Capítulo Único

1.5K 161 37
                                    

Notas da autora

Olá, essa é a primeira fic que eu posto na vida. Tenho várias que comecei e não terminei ainda, todas Yaoi (Homem X Homem), como essa, portanto, se não gosta do gênero, não leia! Pode conter Spoilers sobre a série, então já estou avisando...

....................

Quando nos conhecemos, minha primeira impressão dele não foi a das melhores. O achei simplesmente uma pessoa arrogante e insensível que gostava de mandar e humilhar as pessoas. Ele era filho do Rei de Camelot, amado e temido como um dos melhores e maiores cavaleiros que já passaram pelo reino. Eu tenho de admitir agora, seu manejo com a espada era até invejável quando se via de longe. Eu não gostaria de ser um dos loucos que provaram de suas habilidades.

Por conta de um simples incidente, acabei por salvar sua vida em frente ao Rei, e tive de aprender a viver como seu servo antes de ganhar um lugar em sua lista de amigos. Foi difícil, confesso. Arthur não era uma pessoa simples de se conviver, seu temperamento era forte e eu poderia descrevê-lo como orgulhoso e incrivelmente teimoso. Se recusava a dizer o que sentia, mas era tão fácil de se ler como um livro com figuras. Ele se importava com todos, sem se importar que fosse o herdeiro do trono e tratava aqueles que mereciam com gentileza e respeito. A partir daí, ao conhece-lo melhor, comecei a admira-lo.

"Dois lados da mesma moeda." Era o que nos definia. Fomos feitos um para o outro de um jeito que me assustava e aquecia. Nos completavamos de formar diferentes e por mais que ele negasse, era visível. Eu pensava nele quando fechava meus olhos à noite e quando os abria pela manhã, imaginando se precisava de mim ou o que iria aprontar daquela vez. Em segredo.

Eu gostava do jeito que ele desafiava o pai quando algo que lhe era importante estava em jogo, seu jeito nobre de se sacrificar pelos que gostava, ou então a forma como nunca me deixava para trás. Eu era necessário em sua vida e via isso através de seus atos, mesmo que inconscientes. Isso ainda me machuca.

O acompanhei em cada loucura, o protegi sem seu conhecimento, o admirei de longe e me tornei sua outra metade. Cuidávamos um do outro de forma mútua e não pedíamos nada em troca. Conversamos sobre assuntos particulares e nossos temores mais profundos, compartilhamos as risadas e as maldosas lágrimas de alegria e de tristeza. E a cada novo dia, meu coração desamparado e solitário era preenchido por gratidão e algo que demorei para descobrir o que era, esse último, mantive em segredo até de mim e não me permiti contar a ninguém.

Me sufoquei cada vez que olhei para seu rosto, prestes a contar o segundo maior segredo da minha vida, e acabei por não fazer, temendo que ele pudesse me odiar. Eu não suportaria a ideia de perde-lo por algo que não escolhi, uma parte de mim que aprendi a amar. Só de pensar em ficar longe de seus olhos, meu peito se apertava em uma angústia persistente e dolorosa, tanto que precisava ter certeza de que ele estava realmente ali, ao meu lado.

Sofri por cada ferimento como se fosse o meu. Sorri como se a felicidade fosse minha e dividi suas dores, assim como ele fez comigo por tantas e tantas vezes. Me prendi a ele como quem se prende à sua fonte de vida, seu ar e seu suspiro. Meu coração batia em compasso com o seu, meus passos o seguiam aonde quer que fosse.

Os anos que passei ao seu lado foram os melhores e piores da minha vida. As aventuras que tivemos foram tantas que até me perco em lembrá-las. Me assustei com as lutas e torci por ele de longe, guardando suas costas e mantendo-o seguro às escondidas. Me pegava olhando seus sorrisos e espelhando seus olhos brilhantes e corajosos sem perceber, ou sorrindo por bobeiras que saiam de seus lábios. Tê-lo ao meu lado era meu tudo.

Eu o amei em segredo por todos esses anos, e ainda amo, tenho certeza. Às vezes sonho com ele durante a noite, quando finalmente me permito relaxar mesmo sabendo que vou acordar sem ar, ferido pela cruel realidade do mundo. Ouço sua voz me chamando quando me perco em pensamentos, ou sinto seus toques nos ombros para me animar. Sua risada ecoa pelos meus ouvidos quando me pego chorando, cansado e perdido.

Eu o amei em segredo por todos esses anos, e naquela noite, quando o vi deitado no chão, sangrando, meu coração se quebrou. O segurei com todas as minhas forças e rezei para que o destino não o levasse de mim. Fiquei ao lado de seu corpo inconsciente e desejei trocar de lugar com Arthur, porque viver sem ele era o mesmo que estar morto. Contei então meu segundo maior segredo, libertei um lado que escondi de suas vistas por tanto tempo. Claro que ele ficou chateado, e um arrependimento momentâneo se abateu sobre mim ao perceber que ele nunca me abandonaria ou pediria que eu mudasse.

Eu o apertei contra o peito quando ele me pediu para abraça-lo. Senti minha garganta fechando quando ele me agradeceu, a mão que me tocava amolecendo. Supliquei que ele continuasse comigo, que não me deixasse. Suas íris perderam o brilho que eu tanto aprendi a amar, sua boca ficou tão pálida quanto seu rosto. Vi seus olhos fechando e dei com ele seu último suspiro. Foi a última fez que eu respirei. O embalei por minutos, segurando seu rosto junto ao meu e dizendo seu nome até que a voz não saísse mais. Eu só queria ver e ouvir ele respondendo, pedindo para eu arrumar suas coisas ou o acompanhar em sua jornada. Mas ele nunca me respondeu.

Perdi o sentido da minha vida naquele dia. Doeu tanto vê-lo partir que não consegui impedir os gritos mudos que deixaram minha garganta seca. As lembranças de quem ele foi me machucam, e ao mesmo tempo me mantém firme. Ando perdido pelo mundo sem ter um verdadeiro propósito, esperando pelo momento em que ele vai voltar.

Minha outra metade desapareceu. Eu o amei em segredo por todos esses anos, e agora ele se foi.

Em segredoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora