dois

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Perto de Las Vegas,papai sugeriu que a gente parasse um pouquinho na cidade.Eu devia ter desconfiado.Quando mamãe ainda estava por aqui,isso era o tipo de coisa que a gente costumava fazer:entrar no carro de uma hora para outra e se mandar para Las Vegas ou para São Francisco.Lembro de uma noite,por causa de uma onda de calor, nenhum de nós conseguia dormir.Lá pela uma da madrugada,já cansados de ficar nos revirando,resolvemos jogar os sacos de dormir na traseira do carro e fomos para as montanhas em busca de uma brisa perfeita.Havia séculos que papai não fazia algo assim,tão maneiro.A monstra o convenceu de que espontaneidade é o mesmo que irresponsabilidade.

Papai me levou para almoçar num daqueles falsos canais venezianos do hotel Bellagio e até sorriu quando zoei os turistas de pochete.Depois me levou para um cassino vagabundo no centro,garantindo que ali ninguém se importaria com minha idade.Ele me deu 20 reais para gastar nos caça-níqueis,e cheguei a pensar que nossa viagem não seria tão ruim.Mas quando olhei para trás e o vi me observando de longe,achei que ele parecia....sei lá.vazio, como se alguém tivesse sugado a alma dele com um aspirador de pó ou algo parecido.Nem comemorou as 35 pratas que ganhei numa rodada,só insistiu em guardar dinheiro na carteira,para que eu não corresse o risco de perdê-lo.De novo,mais um alerta que deixei passar.euzinha,a pateta que após uma eternidade,pensava estar se divertindo com o pai que havia tantos anos andava distante.

Quando saímos de Las Vegas,ele ficou sério e caladão,do mesmo jeito que tinha ficado depois de tudo o que aconteceu com a mamãe.Dava para ver que ele apertava o volante mais que o necessário,e aquela situação estava cada vez mais estranha,mais misteriosa.

Preocupada tentando entender o que estava rolando com o papai,mal percebi que já não estávamos indo para o leste,rumo ao Grand Canyon,mas para o norte, na direção de Utah. Tudo o que dava para ver da janela eram os penhascos cor de ferrugem que podiam muito bem pertencer á passagem do cânion.O sol já começava a se pôr quando saímos da rodovia e entramos numa cidadezinha qualquer;só então me dei conta de que,mais uma vez,íamos passar a noite na estrada.

Á primeira vista, o Red Rock parecia um desses hoteizinhos baratos:um prédio de dois andares em forma de T,com fechada bege de estuque .Só que o local era cercado por arame farpado,não tinha nenhuma piscina á vista e,no terreno ,em vez de árvores havia apenas umas pilhas empoeiradas de blocos de concreto.Para completar,dois brutamontes bizarramente musculosos patrulhavam a área.

-Que lugar é esse?-perguntei,vendo que havia algo podre ali.

-É só uma escola em que eu queria que você desse uma olhada.

-Uma universidade?é isso?não está cedo demais?ainda tenho dois anos de colégio pela frente.

-Não, não é uma universidade.Está mais para um internato.

-Para quem?

-Para você.

-Você quer me mandar para um internato?

-Ninguém está mandando você para lugar nenhum.só quero que você de uma olhada.

-Para quê?A escola começa na semana que vem.A minha escola.lá em........continuem lendo amores.....

o que há de estranho em mimWhere stories live. Discover now