Diná

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— Diná, pelo amor de Deus! Você precisa se controlar, eu sei que é um momento extremamente difícil, mas você precisa ser forte! É reversível, sair do coma já foi vencer uma batalha. Precisa reagir...

— Não Dra. Deyse... A senhora não tem ideia do que é viver o que eu estou vivendo. Primeiro a separação, agora Ana... Parece que a minha vida simplesmente está indo embora. Tudo que eu mais queria era poder embarcar no primeiro avião para o Brasil.

— Você está decidida voltar?

— Eu não tenho alternativa, os custos desse tratamento aqui são inviáveis pra mim, além do que não posso sair do meu trabalho pra cuidar dela. Assim que ela estiver de alta, partimos... Já arrumei praticamente todas as nossas coisas.

— Ela precisa de mais dias... E viajará sob medicação... É imprescindível que o tratamento continue no Brasil. Sei que existem médicos muito capacitados lá e dará tudo certo. Mesmo assim penso que o mais prudente seria continuar o tratamento aqui.

— Dra. eu estou desesperada! Não estou no meu País, há muito tempo, não estou perto da minha mãe... Estou separada... E só Deus sabe os motivos dessa separação! Eu estou a ponto de explodir... E agora a minha filha está doente  e ... E eu não sei o que fazer para ajudá-la! A senhora entende?

— Eu sinto muito! De verdade. Eu não sei o que tem passado, mas digo pra você,  vai precisar ser muito forte. E mesmo tendo toda a força necessária, mesmo lutando com todas as suas forças, a vitória não será garantida. Não quero iludi-la, quero que você acredite que ela pode conseguir. Mas...

— Mas... - Diná buscou a resposta nos olhos daquela médica que se tornara uma amiga naqueles longos sete dias.

— Mas ela também pode não conseguir e eu lamentaria muito se isso acontecesse...

As duas então se abraçaram e Diná chorou no ombro de alguém como há muito tempo não fazia... Depois a médica saiu deixando-a sentada em uma cadeira com um copo de café em uma das mãos.

Os pensamentos perdidos e o café esfriando... Como vinha sendo de costume... Mas a necessidade de cafeina era tão grande nos últimos dias que não podia se dar ao luxo  de questionar a temperatura.

Caminhou até a janela em passos lentos. Os olhos cansados pareciam quase fechar-se, debruçou-se sobre o beiral da janela. O dia estava cinzento e frio. Diná lembrou-se do primeiro sorriso de Ana... Era algo que jamais esqueceria. Seus olhinhos espertos sempre procurando o som da sua voz. Ela era a alegria daquela casa... Ela era a vida em sua vida. E ela não se importava de não poder alimentá-la com seu seio. Era tão plena sua felicidade que todos os detalhes ficaram pequenos. Todo enxoval preparado com as inicias do seu nome. Nome que fora escolhido cuidadosamente. O vento frio irritava a pele de Diná, mas ela não se importava. Era como se nada mais pudesse feri-la, nada mais do que toda a dor que vinha suportando. Era um inverno congelante dentro dela. Sentia alívio em voltar para o Brasil, mas sabia que travaria uma batalha com Ana, ela ficaria muito zangada. Ficar longe do pai não lhe agradava, aliás era algo que nem passava por sua cabeça.

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