CAPÍTULO 4 - BASTIDORES DA PÁTRIA

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            Pelo menos Iore era uma mulher conservada

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Pelo menos Iore era uma mulher conservada. Batia à porta dos cinquenta anos, mas seu rosto tinha feições vigorosas. Os seios não estavam tão abatidos, o abdome ainda era mais firme do que frouxo e ela tinha tanta energia para o sexo quanto o rapaz que agora rolava para seu lado, arfante. Apoiando o travesseiro no espaldar da cama, ela se sentou. O cobertor escorregou de seu tronco, fazendo fronteira na altura dos quadris enquanto ela se inclinava para pegar um cigarro no criado-mudo.

Briel, ainda deitado, a observou de baixo: a pele dela brilhava de suor à luz daquela noite quente de primavera, para a qual ela olhava pela porta da varanda. Os cabelos crespos de Iore eram curtos demais. Ele não podia deixar de pensar nos cabelos longos de Kristina, que ela cultivara com tanto cuidado e admiração até eles alcançarem, secos, a linha do início de suas nádegas.

Briel fechou os olhos. No vazio, surgiu o espectro de uma Kristina sorridente, jovem, delicada em seu corpo magro e vigoroso, tentadora em seus ombros retos e sua clavícula saliente. Não tinha muito peito nem muita bunda nem muita coxa, mas ele gostava do corpo dela do jeito que era. Já a tinha visto de biquíni várias vezes, quando os dois passavam horas na piscina da casa de um ou de outro, ou quando iam às cachoeiras de Almar ou às praias de cidades vizinhas.

De repente, um movimento ao seu lado interrompeu o devaneio. Iore sacudia as cinzas do cigarro no cinzeiro dourado sobre o criado-mudo. Erguendo-se para se sentar, Briel perguntou:

— Como foi seu dia, amor?

— Eu passei no SIK — respondeu ela, referindo-se ao Serviço de Inteligência de Kailan. — Fui resolver alguns contratos com a Horizonte sobre material, que eles estão em processo de atualização. E você, como foi seu dia?

— O de sempre. No fim do dia o pessoal me chamou pro sítio do Gerente de Negócios. Vai ter uma festa lá.

— Você vai?

— Não, eu combinei com você.

— A gente tem a opção de descombinar. Até porque tem tempo que você não sai com seus colegas. E se eles começarem a desconfiar?

Briel a beijou.

— Ninguém tá desconfiando de nada, amor. Além disso, eu prefiro ficar aqui com você do que sair com eles... Ou você quer que eu vá?

— Eu quero o dia de amanhã pra mim — disse ela sem rodeios, acariciando a nuca de Briel. O coração dele acelerou. Por quê?! queria perguntar. Mas não podia mostrar insegurança. Já o fizera uma vez e vira que não dava certo. Não podia mostrar medo. Lidar com Iore Eston era como um jogo.

— Beleza — disse ele. — Você manda.

A primeira impressão que Briel tivera de Iore era de uma doida, solitária, que queria um garoto para impressionar em troca de sexo. Depois achou que ela simplesmente não se importasse com nada. A verdade é que, quanto mais eles se encontravam, mais ele aprendia sobre ela. Era esperta, confiante. Controladora. Não à toa estava à frente da maior empresa do país. E queria mais do que um garoto impressionável, porém menos do que um homem com quem ter um relacionamento sério. Briel tentava ser esse meio-termo, mas era um trabalho cheio de incertezas.

— Eu tenho uma notícia pra você — disse ela. — Consegui o cargo que você queria.

— Sério?!

— Seríssimo. Você vai trabalhar no Palácio Presidencial, na mesma função.

— Nossa, isso é perfeito! Uau... Obrigado. Eu sabia que você ia conseguir.

— Eu também — disse ela, dando um trago profundo no cigarro.

Briel a beijou, começando pelo pescoço e descendo.

— Finalmente conseguiu a Sala de Operações do Palácio — disse Iore. Briel preferiu se manter ocupado. — O que quer que você esteja tramando, deve ser grande.

Briel interrompeu as carícias e deitou ao lado de Iore, virado para ela. Mordeu os lábios com medo de que tremessem. Estava em uma situação sensível agora. Talvez fosse melhor ficar na defensiva.

— O quê?

— Eu não nasci ontem, Briel. A quantidade de gente ambiciosa que eu já conheci é maior do que a quantidade de gente que você já conheceu.

— Todas as pessoas são ambiciosas. — Ele falava devagar, pensando em cada palavra, equilibrando-se na corda bamba. — Só que algumas sabem chegar onde querem, outras não. Quem não sabe passa a vida toda sendo operário de chão de fábrica. Quem sabe vira uma Iore Eston ou um Marechal Sarto.

Ela sorriu.

— Então você quer ser uma Iore Eston ou um Marechal Sarto?

— Seria ousado demais sonhar tão alto. Não... — Ele pensava em qual papel faria agora. Insistiria no amante apaixonado? Tentaria um interesseiro assumido? Desde que entrara naquele projeto, sua vida passara a ser uma eterna performance. — Eu realmente gosto de você, amor. E, não vou mentir, também gosto muito do que você tem feito por mim. Meus planos pra vida são os mesmos de qualquer cara normal: sucesso, dinheiro, amigos, amores. Todas as minhas atitudes, todas as minhas escolhas, correm na direção dessas coisas. Dessas quatro coisas juntas. Se eu tô tramando alguma coisa, é minha felicidade.

— Então você se vê como o tipo que sabe chegar onde quer. 

— Eu espero ser esse tipo. Mas o lugar onde eu acho suficiente chegar é menos do que onde você ou o Marechal Sarto chegaram.

— Por que você coloca o Marechal na conversa? Você acha que eu e ele temos muita coisa em comum?

— Os dois estão no topo desse país há anos. E provavelmente vão ficar por muito mais tempo.

Ela ajeitou o travesseiro e se virou para cima. Então, disse:

— Que assim seja pra mim.

— Que assim seja pra você... E pra ele.

Ao ouvir as últimas palavras, Iore ergueu as sobrancelhas em uma feição debochada.

— Não? — disse Briel. Respirou fundo, tentando impedir seu coração de acelerar tanto. Estava aprendendo mais uma coisa sobre aquela mulher, e era uma coisa positiva e inesperada.

— Eu sou uma cidadã, Briel. Tenho minhas opiniões como cidadã. Mas antes de tudo sou uma empresária, e o governo é meu maior consumidor.

— Eu não sabia que era assim. Quer dizer, achei que todo mundo que trabalhava com o governo era politicamente favorável a ele — mentiu. Ele próprio trabalharia para o governo na nova função e não podia estar mais longe de ser um apoiador de Sarto.

— "Politicamente favorável" é coisa de gente pequena. A política não é nada além de negócios.

Briel deu um sorriso. Sentia que Iore estava cada vez mais do seu lado. Ela seria uma ferramenta essencial para seus objetivos. Ele só precisava continuar falando o que ela queria ouvir.

— Uau. Esse é o pensamento de alguém que definitivamente merece ter chegado onde chegou.

— Você deveria pensar assim também. — Ela puxou Briel pelo quadril, colando seus corpos novamente. — Eu acho que você tem potencial, sabia?

E os dois continuaram aquela noite.






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