"O mais rápido possível." O tom da mulher era desesperado, e causou certa aflição em mim.

Aquela mulher parecia angustiada que minha tia estivesse em seu necrotério, por alguma razão. E eu não conseguia entender o motivo.

— Ok, tentarei chegar o mais rápido possível, só me passe o endereço por gentileza.

Anotei o endereço no papel em cima da mesa, completamente enfurecida pelo modo que a mulher havia falado comigo, pelo modo frio e pelo jeito de tratar a morte de minha tia como se fosse algo extremamente banal.

A irritação fez com que eu ficasse tentada a atirar o telefone longe, mas ao invés disso, fechei as mãos em punho e respirei fundo. Não seria uma coisa boa se eu perdesse o controle da situação agora. Eu tinha problemas maiores para resolver.

Adelind desceu pelas escadas segurando nas mãos seu ursinho de pelúcia e entrou na cozinha com uma cara cansada.

— Meena? – ela perguntou, sonolenta, esfregando os olhos. — Estou com fome.

Levantei os olhos do balcão da pia onde estava o endereço e estiquei meus braços em direção à minha irmã para que ela viesse até mim. Ela tinha os cabelos louros até o meio das costas, inteiramente embaraçados por ter dormido com o cabelo molhado.

Adelind veio até mim e eu a coloquei sentada em cima do balcão, tentando ajeitar seu cabelo para que ele não ficasse em seus olhos.

— O que você quer comer? – perguntei, abrindo um dos armários superiores, já imaginando o que ela escolheria.

— Lucky Charms.

Sorri. Era o predileto de Adelind, e seria uma surpresa se ela não escolhesse este cereal.

— É claro, senhorita. Com leite, não é? – a olhei, mesmo sabendo sua resposta e ela balançou a cabeça afirmativamente. — Dormiu bem? Você acordou cedo hoje...

Adelind coçou mais uma vez os olhos, bocejando.

— Tive um pesadelo. – ela comentou enquanto descia do balcão e se sentava à mesa. Coloquei seu cereal na sua frente e abri a geladeira para pegar o leite, esperando que ela me contasse mais. Adelind era fechada, se eu perguntasse, ela jamais me diria sobre o que tinha sonhado. — Eu sonhei com a mamãe.

Foi resposta o suficiente para que eu soubesse que ela não continuaria. Era um tópico que não costumávamos conversar muito. Abracei Adelind e a coloquei em meu colo, beijando seus cabelos. Ela se aconchegou em meus braços.

— Eu também sinto falta dela, mas não podemos fazer nada.

Afaguei seus braços e ela deitou a cabeça em meu ombro, suas lágrimas escorrendo por meu colo, molhando minha camiseta. Mas as palavras de consolo que vinham até mim, não eram apropriadas para os ouvidos de uma criança.

— Vamos ficar bem, você confia em mim, não confia? – perguntei.

Ela balançou a cabeça.

— Então vai ficar tudo bem. – eu lhe disse. — Coma seu cereal.

Adelind revirou os olhos e se sentou na cadeira mais confortável da mesa da cozinha, sorrindo enquanto comia seu cereal com leite que já estava encharcado e murcho.

Fui até meu quarto me trocar, passando na frente do quarto de meu pai, agradecendo mentalmente por estar tudo fechado e silencioso. Havia duas opções: ou ele ainda estava dormindo, ou já tinha acordado para ir buscar algumas coisas para fazer o café da manhã, como sempre.

E secretamente, eu esperava que fosse a segunda opção, pois meu estômago roncava.

Vozes ecoaram pela casa e meu pai entrou no meu campo de visão em segundos. Algo em meu rosto deve ter denunciado que eu não tinha notícias boas. Ele largou as compras em cima do balcão da cozinha e Temperance começou a arrumar tudo.

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⏰ Última atualização: Feb 11, 2018 ⏰

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