um pedaço de pau - O "homem" que roubava os cavalos e aterrorizava os meus soldados.

Uma sombra de orgulho perpassou o olhar arguto de Ellanor. Segurou-se para não sorrir neste momento. Por quanto tempo ela conseguiu essa deliciosa liberdade encoberta pelas superstições dos homens que deviam proteger a cidade? Ela não sabia ao certo, mas sentia-se satisfeita de ter feito algo tão ousado. Olhou de soslaio para Alec. O homem ainda a olhava fixamente com aqueles olhos que feriam mais que as próprias espadas dos rohirrim. Ela pensou que ele iniciaria um discurso sobre o quão errado era uma dama estar fora da proteção de sua casa àquela hora, mas tudo o que ouviu foi a indagação em tom curioso, quase jovial:

A balada do RohirrimWhere stories live. Discover now