Revivendo o Passado

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Paramos na entrada da caverna do Celten. No único ilfer que guardava a passagem, homens de Skald, cheios de curiosidade, observavam as nossas embarcações como que à procura de resultados.

O Theowulf e o outro ilfer de resgate se alinharam e esperaram o navio dos ocidentais se aproximar. A embarcação gigante virou sua proa para o oeste, encostou no ilfer de guarda, e uma escada de corda fora arremessada do convés.

Então eu o vi tão altivo quanto da primeira vez. Lothrum. O misterioso Senhor da guerra estava de volta com sua vestimenta estrangeira e cabelo navalhado. A marca de escravo ainda existia em sua bochecha direita, mas não ofuscara seus olhos outra vez sorridentes.

O Tarl não se revelara desde a noite do resgate. Passara os dias trancafiado naquele navio, tramando só os deuses sabem o quê com os ocidentais. Agora, lá estava ele, despedindo-se de um homem velho de barba grisalha.

Ao seu lado, uma versão mais nova, porém mais agradável de se olhar, observava distraído o céu límpido. Era Guthrum, seu irmão. Vestia-se como um nobre de Skald, seus cabelos presos eram negros e atingiam a cintura, que portava uma bainha de uma espada longa.

Aparentava ter a minha idade, e só o fato de ser fisicamente de maneira oposta ao irmão, me fez ter afeição imediata por ele. Bastava saber se esse Tarl era mais hábil com uma espada ou com um livro.

Lothrum apertou a mão direita do desconhecido e pôs a mão esquerda em seu ombro. Foi então, que eu lembrei dele agarrando o pescoço do Submisso, incendiando sua cabeça logo depois.

Não sei dizer se aquilo que ele fez era magia, mas em breve chegaria o momento de confrontá-lo e obter respostas.

Após o adeus de Lothrum e sua descida até o ilfer pela escada, o gigantesco navio partiu. Aproveitaram o vento favorável e usaram as três velas brancas, com o símbolo de seu reino: duas corujas marrom encarando-se, uma segurando uma espada, e a outra uma pena.

Fiquei decepcionado por não serem Altairt de verdade, os cavaleiros alvos que causavam temor nos submissos. Porém, me senti grato pela ajuda na batalha que valia a minha vida.

Gratidão esta, que ocultei e esmaguei no recanto mais sombrio da minha alma. Pois, para alcançar meus objetivos, eu teria que perder minha humanidade, assim como Segredo me advertira a não fazer.

Despedidas feitas, remos chapinharam na água da maré vazante. Três embarcações foram empurradas para dentro da caverna, e meu coração se apertou.

Foi tenebroso voltar ao lugar onde os piores dias da minha vida se iniciaram. Certo que não havia mais barricadas de madeira e lâminas de arremesso. Apenas archotes fixos nas paredes. Mesmo assim, meus olhos vagaram por todo o salão de pedra, como que a procura de inimigos.

Atracamos, pisei com segurança na terra firme, e meus filhos correram os degraus de pedra fortaleza à dentro. Muito acima, na entrada, uma silhueta feminina de cabelo ruivo surgiu no umbral que dava acesso a construção.

"Você possui quantas vidas, Kjar... ou melhor dizendo, Ivarr?" indagou uma voz doce e nostálgica.

"Eu fiz uma pergunta parecida," disse Cenwulf, pulando do ilfer.

Eu sorri.

"É bom vê-la novamente, Nasty," respondi. "Da ultima vez que estávamos juntos, acredito que eu tenha salvado sua pele de um grande problema."

Ela desceu os degraus e pôs-se a um palmo do meu rosto. Não envelhecera um dia sequer, e continuava esguia, sedutora e masculina como sempre. Não chegava a ser mais bela do que Segredo, mas, na realidade, nenhuma mulher será. Nem minha inesquecível Enya...

Confissões de um Rei - ConquistaWhere stories live. Discover now