CAPÍTULO 2 - AMIGO DE LONGA DATA

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- Eu acho que você tem muita chance de ganhar - disse ela.

- Seria bom.

O Briel de antes nunca responderia aquilo. O Briel-melhor-amigo-de-Kristina não acharia "bom" de jeito nenhum.

- Você tá tão contraditório - disse ela. - E pensar que antes você era tão firme nos seus ideais.

- Antes quando?

- Então... Tá, eu nunca te disse isso porque eu não achava muito conveniente... mas você mudou muito. Desde quando começou a namorar.

Ele riu brevemente.

- Mudei? Em que sentido?

- Sei lá, você tá sempre ocupado e sempre parece que tá com a mente em outro lugar e às vezes você faz coisas inesperadas, tipo entrar nesse concurso.

- Isso é normal, Kris. Quando você namorou o Dilan você também ficava assim.

- Mas eu era idiota e sem personalidade.

- E se eu também for idiota e sem personalidade?

- Você tem vinte anos, eu tinha quinze e dezesseis.

- Tá bom, tá bom. Mas, de qualquer jeito, não foi a Lorena que me fez querer entrar no concurso. Foi decisão minha, e você tem razão: eu devia ter te contado. Foi mal.

- Tá - disse ela, apesar de não estar conformada. O namoro de Briel influenciava, sim, as ações dele, de um modo diferente e pior do que como o namoro com Dilan influenciava as ações de Kristina. Porém, ela não discutiria mais. Mesmo com oito anos de amizade, nunca precisara conversar com Briel sobre um relacionamento dele, já que ele nunca tivera um antes. Era estranho passar por um diálogo assim agora. O incômodo era ainda maior por Lorena ter vinte e seis anos. Parecia que a diferença de idade entre Kristina e Briel era muito maior do que na realidade.

Ela mudou de assunto:

- Briel, sabe quem foi lá em casa hoje? O Keiton.

E contou sobre a transferência do primo, sobre a reação de Laisa e principalmente sobre a frieza do momento.

- Que babaca - concluiu Briel. Porém, antes que continuasse, seu olhar se fixou em algo atrás de Kristina.

Ela se virou. Dentre a onda de pessoas que entravam pelo corredor do Pavilhão C, três se aproximaram. Briel ostentou um sorriso largo e exclamou:

- Isa! Você não disse que não ia vir?

Ele contornou a mesa para abraçar a irmã, enquanto Kristina cumprimentava os pais dele. A mãe carregava uma variedade de bolsas de compras. O pai levava poucas, em seu braço bom, pois não podia sustentar peso por muito tempo no braço mecânico.

- Eu disse que provavelmente não daria - respondeu Isabela, afastando do rosto uma das inúmeras tranças que formavam seu penteado -, mas aí eu arrumei um jeito, porque eu não podia perder seu momento. Eu consegui adiantar uns serviços lá na empresa, e tal. Quer dizer que finalmente você vai dar um paradeiro pra esse projeto, hein. Eu tô torcendo por você, Bri! E você, Kris, como tá? - Ela abriu os braços.

- Bem - disse Kristina, abraçando-a. Isabela se dirigiu ao irmão mais uma vez:

- E a namorada, Bri, não veio não?

- Não deu - disse ele.

- Ah, é por isso que eu não curto namoro a distância: a gente quer fazer alguma coisa e não pode porque não tem como ir pros lugares. Ainda mais ela sendo do Coração. Tem uma distância boa pra cá. Namoro, pra mim, é ficar pertinho. Eu já falei que você tá dando mole. Mas eu sei como é o sentimento: é complicado.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOWhere stories live. Discover now