Capítulo 27

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Ricardo narrando:

Fazia 1 mês que eu não conseguia mais sair de casa, trabalhava do meu notebook e mandava os arquivos para a empresa. Comia pouco, falava pouco e dormia muito, estava completamente desanimado e com uma vontade absurda de sumir. Fiquei mais aliviado por saber que Márcia não conseguiu um habeas corpus e Victória já estava trabalhando com normalidade. Senti que metade de um peso saiu das minhas costas, porém a outra parte ainda me consumia e tornava tudo ainda mais doloroso. Eu não tinha coragem de olhar nos olhos de Victória após a confirmação que ela me deu, me senti a pessoa mais monstruosa do mundo e ainda me sinto, todos os erros passados só aconteceram por que eu fui covarde demais pra bancar o que sentia e todos se ferraram por isso.

Tudo começa por eu ter rejeitado meu único filho, deixado ele de lado na hora que ele mais precisou de mim e ter virado as costas por razões complemente egoístas, talvez. Ter me envolvido com uma mulher que mal sabia o verdadeiro caráter, que se mostrava doce e compreensiva, e eu tive a coragem de aturar para não me sentir sozinho, novamente egoísta. E por fim, ter dado um corte em Victória logo após seu pai morrer, ter a deixado ir, viver longe de mim, sem poder conectar meus olhos naqueles olhos castanho mel, totalmente decididos. Eu a deixei pois não queria problemas para o meu lado, para manter a pose, novamente egoísta.

Quando paro para pensar, não consigo acreditar no que me tornei após perder a mãe de Guilherme, Luísa, meu primeiro amor. Eu nunca tinha sido um homem tão amargurado e cruel como me tornei, era triste. Mas quando conheci Victória, eu me tornava tão vivo, feliz e completo, que voltava a ser um cara sem nenhum coração partido como antigamente. Ela não era só uma rapidinha, ela era uma noite de amor completo, com beijos leves no final, eu me sentia tão mal por não poder dizer isso à ela.

Agora eu estou aqui, sem ter a mínima vontade de viver, só quero dormir a todo momento e mandar os relatórios que preciso. Além de ter matado meu filho, matei o que minha garota sentia por mim e não tinha nada pior.. não havia motivos para estar feliz mais.

Deitado na cama, ouço a maçaneta da porta se mexer e abrir lentamente. Era Guilherme, com uma expressão preocupada para mim.

- Ah, é você filho.. - falei me ajeitando na cama - como você tá?

- Pai, você mentiu sobre ter ido para o trabalho? - me perguntou sério

- Eu? Mas é claro que nã.. - iria mentir mas fui interrompido

- Eu fui na empresa pai, você está mais de um mês sem ir pra lá.. me contaram! - disse perplexo frazino a testa

- malditos estagiários!.. - sussurrei - e eu não estou afim de trabalhar, sou adulto já..

- Pai, me diz, o que o senhor tem? - perguntou preocupado - conversa comigo

- Não é nada! Eu só quero ficar sozinho.. eu preciso disso - respondi seco

- Mas você está nessa por mais de um mês.. não é possível que.. - dizia mas o interrompi

- EU TÔ TRISTE! EU PERDI O FILHO QUE MAL CHEGUEI A CONHECER E PERDI A MULHER QUE EU AMO! EU PERDI TUDO - apoei minha cabeça nas mãos - até você eu perdi...

- Não.. pai, não, você nunca vai me perder - comentou me abraçando

- Eu fui péssimo com você durante esses três anos, eu te deixei de lado.. eu.. desculpa - o abracei - eu estava com medo, não sabia como reagir

- Pelo menos você agora sabe que errou, mas que está aprendendo com eles e se redimindo, isso que importa - falou limpando minhas lágrimas - mas.. quando você diz a mulher que você ama.. é a Victória?

O Pai do Meu Melhor Amigo  [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora