Capítulo 6

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- Posso saber o motivo de seu bom-humor? – Merriam percebeu o brilho nos olhos e o sorriso discreto de Catherine, assim que ela entrou em seu ateliê pela manhã.

- Não é nada. – Catherine pegou uns metros de seda que havia cortado na noite anterior e fingiu medi-lo para não olhar a condessa nos olhos.

- Não finja que não é nada. Pois sei bem o que essa expressão significa. Acho que tive ela em alguns dias quando o conde ainda era um bom marido. – As bochechas de Merriam coraram.

- Eu já disse que não foi nada. – Catherine se atrapalhou e acabou por derrubar alguns carrosséis de linha no chão.

Colocou a seda de lado e foi atrás dos malditos que rolaram por todo o ateliê.

- Viu, não adianta mentir para mim. Acaba se entregando sem ajuda. – Merriam cruzou os braços e torceu os lábios.

- Não tive uma boa noite com o rei. Ele estava bêbada. Mas tive uma noite bem dormida. – Catherine ajeitou os carrosséis no lugar.

- Ah, só isso! – O sorriso desapareceu do rosto da condessa.

- Imaginei que me contaria histórias libidinosas e sem pudor que me deixariam morrendo de inveja.

Catherine gargalhou ao se apoiar sobre a mesa.

- Imaginei que me jugaria como fazem todas as outras senhoras desse castelo. A meretriz que passa noites de luxúria com o rei.

Merriam bufou.

- Quantas vezes precisarei lhe dizer que muitos desses olhares atravessados são de pura inveja? Isso só deixa óbvio que cresceu em um convento. – A condessa olhou para a janela onde vinha o sol suave da manhã e suspirou. – E eu aqui imaginando apenas como seria o belo rei entre minhas pernas.

- Merriam!

- O que foi? Também tenho direito de sonhar.

- Irá para o inferno por luxúria junto comigo.

- Será um lugar agradável em sua presença.

Catherine balanço a cabeça em negativa e pegou um veludo grosso para cortá-lo no molde feito pela condessa.

A conversa a fez pensar na noite anterior, no encontro com o lorde Oxe e na forma como ele havia lhe mostrado uma sensação desconhecida. Não deveria ficar pensando nisso, pois Frederick não lhe oferecia isso e era ao rei que deveria servir. Podia continuar vivendo sem o que Peder provocava. Assim ia se manter viva, confortável e segura.

- Aí! – Deu um gritinho agudo quando cortou o dedo com uma lâmina afiada.

Merriam largou seu bordado de lado e foi ver o que havia acontecido.

- Por Deus, menina! Precisa tomar cuidado. O que direi ao rei se a amante dele perder um de seus preciosos dedos em meu ateliê.

- Não seja tão dramática. – Catherine cobriu o dedo com a outra mão para estancar o sangramento.

- Sente-se ali. – A condessa apontou para uma poltrona ao lado do biombo, usando um tom autoritário que poucas vezes dirigiu a cortesã. – Hoje irá apenas assistir.

- Mas...

- Sente-se lá.

Com um bico enorme a cara emburrada. Catherine cruzou os braços e fez o que lhe foi pedido.

- Peder, ouviu alguma coisa do que eu disse? – Frederick bateu com as duas mãos na mesa tentando chamar a atenção do lorde que nunca lhe pareceu tão aéreo.

A cortesã do rei ( Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora