cinco

26 2 0
                                    

"Trantorno desafiador opositivo":segundo a terapeuta do reformatório de Red Rock,eu tinha TDO.Agora estava na sala dela,um lugar escuro,cheio de pôsteres esquisitos que supostamente deveriam inspirar as pessoas.Um deles mostrava um bando de gansos voando em formação e, abaixo,os seguintes dizeres "com um plano nas mãos,você pode ir longe. Egraçado,eu não podia ir longe porque tinham levado minhas roupas e meus sapatos para que eu não fugisse.Estava de pijama e chinelo no meio da tarde.

     Abrindo um livro grande e grosso,que aparentemente continha todos os segredos da mente humana,a mulher foi recitando:

  -"Frequentemente perde o controle das emoções e discute com os pais; desafia acintosamente os adultos,recusando-se a atender solicitações e a obedecer as normas; deliberadamente incomoda as pessoas;culpa os demais pelos próprios erros e faltas;com frequência se mostra irritado,ressentido,maldoso,vingativo......"-Ela se interrompeu e perguntou-E então , soa familiar?

A mulher mais parecia uma colonizadora inglesa recém-chegada do século XVII.Magricela,dava a impressão de que tinha colocado uma cuia na cabeça para cortar os cabelos e , apesar do calor insuportável,usava uma blusa de babados e o colarinho fechado.

Eu estava cuspindo marimbondos,como você deve imaginar.Tinha passado a noite em claro,trancafiada no meu quarto,até que os brutamontes apareceram para me levar até uma enfermeira igualmente parruda.Logo batizei de Helga.Ela confiscou meu ipod e todas as minhas jóias,inclusiveo piercing do umbigo,apesar de eu reclamar que o buraco ia fechar e seria obrigada a furá-lo de novo.Depois de guardá-las num envelope, a mulher ordenou que eu me despisse e ficou esperando,sem nem virar de costas. Calçou luvas de borracha e e apalpou nas axilas e na boca.Depois mandou que eu me inclinasse para que pudesse examinar lá embaixo,tanto na frente quanto atrás.Nunca tinha feito um exame ginecológico na vida.Tamanho foi o meu pavor que comecei a chorar.Helga ne ofereçeu um lenço.Simplesmente continuou a me apalpar,sem dúvida procurando drogas escondidas . MAl sabia que isso nunca tinha sido a minha praia :a maconha me deixa mole e o álcool me faz vomitar.Não,muito obrigada.

De volta ao consultório da Dra.Clayton,a tal terapauta:assim que ela terminou de explicar o que era TDO,eu estava furiosa que nem tive cabeça para argumentar que eu conhecia.Só o que consegui dizer foi:

-Imgino que quem lhe falou tudo isso foi a monstra,minha madrasta.

Ela sorriu e anotou algo na prancheta.

-Deixe-me explicar de um jeito que voce entenda-disse ela.-seu rendimento escolar despencou.Você nunca está em casa. Volta e meia passa a noite fora.E, quando enfim dá as caras,é acolhedora como uma nuvem de tempestade.

-Mentira.Passo a noite fora por causa dos shows.As bandas iniciantes sempre ficam para o final,só começam a toca lá pelas duas da madrugada.A gente ainda tem que guardar a tralha toda e acaba chegando em casa as cinco.Não é que eu passe a noite na farra.

a DraClaton não disse nada,apenas me lançou um olhar de reprovação,igualzinho a monstra,e anatou mais algumas coisas antes de prosseguir na enumeração das minhas supostas transgressões:

-Você trata seu corpo como um muro a ser grafitado.é ríspida com a madrasta,insolente com os professores,pouco carinhosa com o irmão e ,aparentemente,possui feridas abertas com relaçao a mãe.


o que há de estranho em mimWhere stories live. Discover now