O Início

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Eu estava sentada em uma poltrona luxuosa, em uma sala silenciosa iluminada por fontes artificiais. As paredes e o teto eram de um tom azul muito escuro. O chão era de carpete escuro, para que os passos não fizesse ruído. Apenas o som dos dedos finos da secretaria batendo no teclado de vidro do computador era ouvido. Ela estava com roupas sociais pretas e blusa azulada. Usava muitas joias e tinha a almejada tatuagem na testa que só os mais leais do exército do General possuíam. Eu também tinha uma tatuagem, mas não aquela.

No reino dos Homens, todos eram leais ao General e assim levavam essa marca, geralmente em suas mãos direitas. A tatuagem de uma serpente. Ganhei a minha quando era adolescente. Era a primeira marca da nossa liberdade. Depois, poderíamos viver nas cidades ou nos unir ao exército de forças especiais do General, e se você fosse aceito e mostrasse seu valor, ganharia a imagem do dragão. O corpo e a cabeça estavam gravados na testa, mas a cauda descia pela lateral direita do rosto, com pequenas chamas vermelhas e azuis pela bochecha. Toda criança sonhava em ter aquela tatuagem. E conforme sua lealdade fosse provada, maiores patentes são conseguidas e novas tatuagens são feitas. Cada uma delas lhes dava maior autoridade, respeito, privilégios e dinheiro.


Mas como secretaria, ela ainda não tinha muitas patentes. A serpente em minha mão era o nosso símbolo mais modesto. Todos tinham. Era nossa comprovação de que não queríamos ser governados pelo autoritarismo do Pai. Assim, nunca nos tornaríamos um daqueles pobres seguidores de branco.

Ninguém usava branco no reino dos Homens. Não queríamos nos parecer com os Filhos do Pai. E nós, leais ao General, somos chamados de Filhos da Luz. Nós fazemos nossa luz, e também faz lembrança ao nome do General, antes da guerra. Somos proibidos de mencionar esse nome sem estar na presença do General. Mas em breve eu teria um dragão cintilando em minha testa. Era apenas mais um ano entre me formar na Academia e entrar oficialmente para o exército do General. Era por isso que eu estava ali. Meu formulário de requerimento fora chamado. E agora seria minha entrevista. Eles me fariam perguntas e testariam meus conhecimentos adquiridos até aqui na Academia. Vesti minha melhor jaqueta de couro, uma camiseta de algodão cinza, calças jeans e botas. Meu punhal estava preso no cinto.


A secretaria parou de digitar quando uma luz vermelha brilhou duas vezes na parede.
Levantou a cabeça em minha direção:


- O Líder irá recebê-la agora.


Acenei afirmativamente e me encaminhei para o corredor escuro. Havia pouca luz ali, mas estávamos acostumados a isso. Caminhei com passos firmes. Senti a ansiedade tomar conta de mim. Que sensação ótima!


Ao final do corredor, havia uma porta que se abriu pra mim. Entrei e ela logo se fechou. A sala era como os outros lugares na capital da cidade: pouco iluminado e luxuosamente decorado. Paredes de cores escuras, arquivos empilhados desordenadamente nos cantos. Eu podia enxergar bem o Líder no centro da sala. Ele usava camisa, gravata, calça e sapatos sociais. Todos pretos. Seu cabelo era raspado de um dos lados da cabeça, dando espaço às tatuagens. A camisa estava com as mangas dobradas, então era possível ver diversos tipos de árvores, animais ferozes e serpentes, dragões e letras de alfabetos que apenas os que eram como os Generais poderiam ler. Seu pescoço e cabeça também eram cheios de tatuagens, mas a de dragão na testa reluzia com um brilho assustador e incrível.

O Líder à minha frente era um dos líderes imortais do General. Bem, eles envelheciam, mas devagar. Era diferente do rosto dos homens que em poucos anos se enrugava e se tornava duro. Seu rosto, como os de outras Potestades era de expressão dura, franzida, com um brilho maligno nos olhos. As Potestades eram os líderes locais do Reino. Como numa hierarquia. Acima deles estavam os Principados e então vinha o General.

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