Capítulo 1

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Como começar?

Bom, tudo aconteceu por uma gripe, as pessoas ficaram doentes, começaram a comer os órgãos umas das outras, ela se espalhou, pelo que eu acho ter sido o mundo inteiro, e agora quase todas as pessoas são canibais.

Sim, chegamos à esse ponto. Onde não temos mais controle, onde não podemos fazer nada e já se passaram anos.
Aquelas coisas não tinham um nome científico, eu os chamava de zumbis pelos filmes que assistia.

Tudo foi muito rápido, os primeiros locais a serem completamente tomados foram hospitais, supermercados, shoppings. Eram locais proibidos para mim. Haviam manadas e manadas que se amontoavam nesses locais, e eu nunca conseguiria sequer despista-los.

A minha história tem duas versões que eu poderia contar e vocês acreditariam na menos provável.

1- A garotinha que não tem coragem de matar uma lagarta, indefesa, inocente e frágil.

2- A garotinha que matou o próprio pai aos 17 anos e deixou a mãe para morrer por um grupo de zumbis.

Sim, eu sei que parece macabro, mas eu prometi ser fiel à mim mesma quando resolvi contar a minha história de apocalipse.

Meu pai foi mordido enquanto fugíamos de mais ou menos 10 zumbis. Não sabíamos nos defender, estávamos assustados com tudo o que estava acontecendo e não tínhamos ideia do quanto era sério.

Foi ali que descobri que bastava apenas uma mordida e já era. Foi ali que percebi que meu mundo tinha despencado e não voltaria mais a ser como era antes.

Mensagens de texto, internet, namoros, ensino médio, cercas brancas, goldens retrievers. Nada disso existia. Não mais.

Eu tive que pegar a arma de sua mão e atirar em sua cabeça enquanto o via se transformar. Tive que ver a dor nos olhos de minha mãe enquanto suas lágrimas escorriam e tive que vê-la ser agarrada por um maldito zumbi. Tudo estava em câmera lenta e eu só consegui ouvir seu grito, me mandando correr. E foi o que eu fiz.

Eu só corri.

Com um revólver do meu pai, com meu coração na goela, com as lágrimas no pescoço.

Tive que aprender a me defender sozinha. As vezes quase falhei, quase desisti, mas eu sempre lembrava que não podia falhar comigo mesma como falhei com meus pais.

Já era madrugada quando resolvi reforçar as fechaduras da igreja onde eu estava abrigada.
Numa busca por qualquer coisa que matasse minha fome, encontrei meia dúzia de zumbis e esgotei todas as minhas energias com eles. Era difícil ser sozinha em momentos como esses, que eram mais do que frequentes.

Deitei na "cama" de papelões e um cobertor que fiz no chão. A hora de dormir ainda era um pesadelo, mas meu corpo precisava.

Todas as vezes eu via o rosto fantasmagórico de minha mãe, me pedindo para me juntar a eles, ou até mesmo via o rosto do meu pai, enquanto uma bala atravessava seu crânio.

Sem perceber, fecho os olhos e durmo.

Acordo assustada, e vejo que já era manhã. Respiro fundo, tentando recuperar o fôlego enquanto levanto. Coloquei um casaco por cima da camiseta que já usava e antes de sair, tranquei bem a igreja.
Era um bom lugar para ser invadido e eu tinha deixado tudo o que ainda restava de mim lá.

Caminhei por cinco minutos até que minha paz acabasse. Vejo cinco zumbis me seguindo. Respiro fundo e seguro minha faca com firmeza.

Afundo minha faca na cabeça do primeiro, o jogo no chão e faço o mesmo com os outros. Vejo que minha faca estava ensopada de uma gosma escura e a limpo nos restos de roupas que um dos zumbis usava.

A Garota e os ZumbisWhere stories live. Discover now