Capítulo 12

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- Estão me dizendo que vão ficar aqui e assumem os riscos quando Mestre vier? - Robert, um dos comandantes da Associação Ace, a comunidade de Gregory, dizia.

Estávamos em uma sala bem organizada. Haviam quadros nas paredes, fotografias históricas penduradas, poltronas confortáveis e um assoalho de madeira brilhante, parecia que tinha sido encerado pouco antes de chegarmos, e eu me sentia mal de suja-lo com minhas botas com restos de lama.

- Eu assumo os riscos. - Ouço a voz de Josh. Imediatamente olho para ele. - Eu sei que pode ser perigoso, mas Mestre não saberá que estamos aqui, e se souber, eu serei o responsável.

De repente as portas são abertas e vejo Gregory entrar. Seus olhos azuis furiosos, ele estava vermelho, parecia prestes a explodir.

- Eu sei o que querem fazer, e não é justo. - Gregory disse, me lançando um olhar firme, me dando esperança. - Eles me ajudaram, eu sei o que aconteceu mês passado, mas eles provaram serem boas pessoas. Não é justo quererem entregá-los.

Josh levantou abruptamente, aquilo era inacreditável. Eles estavam cogitando isso mesmo?

- Se entregá-los, podem ficar sabendo que terão consequências, o Mestre ficaria sabendo o que aconteceu comigo, e não estaríamos à salvo.

Robert hesitou, olhando alternadamente para Josh e Gregory.

- Estava pensando mesmo em nos entregar para eles? - Josh pergunta.

- Eu estava pensando no bem do meu povo. - Ele respondeu.

- Nós queremos ser parte disso. - Dessa vez, fui eu quem me manifestei. - Queremos nos juntar a sua causa. Queremos ajudar a Associação. Nós fugimos da comunidade, pois aquilo não fazia parte da nossa índole, dos nossos princípios. Não acreditamos que, para sobreviver, precisamos tirar do outro, que precisamos matar o outro. Queremos fazer parte de uma comunidade justa.

Robert respirou fundo, passando uma mão em seu rosto.

- Eu não consigo confiar de cara nisso, mas vou lhes dar um voto de confiança. Um passo em falso e vocês vão embora. - Olhei para Gregory e ele me deu um meio sorriso. - Gregory, mostre o alojamento a eles. Inicialmente será um quarto para os três e não se assustem se encontrarem homens de vigia.

Não seria tão difícil se o tal do alojamento não fosse um pequeno quarto com uma beliche e um banheiro. Coloco minha bolsa no chão e observo o quarto. Havia poeira em uma pequena mesa, uma cadeira a acompanhava e o colchão da beliche parecia tão duro quanto a mesa. Mas estávamos bem. Estávamos livres e poderíamos conquistar a confiança deles e nos mudar para um lugar melhor.

O chão era de azulejos avermelhados e as paredes brancas. haviam arranhões no azulejo, as paredes estavam amareladas e aparentemente algum cano havia estourado, pois havia uma mancha de lodo no teto.

- Podemos transformar esse quarto na nossa casinha dos sonhos. - Jamie disse, se jogando na beliche e logo após se assustando com um estalo vindo dela.

- Cuidado, ou não vamos conseguir dormir uma noite nela. - Digo, ela riu.

- Me desculpem pela falta de generosidade deles. Tem outros quartos maiores, mas acho que deve ser um teste.

- Não se preocupe, é mais do que o suficiente. Era esse quarto ou poderíamos estar dormindo na estrada agora, com aqueles bichos nos rondando. - Josh disse. Olho para ele e me aproximo, segurando sua mão.

Gregory e Jamie trocam olhares e então saem lentamente, mas não o suficiente para que não pudéssemos perceber. Dou um sorriso a ele e logo em seguida senti sua mão em meu rosto.

- Eu disse que iríamos sair de lá.

- Me desculpe por duvidar. - Ele se inclina e beija o topo de minha cabeça. Encosto minha cabeça em seu peito e o abraço forte.

Eu sei que parecia que tínhamos saído fácil, mas algo em mim me dizia para ter cuidado com o que Mestre podia estar planejando.

JAMIE WHITE

Estar sozinha com Gregory era estranho. Eu ainda me sentia culpada por atirar nele, mesmo sem querer. Parecia que minhas desculpas não tinham sido suficientes, e eu tinha que me redimir de alguma forma.

Nós caminhamos por alguns minutos, nem ele e nem eu trocamos sequer uma palavra.

- Gregory... eu...

- É, eu também. - Ele me interrompe. Quis rir, mas tentei me manter.

- Como você sabe o que eu ia dizer? - Pergunto, ainda segurando o riso.

- Porque provavelmente é o que eu sinto também.

- E o que você sente? - Perguntei. Eu não sabia o motivo, mas me senti nervosa.

- Que tem algo faltando, um sentimento de culpa estranho. - Finalmente sorri.

- Eu também me sinto assim. Mas não entendo o motivo de você estar se sentindo assim. Eu quem apertei o gatilho e foi você quem foi atingido.

- É, eu sei, e até hoje sinto um desconforto estranho no peito, mas não teria acontecido se eu não seguisse aquele carro.

- Não adianta por em uma balança, Gregory. - Eu disse, ele me olhou por vários instantes. Foi então que eu percebi que o brilho em seus olhos azuis era diferente, ia além disso.

Minha mente começou a vagar enquanto nos encarávamos. E se não tivéssemos nos encontrado por acaso? E se nós...

- Jamie? - Era a voz de Josh. Imediatamente meus pensamentos são varridos para debaixo do tapete.

- Sim? - Olho para Josh e em seguida para Gregory, eu sentia meu rosto queimar de vergonha.

Será que ele percebeu que eu estava mais do que só o encarando como uma idiota?

- Precisamos arrumar nossas coisas. - Josh chamou. Eu sabia que não havia nada para arrumar e era só um jeito estranho e vergonhoso de Josh me afastar de Gregory. Apesar de Cristal confiar nele, ele continuava sendo um homem.

Quando chegamos no alojamento, Cristal estava sentada tirando algumas coisas de sua bolsa. Nossas armas tinha sido confiscadas e só poderíamos usar em caso de urgência, o que era entendível, mas era notório que ficar longe da arma do pai incomodava Cristal.

De alguma maneira, era assim que ela se sentia próxima a ele.

Sento ao seu lado, ela estava puxando as cutículas de sua unha, era notório que estava ansiosa, então eu segurei sua mão. Ela olhou para mim e sorriu.

Cristal podia ser a pessoa mais dura e fechada que eu já tinha conhecido, mas desde que o relacionamento dela e Josh progrediu, eu sentia que ela queria se abrir, queria fazer parte da nossa família de verdade. E, sinceramente? Eu já a considerava uma irmã.

- Eu sei o que deve estar sentindo. - Eu disse.

- Eu estou bem. - Ela respondeu, mas seus olhos azuis acinzentados diziam outra coisa. Ela parecia angustiada.

- Cristal, se quiser conversar, eu estou aqui. Eu sou sua amiga, na verdade, mais do que isso. - Eu me inclinei e a puxei para um abraço, ela retribuiu. Eu podia sentir o peso daquele abraço, podia sentir que ela não conseguia se abrir, nem comigo, nem mesmo com Josh.

- Obrigada, Jamie. - Ela disse. Eu passei a mão em seus cabelos loiros, eles estavam secos e precisavam de cuidados.

Eu não sabia o que podia fazer por ela, nem mesmo o que ela estava sentindo, mas eu sabia que tudo o que ela precisava era apoio.

A Garota e os ZumbisWhere stories live. Discover now