A luta

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Minha mãe dizia que os nomes trazem impacto sobre seus portadores. Meu nome significa raio de sol. Nunca consegui entender onde um raio de sol faria diferença. Mas ela costumava dizer que um nome deveria transmitir coisas boas. Mamãe me deu um nome que eu nunca entendi.

Ela era simpatizante dos rebeldes quando eu nasci, mas depois voltou para nosso reino. As pessoas não pareciam se importar muito com meu nome, mas os encarregados de alguma Potestade às vezes faziam caretas ou debochavam disso.

- Raio de sol? Quer ser luz ou trevas, menina?

Sempre ignorei as insinuações. Todos sabiam que a verdadeira luz provinha do General.

Eu estava na última aula do dia. História. Estudamos guerras que ocorreram no último século, e não pude deixar de comparar com aquela a batalha em que eu desejava lutar. E o comportamento dos homens era depressivo. Estávamos enfrentando uma guerra tão importante pela liberdade da humanidade e os homens se matavam por glória e poder. Era patético. Os mais fracos, como eram chamados, não se importavam com as questões que envolviam as Potestades e o General. Minha mãe dizia que eles eram os que corriam atrás do vento, preferindo ganhar o mundo e perdendo a alma. E já que eles não prestavam serviços ao General que fossem satisfatórios, não seriam levados ao santuário de descanso. Portanto, nunca voltariam.

O sinal da Academia soou. Um longo som de alarme, sem emoção. Na academia, usávamos o uniforme tradicional. Calças, moletom e tênis pretos, blusa cinza. Meus cabelos eram longos e pretos. Estavam presos em um coque. Nossas adagas ficavam nas mochilas. Não tínhamos permissão de usá-las fora das aulas de combate. Coloquei os livros na bolsa e sai da sala.

Minha fama de misericordiosa me rendera a reputação de fraca. Mas a verdade era que ninguém queria se associar à filha de uma desertora. Isso fez com que eu precisasse me dedicar muito mais em meus estudos. Com meu esforço, consegui pular dois anos de ensino regular da Academia. Segui para o refeitório do Campus 1, o campus onde eu estudava e morava. Depois que minha mãe fugiu, fiquei com minha tia. Ela ficara desgostosa com a decisão da minha mãe, assim como todos os outros da família e do meu bairro. E da cidade. E eu era muito parecida fisicamente com ela. Chegar até o último ano da Academia no ensino regular até os 18 anos foi difícil, mas eu precisava mostrar meu valor se quisesse servir no exército do General.

O refeitório estava cheio como sempre. Caminhei até a fila para pegar minha refeição. Era carne assada com purê de batatas e uma coisa verde que ignorei. Assim que coloquei o prato na bandeja, um dos meus colegas começou:

- Eu não sei vocês, mas quero lutar com a Luana no exame final. Ela vai ser tão boazinha que vai ser fácil vencer.

Todos riam. Eu ignorava. Concentrava minhas forças em estudar mais, treinar mais e sair daquele lugar o quanto antes. Houve algumas vezes que revidei, mas os superiores não queriam sujeira nos corredores. Apenas na arena.

- Isso se ela chegar no dia do exame! Duvido que consiga.

- Cuidado! Ela pode usar um raio de sol para cegar você, Rodrigo!

Eles riam e se divertiam, mas era claro que eu conseguiria. Eu tinha as notas mais altas da turma. Em breve eu seria exaltada e não eles. Por hora, não valia a pena perder tempo com isso. As regras da Academia sobre brigas eram claras. As brigas só eram permitidas dentro da arena, a área de combate. Além disso, todas as vezes que revidei, eles levaram a melhor. Eles eram vários, eu uma.

Ninguém quis dividir o quarto ou sentar comigo nas refeições. E decidi não me importar. E nunca fiz amigos. Os que eu tinha até os doze anos se afastaram de mim. Mas não o General. Ele foi pessoalmente até minha casa no dia que minha mãe fugiu, e me disse que sempre haveria um lugar para mim em seu reino, se eu assim quisesse. Eu aceitei, e disse que entraria para seu exército um dia. Ele sorriu e disse que eu já era. Então ganhei a serpente na mão. Muito antes de qualquer um dos meus colegas.

A Guerra dos Mundos Where stories live. Discover now