Recompensa

2.6K 458 70
                                    

O diretor me encaminhou para a enfermaria. Disse que não queria sangue no carpete novo. Depois de alguns pontos na perna, andei devagar até a sala do diretor. Nos corredores os alunos me encaravam e sussurravam. Pensei que vencer Rodrigo faria eu me sentir bem, e eu me sentia, mas eu o havia humilhado na frente de todos. E provavelmente lhe havia quebrado o nariz. Sorri de satisfação ao pensar nisso. Mas havia algo em mim que me incomodava.

Era algo que minha mãe dissera.

Quando eu tinha dez anos, estava brincando com outras crianças com minha bola nova. Ela era incrível. Eu havia economizado minhas moedas do sorvete e agora estava com ela. Foi então que uns garotos mais velhos chegaram e tomaram minha bola. Começaram a zombar de mim e das outras crianças e disseram que era a vez deles de brincar. Eles começaram a chutar minha bola com força, até que a jogaram por cima de um muro alto coberto por pedaços grandes de vidro. Antes mesmo de achar minha bola, eu sabia o que havia lhe acontecido. Ela estava furada. Fiquei furiosa com os meninos mais velhos e fui contar para minha mãe. Ela me ouviu e secou minhas lágrimas. Então disse que falaria com a mãe dos meninos.

Eles eram nossos vizinhos. Vi pela janela de nossa casa quando ela bateu à porta da vizinha. A mulher era grosseira e falava alto. Minha mãe sorria e falava com calma. A mulher gritou que não se importava e bateu a porta. Mamãe voltou e corri ao encontro dela. Não éramos ricas, e eu sabia que mamãe não poderia me dar outra bola daquela tão cedo. E a vizinha também não restituiria minha perda.

Fiquei furiosa com aquilo, e em meio às lágrimas, desejei que algo ruim acontecesse com eles. Que eles também perdessem algo importante. Mas minha mãe disse:

- Luana, quando devolvemos o mal com mal, só tem mais sofrimento. Mas quando você devolver o mal com bem, coisas boas virão para você.

Eu devolvi todo o mal que me fizeram com mais mal. Aquilo me incomodava porque apesar de tudo o que diziam sobre minha mãe, como ela era desertora e fraca, eu sempre a vi tão forte. E suas palavras transpiravam confiança e força. E uma sensação de estar fazendo o correto.

Mas depois de todo esse tempo, eu já devia saber que nesse mundo, era o mais forte quem vencia. Desprezei os pensamentos de minha mãe e me concentrei em não ser expulsa da academia antes de chegar ao exército do General.

Cheguei à sala do diretor e sua secretária olhou para mim. Ela tinha um dragão na testa, assim como o diretor. Ela apertou um botão do telefone, e com o aparelho no ouvido disse:

- A garota está aqui.

Ordens vieram do outro lado da linha.

- Claro senhor.

Ela depositou o aparelho sobre a mesa, levantou-se e abriu a porta.

- O diretor irá vê-la agora.

- Obrigada.

Entrei pela porta. A secretária logo a fechou. A sala do diretor era cinza e azul escuro. Os moveis eram acinzentados e as janelas eram estreitas e compridas. Sua mesa ficava à frente destas janelas, e ele escrevia em um papel. Quando ergueu a cabeça, o dragão cintilou.


- Luana! Sente.


- Obrigada.


Sentei-me à sua frente. Sua voz era bem humorada.

- Suponho que saiba o porquê de estar aqui.

- Imagino que pelo descumprimento da regra dos duelos, senhor.

Ele riu.

- Não, claro que não. Mas realmente não deveria ter feito aquilo. Bom, sua petição, certo? Até onde sei quer entrar para o exército do General.

Meu coração bateu mais forte.

- Sei que conhece os métodos do General. E, bom, dado seu histórico familiar, temos observado você. Sua rotina isolada, seu comportamento... Enfim. Tudo foi determinado e monitorado.

- Determinado?

- Sim. Veja meu, Luana. Sua mãe era influente, principalmente em sua vida. Sua deserção e seu comportamento, ao permanecer, não passaram despercebidos. O próprio General a notou. E me encaminhou uma carta. Queria que você fosse aceita aqui, mas deveríamos agir como se você fosse um... Problema. Seus colegas deveriam ser manipulados a te isolarem e insultarem, e se você reagisse conforme o General esperava se toraria forte.

Conforme o esperado?

- E devo admitir que você nos surpreendeu. Estará se formando no ensino regular mais cedo que todos os seus colegas e ainda os superou em suas habilidades, conforme vimos hoje.

- Senhor, quanto à hoje... Agi em minha defesa. Ele já havia caído, mas levantou novamente.

Agora eu estava fazendo outra coisa que minha mãe não gostava: estava justificando um comportamento "errado".

- Bem, quanto a isso, ele agiu conforme ensinamos. Não há limites em uma guerra. Além disso, sabemos que você queria humilhá-lo. E conseguiu.

Senti um arrepio. Não era para aquilo ser tão óbvio. Mas era o que eu desejava, não era?

- Ele foi o que mais a atormentou nos últimos anos. Duelar com ele não apenas a colocou como superior, você o fez para descontar todas as humilhações. Queria que ele sentisse o mesmo que você, mas de uma forma pior. Por isso lhe marcou o rosto. Queria que ele se lembrasse desse momento todos os dias de sua vida.

Embora meu rosto não transmitisse agora eu me sentia mal. Eu não devia ter agido daquela forma. Mas era o que eu queria. A regra do mais forte, certo?

Ele observava alguns papéis.

- Além disso, se mostrou disciplinada, paciente, fria e calculista. São as características que o General disse que você deveria desenvolver para entrar para o exército.

Fiz que sim com a cabeça.

- E teve um ferimento mínimo, não foi? Conseguiu sair quase ilesa. Esperávamos que se machucasse mais. Isso também foi surpreendente. Ah! Claro. Seu... Treinador. Ele a estava vigiando da arquibancada. Ele fez algumas anotações a seu respeito.

Puxou uma folha e começou a ler.

- Assertiva, utilizou-se de técnicas que ensinei no treinamento, postura quase perfeita, agilidade para desviar dos golpes, tática... Enfim, você nos surpreendeu Luana. Menos ao General. Ele não esperava menos de você. Pelo contrário, ele descreveu exatamente o que você se tornaria.

Eu sabia que o General era habilidoso, mas prever todo meu comportamento era sério? Como era possível?

- Bem, Luana. Quero que vá para seu quarto agora. Arrume suas coisas. Seu orientador estará em sua porta em cerca de três horas. Apronte-se até lá. Você deixará o Campus 1 hoje e será levada ao Campus 6. Agora você servirá diretamente ao General em seu exército.






Boa tarde, Leitores!!

Esse será meu presentinho de ano novo para vocês. Agora só devo postar depois do dia 02, mas prometo que a demora valerá a pena.

E o que acharam do destino da Luana?

Deixem suas estrelinhas e seus comentários. Vocês me ajudam muito na hora de escrever.

Se quiserem manter mais contato, sigam meu twitter @londonworb

Abraços e feliz ano novo!!!

A Guerra dos Mundos Where stories live. Discover now