CAPÍTULO 8 - O VISIONÁRIO DA COSTA BAIXA

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Ela ergueu as sobrancelhas.

— Nem um pouco audacioso. E que plano é esse?

Marko a fitou com um sorriso no canto da boca.

— Foi do mais audacioso, e foi o Briel que ajudou a bolar. Ele tinha uma confiança bem grande naquele projeto e na capacidade dele próprio de convencer um júri. Mas, claro, a gente tinha que garantir, então a gente também molhou a mão dos jurados um pouquinho. Daí ele ganhou, e depois disso a gente precisava de mais três coisas. Primeiro: ele tinha que arranjar um jeito de entrar na Sala de Operações do Palácio Presidencial. Segundo: conseguir uma Chave Adm, só por um momentinho. É o cartão pra acessar o Computador Administrador da Rede Nacional.

— Eu sei o que é uma Chave Adm.

— Bom. A terceira coisa era ele pegar essa Chave, acessar o Computador, fazer uma conexão entre o Computador Administrador e o notebook dele e depois devolver a Chave e deixar tudo como ele encontrou.

— E como é que você queria que ele fizesse tudo isso?

— Ele fez tudo isso. Ele virou Administrador de Rede. Ele trabalha na Sala de Operações, bem do lado do Administrador Geral, que é o cara que comanda a Rede Nacional. Ele pegou a Chave do cara. Só que ele falou que não deu pra devolver, mas ninguém descobriu que foi ele. Só substituíram o cara por um de patente maior e bloquearam a Chave, mas a gente já não precisava mais dela.

— Tá. Mas, afinal, pra que isso?

— Ele vai poder controlar o Administrador de qualquer lugar, pelo notebook ou por qualquer outro computador que ele conectar no notebook dele. Ele vai ter na mão os capacetes militares e o sistema de segurança do Palácio Presidencial. Kris, a gente...

— Kristina.

— Kristina. A gente vai invadir o Palácio Presidencial. A gente vai matar o Sarto.

Primeiro, ela não teve reação. Mas, lentamente, abriu um sorriso, que se transformou em uma risada. Aquilo só podia ser uma piada.

— Você não vai matar o presidente — disse ela. — Nem você, nem o Briel, nem meu pai. Ninguém vai, sinto informar.

— Você acha que ele é invencível? E eu pensando que você tivesse a mente mais aberta do que os ignorantes desse país.

— E o que é que te fez pensar isso? — retrucou ela, seguindo o deboche.

— Olha, me responde uma coisa. Você acha esse governo certo?

Ela revirou os olhos.

— É uma pergunta de verdade?

— Eu não faço pergunta retórica — disse ele. — Só me responde, vai.

— Não. — Kristina checou os arredores antes de prosseguir, mesmo sabendo que não havia mais ninguém no quintal. — Não acho esse governo certo.

— Bom. Você quer que ele acabe?

— Claro que eu quero, mas de um jeito realista.

— Como é seu jeito realista? Seu plano, sua previsão, como é?

Era estranho falar de política com alguém que não fosse Briel. Aliás, nem mesmo com Briel esse assunto surgira nos últimos meses. Quando tinha sido a última vez em que ela explicara para alguém seu ponto de vista? No ano anterior, conversara a respeito com os amigos de Briel, porém tinha ouvido mais do que falado naquele dia. Não gostava da pressão de ter que parecer certa, coisa que não existia em seus diálogos políticos com Briel, até porque ela concordava com ele em quase tudo. Pelo menos naquela época, quando Briel ainda não era um rebelde armado.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOWhere stories live. Discover now