- Vi... - Contive suas mãos a impedindo que continuasse com a massagem e me virei de frente pra ela. Respirei fundo como se precisasse guardar todo o oxigênio da vida em meu peito, voltei a segurar suas mãos que agora estão sobre os seus joelhos e então falei.

- Eu sou casada. Não! Eu fui. Eu fui casada. - Prontamente a expressão de Vitória mudou, ela movimentou os lábios tentando falar algo mas não conseguiu completar, franziu levemente o cenho e um olhar confuso surgiu fazendo com que todo o meu nervosismo aumentasse. Que Merda! Ela nunca vai entender. - Eu fui casada Vitória.

- Tu o quê? Eu acho que não estou te entendendo.. - Ela realmente está alheia em meio a toda essa confusão que é a minha vida, e como Bárbara mesmo disse ela estava entrando em um barco furado sem ao menos saber o que já havia se passado ali.

Assim como eu, ela também tenta controlar todas as emoções que nos atingem sem a menor piedade, mas agora que já comecei não posso mais parar. Eu preciso que tudo isso acabe logo, o meu corpo já não aguenta mais toda essa repressão e é necessário colocar um ponto final na história que foi escrita por Maicon, e para que isso realmente aconteça contar tudo a Vitória é primordial. 

- Legalmente eu sou casada! - Assim que me ouviu, suas mãos que até o momento me passavam total segurança enquanto seguravam as minhas, perdeu a força. Seus dedos se desvencilharam dos meus e a todo custo eu tentava decifrar o que aquele olhar que estava fixo em mim, me dizia.  Tudo o que eu mais queria nesse exato momento era poder saber o que está se passando na sua cabeça, só o elevar rápido do seu peito era nítido e Vitória por mais que possa parecer, não é nem um pouco previsível, todos os dias é sempre uma nova descoberta e apesar de ser muito transparente e de se saber muito fácil, ela vem com uma caixinha de surpresas no bolso.

- Tu não pode tá falando sério. Como assim é casada? Tu nunca falou nada sobre isso Ninha.. - Sua respiração começou a falhar e por isso ela precisou respirar um pouco mais forte elevando ainda mais rápido o  peito, é tão nítida toda a sua hesitação e não saber o que esperar dela é ainda mais  torturante.   

- Eu sei, Vi. Eu sei que nunca falei nada, mas...

- E então por que não falou? - Vitória me interrompeu e seu tom de voz começou a ficar um pouco agitado e apreensivo  - Nos vemos e nos falamos quase todos os dias Ninha! Nós viajamos juntas, passamos um fim de semana inteiro uma ao lado da outra e em nenhum momento tu falou nada sobre um casamento. Por que? Por que não falar Ninha? Qual o mistério? - Levantando rápido do sofá, ela se afastou um pouco, ficou parada de costas para mim e passou as mãos pelos cachos na tentativa de buscar algum entendimento para toda essa confusão, ou talvez estivesse apenas procurando as palavras certas para usar ao dizer que sou uma completa idiota que a decepcionou. 

- Eu tive medo! - Já passou da hora de ser mais honesta comigo e com ela. No começo foi só uma tática de esquecimento, mas depois eu passei a omitir por medo, puro medo de perder aquilo que estava me fazendo tão bem, medo de deixar escapar alguém que se fez presente e que mesmo sem ter noção disso, floriu todos os meus muros. - Você precisa acreditar em mim Vitória. Você precisa me ouvir, por favor!

- Medo? Medo de quê? 

- E você acha que foi fácil? Eu tentei te falar, eu juro que tentei falar, mas não sabia como. Na verdade eu ainda não sei como fazer isso sem que o medo de te perder me invada. Vitória... - O choro preso em minha garganta está me sufocando cada vez mais, minha voz falha, minha respiração pesada demais e eu só consigo sentir o meu coração se despedaçar novamente, só que dessa vez com muito mais intensidade. - Me escuta, por favor! - Levantei e me coloquei em sua frente. Ela continua estática, séria, com os olhos marejados, fitando o nada, lutando contra o seu próprio corpo e tudo o que eu mais queria nesse momento é poder senti-lá, era poder abraçá-la para assim abraçar o que me falta e dizer que realmente eu fui uma idiota por não ter contado tudo antes e ter deixado tudo chegar onde chegou.

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